Futebol

Luto em Santa Maria esvazia bares e afasta torcedores do Gre-Nal 395

Tragédia


03/02/2013



 Às 16h55m de domingo, Grêmio e Inter já estavam em campo em Erechim para a disputa do maior clássico do futebol do Rio Grande do Sul. Em um dia normal, os bares de Santa Maria, outra importante cidade do interior gaúcho, estariam cheios de gente interessada na transmissão da partida pela TV. Mas, ao que parece, falta muito para a vida voltar ao normal no município da Região Central.

Uma semana após a tragédia na boate Kiss, atingida por um incêndio no último domingo, que causou 237 mortes e deixou mais de uma centena de feridos, o clima ainda é de tristeza em Santa Maria. A cidade está de luto pelas vítimas. O movimento no comércio caiu consideravelmente, praças estão vazias e a vida noturna foi praticamente interrompida.

Um dos poucos estabelecimentos abertos no centro da cidade, o Virtual Bar, na Rua Alberto Pasqualini, costuma encher em dias de jogos da dupla Gre-Nal. Neste domingo, apenas três clientes foram ao local assistir ao jogo. Um deles é Gilmar Sarat Marques. Gremista, ele costuma ver as partidas na companhia de um grupo de oito a dez amigos. Hoje sentava sozinho em uma mesa no canto direito.

– A gente costuma se reunir para ver o Gre-Nal. Fazemos churrasco, carreteiro ou uma galinhada. Mas o clima está muito pesado. Mesmo quem não perdeu ninguém está muito sentido – explica.

O proprietário do bar, Fidelis Borges Vieira, viu o movimento cair drasticamente desde a tragédia. O bar fechou as portas na segunda-feira, mas reabriu no dia seguinte. Em média, eram vendidos de 80 a 100 pratos de almoços e lanches por dia. Nos últimos dias, são feitos cerca de 20 pedidos diários, conta ele.

– Mesmo a turma que frequentava todos os dias não tem aparecido. Tu vê as pessoas muito tristes, abaladas, parecem meio solitárias. Estou fechando às dez da noite, duas horas mais cedo. Depois das 21h, não tem ninguém mais na rua – constata Fidelis.

O comerciante mora a duas quadras da boate Kiss, bem no centro de Santa Maria. Na noite da tragédia, ele conta, se preparava para dormir quando a mulher reclamou de um cheiro de queimado. Intuiu que se tratava de um incêndio, foi para a rua e chegou em frente à boate antes do Corpo de Bombeiros.

– Foram cenas horríveis. As pessoas saindo desesperadas, alguns muito machucados, outros carregados. As próprias pessoas pegavam machados no caminhão dos bombeiros para tentar abrir um buraco na parede – relata.

Em outro bar mais afastado do centro, o Oficial Pizza Clube, o movimento caiu cerca de 60%, segundo o sócio-proprietário André Peruchena. O bar e pizzaria decorado com temas de futebol, mas que não transmite os jogos, costumava receber de 150 a 200 clientes por dia. Nessa semana, pouco mais de 60 diários apareceram para comer e beber.

– Fechamos na segunda e na terça-feira, pois não tinha como abrir. Não tinha clima. Quando abrimos, a gurizada veio tudo com cara de choro. Sempre que alguém contava uma história, as pessoas choravam. Não há ninguém na cidade que não conheça alguém ou algum familiar dessas pessoas que morreram – afirma ele.

Um dos pontos de encontro de Santa Maria, o Calçadão Salvador Isaias, conhecido apenas como “calçadão”, costuma reunir rodas de amigos e famílias nos finais de tarde de domingo. Nesta tarde, a maioria dos bancos estavam vazios. Ali também é o local onde os jovens fazem o “aquece” antes de saírem paras as festas. Muitas vítimas da Kiss provavelmente passaram por lá antes de irem à boate naquela noite de sábado.

– Todos estão muito angustiados com toda essa tragédia. As pessoas estão deixando a tristeza de lado aos poucos, mas estão esperando respostas. Querem saber o porquê – diz Célio Rocha, um dos poucos sentados no calçadão no meio da tarde e que perdeu um amigo no incêndio.

– Acho que vai demorar uns seis meses para Santa Maria se recuperar – opina Fidelis.

Não há clima para festas ou comemorações na cidade que costuma atrair jovens de toda a região para suas casas noturnas ou pubs. Quem ameaça “quebrar” o luto não é tratado com simpatia pelos moradores. Na madrugada de domingo, um grupo que celebrava uma formatura na Sociedade Italiana, na Rua do Acampamento, foi alvo de protestos de pessoas que participavam de uma vigília em memória das vítimas. A Brigada Militar foi chamada, mas a situação foi contornada sem maiores problemas. Como nenhuma lei foi infringida, não houve ocorrência.



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