Política

Novos partidos apostam em nomes diferentes para se modernizar e atrair jovens

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05/05/2013

 Os eleitores vão ter cerca de um ano e meio para se acostumar com os nomes de novos partidos que estão sendo criados para participar da corrida eleitoral no ano que vem.

Habituados com siglas sempre começando com a letra P, para indicar que a instituição se tratava de um partido político, os brasileiros agora veem surgir legendas que romperam com a tradição e criaram nomes mais parecidos com os de movimentos sociais.

A criação da Rede Sustentabilidade, partido que está em processo de formação para abarcar a candidatura de Marina Silva à Presidência da República, iniciou a discussão. A ideia do nome é gerar uma identificação com as redes sociais, plataforma bastante utilizada por Marina nas eleições de 2010.

Em seu estatuto, o partido se define como “uma associação de cidadãos e cidadãs dispostos a contribuir voluntária e de forma colaborativa para superar o monopólio partidário da representação política institucional”.

O cientista político da UnB (Universidade de Brasília), João Paulo Peixoto, acredita que a intenção é justamente se desvincular da imagem de partido que, segundo ele, está desgastada. Para o especialista, as novas legendas querem se lançar como algo novo.

— É uma coisa de modismo, talvez para evitar o uso da palavra partido, porque é muito desgastada. Os partidos políticos estão muitos desgastados, todos. Os novos estão tentando escapar desse desgaste, se posicionando como uma coisa nova, como uma mudança.

Nova realidade

Outros dois partidos também substituíram as siglas com a letra P por um nome que pudesse gerar maior identificação com militantes de movimentos sociais. A fusão entre o PPS (Partido Popular Sindicalista) e o PMN (Partido da Mobilização Nacional), em abril deste ano, resultou na Mobilização Democrática.

O presidente do novo partido, deputado Roberto Freire (SP), diz que o nome foi pensado para refletir o novo momento da sociedade. Segundo ele, a ideia de partido surgiu junto com a revolução industrial, quando as relações entre as pessoas eram muito diferentes das de hoje.

— É preciso representar essa nova era que estamos vivendo, já não mais a sociedade industrial, mais uma sociedade que a supera. [O nome] Dá mais a ideia do que são as novas relações, as novas representações, inclusive políticas.

O professor de Ciências Políticas da PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro), Ricardo Ismael, avalia que os novos partidos querem uma aproximação com os jovens e para isso tentam mudar, por meio dos nomes, a ideia que se tem de partido.

—Para atrair os jovens, essa garotada que quer participar, tem que ser uma coisa diferente dos partidos atuais. Diferente dessa ideia de muita centralização, na qual os candidatos são decididos em pequenas reuniões. Os novos partidos querem associar a ideia ao movimento social.

Mas o especialista alerta que as instituições continuam sendo partidos políticos, mesmo tentando vender uma ideia de associação mais aberta e democrática. Segundo o professor, na medida em que forem ocupando cargos, as novas legendas devem se aproximar dos partidos tradicionais.

Eleitores imunes

Mas a mudanças dos nomes não deve influenciar o resultado das eleições nem ter impacto direto na escolha do eleitor.

Para o cientista político da UnB, David Fleischer, o brasileiro define o voto baseado no candidato e não no partido. Por isso, segundo ele, a mudança no nome das legendas não deve interferir no processo eleitoral.

— Nosso eleitor elege nomes e não vota em partidos. Então não vai fazer muita diferença. Muitos não lembram nem de que partido era o candidato em que votou.

O professor Ricardo Ismael também não acredita que novos nomes possam facilitar ou dificultar a vida do eleitor. Ele lembra que a maioria das campanhas políticas nem usam a sigla do partido.

— Na campanha para presidência, o marketing nem coloca mais o nome do partido. Há uma personalização muito grande. Na urna aparece a foto do candidato. Na prática, quem aparece é a liderança ou alguma bandeira, como a do meio ambiente ou do combate à corrupção.

Quando o P era obrigatório

A letra P passou a ser obrigatória durante a ditadura militar, quando uma espécie de reforma política determinou que todas as legendas fossem identificadas com a palavra “partido” na frente.

Na época, o principal partido de oposição à ditadura, representada pelo Arena, era o MDB (Movimento Democrático Brasileiro), que virou PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro) depois da lei.

Segundo o professor Ricardo Ismael, a obrigatoriedade da letra P visava enfraquecer o MDB, que começava a ganhar força como resistência ao regime militar.

Atualmente, não existe mais a obrigação de manter o P na sigla das legendas e um dos primeiros partidos a adotar nova nomenclatura foi o Democratas, antigo PFL (Partido da Frente Liberal).



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