Educação

Ensino médio piora: 9 em 10 alunos deixa escola sem saber matemática

Educação


06/03/2013



 A cada dez alunos, apenas um concluiu o terceiro ano do ensino médio com conhecimento considerado adequado em matemática em 2011. Os dados são parte do relatório anual "De Olho nas Metas" feito pelo movimento Todos Pela Educação e divulgado nesta quarta-feira (6). A análise de dados oficiais mostra que o ensino médio continua sendo o grande gargalo da educação brasileira.

O ensino médio foi a única etapa a regredir em relação à prova anterior: o índice de alunos com desempenho satisfatório em matemática era de 11% em 2009 e ficou em 10,3% em 2011. O relatório usou dados da Prova Brasil e do Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica).

No aprendizado de português, o indicador se manteve estável em 29% – ou seja, sete de cada dez alunos tiveram desempenho insuficiente.

Para Priscila Cruz, diretora-executiva do Todos Pela Educação, o fracasso do ensino médio é fruto da baixa qualidade do aprendizado acumulado no ensino fundamental e de problemas na estruturação do currículo de aulas.

"No ensino médio, o aluno já chega com uma defasagem muito grande, por tudo que ele não aprendeu nos anos anteriores", afirma.

Problema estrutural

Em sua opinião, a recuperação do estudante do antigo "colegial" depende de mudanças radicais no programa de aulas. "A estrutura curricular do ensino médio é muito inchada e fragmentada e o que tem sido feito é só incluir mais disciplinas", acrescenta.

Segundo a especialista, essa mudança estrutural depende de investimento na formação docente. "Os professores não estão preparados para lidar com o estudante real do ensino médio, que vem das mais distintas classes sociais, com toda essa defasagem e desestímulo em relação à escola. Os cursos de pedagogia são muito genéricos e teóricos, muito distantes dessa realidade".

Enem ainda não teve impacto

A reformulação do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), que desde 2009 passou a selecionar estudantes para vagas em universidades públicas por meio do Sisu (Sistema de Seleção Unificada) e já servia como critério de seleção para bolsas do Prouni (Programa Universidade Para Todos), ainda não promoveu uma mudança no ensino médio, como previu o ex-ministro da Educação, Fernando Haddad.

"O novo Enem se tornou um estímulo para o aluno concluir no ensino médio porque abriu perspectivas de entrada na faculdade, mas ainda não induziu nenhuma transformação estrutural", afirma Priscila Cruz.

Fundamental

Os números recentes apontam que, nos últimos anos, houve avanços qualidade da educação nos primeiros anos do ensino fundamental. No entanto, o desempenho dos alunos nas séries seguintes da educação básica não está acompanhando essa melhora.

Enquanto no fim do 5° ano do ensino fundamental a taxa de alunos com aprendizado considerado suficiente em português é de 40% e em matemática de 36,3%, no fim do fundamental 2, o percentual cai para 27% em português e 16,9% em matemática.

A razão para bom aluno na 5ª série se "perder" até o 9º ano pode estar na estrutura curricular. "Os bons resultados alcançados no fundamental 1 não encontram um ambiente adequado para prosperar", diz Priscila Cruz, diretora-executiva do Todos pela Educação. Para ela, o currículo com muitas matérias pode fazer com que o desempenho do aluno se dilua ao longo dos anos letivos.

 



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