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Minori: a ‘obra de arte viva’ que inventou um novo estilo de moda no Japão

NOVO ESTILO DE MODA


15/01/2018



Uma artista japonesa conquistou uma legião de fãs de diversos países após criar, há oito anos, um estilo de moda peculiar. Para compor os figurinos, Minori combina a maquiagem Shironuri (que significa "pintado de branco") com roupas antigas.

Ao usar o corpo como "tela", ela se tornou essencialmente uma "obra de arte viva" – e sua arte sempre é captada em fotos. A expressão criativa da artista inspirou outras jovens mulheres a adotarem o visual.

Dama de branco

Minori tem 26 anos e vive em Tóquio. A maquiagem branca proporciona à artista certo anonimato – apenas amigos próximos e familiares conhecem sua real identidade, o que significa que quando ela não está usando o figurino vintage, pode aproveitar sua vida privada longe dos olhares curiosos.

Na adolescência, ela era só mais uma das diversas jovens que frequentavam a região de Harajuku, um distrito de Shibuya, em Tóquio, onde as pessoas vão para serem vistas, usando roupas extravagantes e muitas vezes chocantes.

No passado, ela costumava usar roupas no estilo Lolita Gótica Elegante, mas com o passar do tempo, achou que o figurino não combinava com ela.
"Sempre senti algum desconforto com a cor da minha pele, e a maquiagem não combinava com as minhas roupas", diz ela à BBC.
"Uma vez pintei meu rosto de branco, então pude fazer meu rosto a partir da minha imaginação. Me senti maravilhosa. Aí pensei: 'É isso!'", lembra.

No Japão, a tradição das maquiagens brancas data de tempos medievais.
Entre os séculos 9 e 11, conhecido como Período Heian, homens de famílias aristocratas pintavam os rostos para marcar sua posição social.

A moda foi adotada posteriormente por mulheres, no século 17, quando as gueixas – que entretinham homens das classes mais altas – começaram a aparecer.
Foi então, durante a era Showa (1926 a 1989), que a palavra "Shironuri" surgiu pela primeira vez.

Inspirados pelo ultranacionalismo da época, homens e mulheres vestiam uniformes escolares tradicionais, do tipo "gakuran" e "marinheiro fuku", carregavam bandeiras de guerra do Japão e pintavam seus rostos com a maquiagem das gueixas.

Inspirações

Em vez de uma expressão política ou uma ferramenta de entretenimento, Minori transformou o Shironuri em uma manifestação artística, usando cílios postiços inusitados e uma maquiagem complexa que combina com os temas de suas roupas.
Ela conta que nasceu em uma área rural do Japão e considera a natureza como uma das principais fontes de inspiração para sua arte.

"O padrão de folhas caindo e troncos de árvores, o formato das flores… eu achei que seria bonito se eu combinasse a maquiagem branca com motivos como estes em meus trabalhos", diz a artista.

"Na época, apenas a maquiagem de gueixa estava na moda, mas eu achava muito chato. Eu realmente queria criar algo que não havia sido visto ou feito antes", completa.

Nos últimos três anos, Minori começou a comparecer a eventos de moda no Japão e em outras partes do mundo, a convite de fãs que ficaram sabendo sobre seu trabalho em blogs de moda.

Ela também foi convidada a participar de um documentário da atriz britânica Joanna Lumleyno Japão e de um episódio do seriado Chelsea do Netflix.
Minori acredita ser, no entanto, menos popular no Japão, onde a visão sobre o vestuário feminino ainda pode ser bastante conservadora, apesar da diversidade "fashion" observada na capital.
"Muitos japoneses acham que sou um ser estranho, mas de forma geral a resposta é mais positiva que negativa", avalia.
A família não esconde o orgulho – a mãe chegou a vender livros de fotos da filha vestindo diferentes figurinos para as amigas.
Obra de arte viva
Mas Minori não está sozinha na carreira de "obra de arte viva". No Reino Unido, o artista e estilista Daniel Lismore, de 32 anos, vem fazendo algo semelhante nos últimos 15 anos.
Ele coleciona mais de 6 mil itens, entre roupas e acessórios.

Minori diz que quer representar uma forma de "energia viva", enquanto Lismore afirma que busca despertar reações em seus espectadores.
Apesar das diferenças entre seus trabalhos, os dois artistas já passaram por adversidades.

"Eu já fui cuspido, espancado, machucado e abusado na rua. Depois entrei em jatos particulares, voei ao redor do mundo e fui convidado para palácios reais. Meu trabalho foi parar em museus internacionais", diz ele à BBC.
"É uma forma bem interessante de viver – é divertido e criativo, abre portas que provavelmente não se abririam para mim por outros caminhos. Mas também as fecha. É uma chance para eu mostrar minha arte."

Lismore conta que aprendeu a se sentir confortável em sua própria pele. E, durante encontro recente com Minori, na Frieze Art Fair, em Londres, pediu à jovem que continuasse com sua arte, sem se importar com a reação dos outros.

"Há toda forma de reação, das mais positivas às mais negativas", diz Lismore, que se tornou embaixador de um programa do museu londrino Tate Modern, que ajuda jovens a visitarem centros de arte.

"Há muito medo nas pessoas. Medo do desconhecido, um medo fruto da falta de cultura", avalia.
"Muita gente não vai gostar do que você faz e não vai ser capaz de entender o que você faz. Mas as pessoas certas vão amar você pelo que você é e pelo seu trabalho."

"Todo o resto é irrelevante", completa.
 



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