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Garota de 14 anos vira esperança em meio a crise do vôlei feminino cubano

Precoce


29/10/2013

 Melissa Teresa Vargas Abreu tem 14 anos, 1,84m e a responsabilidade de levantar o combalido vôlei cubano, afetado por uma crise técnica sem precedentes, causada, principalmente por deserção em massa das jogadoras.

Nunca houve, antes de Meliza, alguém com essa idade (ela estreou com 13 anos) que fosse titular de uma seleção principal adulta de vôlei. Já carrega grande responsabilidade e é apontada como uma sucessora de Mireya Luiz ou Yumilka Ruiz, dois expoentes de um das seleções mais vitoriosas da história da modalidade.

Melissa está sendo preparada para ser o referencial da seleção cubana. O técnico Juan Carlos Galas deixou isso bem claro há dois meses, quando ela ainda tinha 13 anos. "No momento, ela é quem apaga os incêndios do time. Nos momentos difíceis das partidas é ela quem define os pontos, está cada vez mais tranquila, mais serena, parece uma jogadora adulta, apesar dos 13 anos. Cresce dia a dia e vamos levá-la a todos os torneios que tivermos pela frente, porque está em nossos planos convertê-la em nossa capitã", falou o treinador ao site Depor Cuba.

A primeira convocação foi no mês de maio, para a disputa da Copa Yeltsin, em Moscou. Dois meses antes, Melissa havia sido eleita a melhor atacante da Copa Pan-Americana sub-20, realizada em Havana, apesar de Cuba haver fracassado e ficado apenas em sexto lugar, sem participar da fase final.

Em agosto, Melissa enfrentou o Brasil pela primeira vez, no Cazaquistão, pelo Grand Prix. As comandadas do técnico José Roberto Guimarães ganharam com facilidade, permitindo apenas 47 pontos às cubanas. Dez foram conquistados por ela, que se tornou a maior pontuadora do jogo, juntamente com Gabi e Fernanda Garay. "Ela atuou na ponta e também como oposta. Realmente, impressiona positivamente", diz Zé Roberto.

Apesar de tantos elogios, o tricampeão olímpico diz ser difícil dizer se Melissa seria titular caso o time não estivesse tão debilitado. "Pode-se dizer que Cuba está no fundo do poço. Muita gente saiu devido à política errada do governo e é uma pena. Tomara que voltem a um bom nível", diz o treinador do Brasil.

Em 2000, após completar um ciclo glorioso de três títulos olímpicos e dois Mundiais seguidos, quase toda a geração de Mireya, Regla Torres e Regla Bell se aposentou. O time se renovou e, comandado por Yumilka Ruiz e Zoila Barros, e com as novatas Rosir Calderón (20 anos) e Nanci Carrillo (18 anos), ficou com o bronze em Atenas-2004 ao vencer o Brasil na disputa por medalha. Em Pequim-2008, Cuba teve uma equipe totalmente renovada, comandada por Nanci Carrilo e Rosir Calderón, e ficou com o quarto lugar.

Então, começaram as deserções. Das 12 jogadoras convocadas em 2010, apenas uma (Daymara Lescay) continua em Cuba e faz parte da atual seleção. A situação tornou-se mais crítica em setembro, quando Cuba participou do campeonato da Norceca. Levou apenas 11 jogadoras porque Yoana Santos, a veterana de 22 anos, pediu dispensa dias antes do embarque.

"Hoje, dói ver a situação do vôlei cubano. Os treinadores já não são bons e há muitos erros. Quando meu pai morreu, não tive mais condições de ficar e saí", diz Rosir Calderón, filha de Felipe Calderón, que foi treinador cubano por muitos anos. Em julho, ela se naturalizou russa.

O último suspiro de glória do vôlei cubano foi no Pan do Rio, em 2007, quando o time feminino ficou com o ouro, derrotando o Brasil. O último ponto foi conquistado por Yanelis Santos, que deixou a seleção em 2012 e atualmente está na Sérvia.

"Saí porque resolvi mudar de vida e porque não estava contente com as mudanças. A captação de novas jogadores se flexibilzou muito. Antigamente, havia o parâmetro das grandes jogadoras e para chegar à seleção era necessário, pelo menos, dominar os principias fundamentos tecnicos. Hoje, basta ser alta e mostrar algum potencial. E as jovens estão mal acostumadas. Nós não tinhamos uniformes e só treinavamos na quadra quando as principias estavam viajando. A gente fazia peso e mais peso. Hoje, as meninas já tem uniforme como as do time principal e dizem – eu já ouvi – porque vou me esforçar, se o lugar está garantido, basta as mais velhas saírem".

A decisão do governo em permitir que atletas cubanos joguem em ligas estrangeiras e fiquem com o salário pode ser uma solução. Mais efetiva do que propunha Mireya Luiz, agora dirigente, há alguns meses antes dessa guinada. "Precisamos trabalhar na preparação politico-ideológica do atleta partindo do princípio que um bom revolucionário é aquele que cumpre todas as responsabilidades e faz isso com rendimento favorável. Hoje, nossos atletas não são totalmente revolucionários como poderiam ser e por isso não são grandes como poderiam ser. É preciso educá-los e reformá-los segundo essa concepção".

Zé Roberto Guimarães já soube, através de rumores, que há uma possibilidade muito grande de que Cuba repatrie seus jogadores (tanto no masculino como no feminino) a partir de Janeiro. Assim, talvez consiga voltar à Olimpíada de que ficou ausente em 2012, nos dois gêneros.

As mudanças podem significar tudo na na vida de Meliza. Ela pode se tornar uma referência na volta às épocas gloriosas ou pode ser como Wilfredo Leon, que chegou à seleção principal com 14 anos, em 2007, foi eleito o melhor jogador da Liga em 2009 aos 16, foi eleito para o Hall da Fama em 2011, com 18, e desertou em 2013, com 21 anos.


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