Brasil

‘Involução brasileira’, por Alberto Carlos Gomes


03/06/2020

Por Alberto Carlos Gomes



“A origem das espécies”, livro de Charles Darwin, lançado em 1859, mostrou que as espécies não são imutáveis e evoluem à medida que indivíduos mais aptos vivem mais e deixam mais descendentes. O livro trata apenas das origens do mundo natural.

Outros pesquisadores levaram a ideia para os seres humanos como o matemático inglês, Francis Galton, primo de Darwin. Dentre suas ideias dizia que se indivíduos das melhores famílias se casassem com parceiras escolhidas poderiam gerar homens mais capazes. A partir das palavras gregas para “bom” e “nascer”criou a palavra “eugenia” para batizar essa nova teoria. Essas ideias fizerem sucesso no final do século XIX e início do século XX com vários cientistas defendendo-a, inclusive no Brasil.

Quando em 1934 Hitler começou na Alemanha a esterilizar deficientes físicos e mentais, não inventou nada, pois Suécia e Finlândia já vinham fazendo algo semelhante. Mas quem defendeu com mais vigor e iniciou as práticas eugenistas foram os Estados Unidos, com base em estudos usadas em galinheiros e estábulos. O zoólogo Charles Davenport, líder do movimento nos EUA conseguiu com que vários estados adotassem suas ideias, fundações de renome como Rockfeller e Carnegie doaram fundos para as pesquisas. Foram criados testes de QI para verificação dos “incapazes” e cerca de 60 mil pessoas foram esterilizadas à força nos EUA.

Quando Hitler começou a matar 70 mil pessoas “indignas de viver”a partir de 1934, apenas copiou as ideias que dominavam a melhoria da raça humana, à época. O médico americano que castrava pobres Joseph De Jarnette disse “Hitler está nos vencendo em nosso próprio jogo”.

Por mais estapafúrdias que pareçam as ideias acima, como está a prática atual da eugenia? Países ocidentais, civilizados, permitem o aborto de crianças diagnosticadas com Síndrome de Down num percentual que chega a 67% nos Estados Unidos, 77% na França, 90% no Reino Unido, 98% na Dinamarca e na Islândia os abortos chegam a quase 100%, lá nascem 1 ou 2 por ano, porque não foram detectadas nos exames pré-natal.

O que temos observado nos últimos tempos, e em especial no Brasil, é uma busca não pela melhoria da raça humana, mas na busca de ídolos que rejeitam tudo que vínhamos aprendendo que significavam uma evolução. Ídolos que rejeitam arte, cultura, cinema, música, democracia, respeito ao semelhante, índios, negros, conservação da natureza, desprezo com os mortos (parece que buscamos ser campeões), sem uma preocupação com o bem da coletividade. A frase “um povo armado é forte e livre”, por mera coincidência, foi dita pelo fascista Mussolini. Ânimos cada vez mais acirrados, incentivo à violência, jornalistas e veículos de comunicação sendo atacados.

O país virou a piada do mundo. Enquanto os outros países seus ídolos vem aumentando os índices de aceitação da população, no Brasil observa-se uma curva descendente na popularidade do atual presidente. Decisões erradas, declarações infelizes, constante estado de beligerância com outros países, demais poderes, veículos de comunicação e ofensas às diversas classes sociais.

Uma simples reunião ministerial revelou o baixo nível dos debates, a falta de planejamento dos assuntos a serem tratados, ministros querendo ser mais agressivos que seu líder, talvez para melhorarem o conceito. O Ministro da Educação como premio pelo “alto desempenho” no seu ministério vai receber a medalha Grande Oficial da Ordem do Mérito Naval. Quando os partidários do Sr. Presidente dizem que a reunião foi uma “propaganda antecipada” e após essa reunião já está garantida a reeleição é que acho que precisamos urgente de um “melhoramento genético”.

No que está resultando essa forma de agir? Segundo o ex-diretor da política monetária do Banco Central, Luiz Fernando Figueiredo, “o mundo já virou as costas para o Brasil há muito tempo e a forma como o governo tem lidado com a pandemia ajuda a piorar essa imagem”. A participação do país nos ativos globais que eram de 2,5% no ano passado caiu para 0,3%.

Hoje atingimos a marca histórica de 30 mil mortos pela pandemia, número que o mandatário maior da nação desejou que atingíssemos durante o governo militar. Será que ele começará a se preocupar com a “gripezinha” ou a meta maior é melhorar as condições da Previdência?

A busca do objetivo do progresso, corrupção zero são sempre bons argumentos, mas podem desprezar como um rolo compressor passando por cima de nossas ideias, convicções, princípios filosóficos, sociais e políticos, sem abrir espaço para o contraditório? Utiliza-se de outros princípios duvidosos, promovendo uma constante idolatria ao ídolo maior. Outros governantes fizeram isso e não deu certo

Precisamos na liderança de seres racionais que criem soluções num ambiente de entusiasmo que nos conduzam com coerência e ações atreladas aos discursos com responsabilidade e determinação, só assim melhoraremos nossa “carga genética ideológica”, que consigamos discernir e reconhecer os populistas e aproveitadores.



Os comentários a seguir são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.
// //