Futebol

Marin pagou R$ 70 milhões por sede da CBF; imóvel poderia ter custado R$ 39 mil

R$ 70 milhões


16/04/2013



O presidente da CBF, José Maria Marin, assinou um negócio superfaturado na compra da futura sede da entidade no Rio, apontam documentos obtidos pela Folha.

O prédio, com oito salas comerciais e 6.642,83 metros quadrados na Barra da Tijuca (bairro nobre na zona oeste da cidade), custou à confederação R$ 70 milhões.

Marin anunciou o negócio por esse valor em 27 de junho de 2012, mas só formalizou a compra em 31 de agosto.

Neste intervalo, a empreiteira que ergueu o prédio negociou cinco das oito salas para intermediários por R$ 12 milhões. As mesmas salas foram repassadas para a CBF por R$ 43 milhões.

As outras três salas foram vendidas diretamente para a entidade por R$ 27 milhões.

Caso tivesse pagado o mesmo valor que os intermediários pelas cinco salas (R$ 12 milhões), a CBF teria desembolsado no máximo R$ 39 milhões pelo complexo todo. Ou seja, R$ 31 milhões a menos do que os R$ 70 milhões que efetivamente pagou.

Procuradas, a entidade e as empresas envolvidas negaram haver irregularidades.

O NEGÓCIO

A CBF pagou R$ 15,2 milhões por três das cinco salas que comprou de intermediários. A Aprazível Empreendimentos recebeu um cheque de R$ 12,2 milhões e outros R$ 3,05 milhões foram pagos, segundo os documentos obtidos pela Folha, "anteriormente", sem mais detalhes.

Dois meses antes, em 28 de junho, a Aprazível havia recebido as três salas por R$ 8,5 milhões, da BT Empreendimentos, que ergueu o prédio.

Em 10 de julho, a D’Araújo Incorporação registrou a compra de uma sala e de garagens no prédio por R$ 2,5 milhões –mencionando acerto que havia ocorrido em dezembro de 2009.

A D’Araújo vendeu sua unidade à CBF, em 31 de agosto, por R$ 13,95 milhões (5,5 vezes superior ao que havia pago para a BT). Do total, R$ 11,1 milhões foram pagos em cheque e R$ 2,79 milhões em "moeda corrente já recebidos anteriormente".

No mesmo 31 de agosto, Marin registrou a compra de uma outra sala (e garagens) por R$ 13,75 milhões, sendo 70% da Zayd Empreendimentos 2025 Ltda. e 30% da BT.

Deste valor, foram R$ 11 milhões em cheque. Os demais R$ 2,75 milhões em "moeda corrente", "recebidos anteriormente". Os papéis indicam que a valorização desta parte específica do prédio pode ter sido de até dez vezes.

Semanas antes, no dia 17 de julho, a Zayd 2025 registrou em cartório que seus 70% foram comprados por R$ 902 mil da BT, mencionando que este negócio fora acertado em junho de 2009.

Só essa empresa recebeu R$ 9,9 milhões da CBF. Outros R$ 3,8 milhões ficaram com a BT.

Há ainda outras três salas vendidas diretamente pela BT para a CBF. Por elas, Marin pagou R$ 27 milhões.

A futura sede está em reforma e, por isso, a CBF ainda desembolsa R$ 130 mil mensais de aluguel para ocupar um andar em um condomínio de luxo na Barra, que ocupa desde 2002.

COFRES CHEIOS

Marin, 80, assumiu a presidência da CBF em março de 2012 após Ricardo Teixeira, alvo de suspeitas de corrupção, deixar o cargo.

Com isso, Marco Polo Del Nero, presidente da Federação Paulista de Futebol, amigo de Marin, tornou-se vice-presidente e primeiro na linha sucessória da entidade.

Enquanto Marin ficou com a presidência da CBF e do comitê organizador da Copa-2014, Del Nero herdou o assento de Teixeira no Comitê-Executivo da Fifa.

Marin e Del Nero assumiram a confederação com cofres cheios. Segundo o último balanço disponível, a entidade teve um lucro de R$ 73 milhões em 2011.



Os comentários a seguir são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.
// //