A inteligência artificial está se tornando um mecanismo de auxílio diário na vida dos brasileiros, seja na área profissional ou na hora de economizar. De acordo com a pesquisa da Conversion, agência de SEO, 54,6% dos brasileiros pretentem usar a IA para comparar preços durante a Black Friday deste ano. O estudo foi realizado com 400 consumidores do país e demonstra como a ferramenta se consolidou como um agente para auxiliar a compra inteligente.
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Nos anos anteriores, a IA era citada de forma marginal. Agora, ChatGPT, Gemini e Perplexity assumem papel de consultores digitais, comparáveis ao Google na descoberta e avaliação de produtos. O consumidor não busca mais apenas “melhor preço de notebook”; ele pergunta “qual notebook devo comprar com R$3.000?”e espera uma resposta fundamentada, comparativa e personalizada.
Embora a compra seja cada vez mais personalizada, isso não foi o suficiente para manter o entusiasmo entre os consumidores. A intenção de compra recuou de 99% em 2024 para 88,8% em 2025, cerca de 10,3%. A data segue relevante para o varejo, mas precisa reconquistar parte de seu apelo emocional e espontâneo.
Como o consumidor descobre as ofertas
O mapa de descoberta das ofertas mostra estabilidade nos canais tradicionais: Google (61,7%) e sites das marcas favoritas (62,3%) seguem liderando as buscas.
Mas a novidade de 2025 é o avanço expressivo da inteligência artificial como novo canal de descoberta: 21,1% dos consumidores já usam ferramentas como ChatGPT, Gemini e Perplexity para encontrar promoções e comparar preços.
Esse é um comportamento inédito. O consumidor agora pergunta à IA “qual é o melhor preço de X?” em vez de fazer buscas manuais no Google. O fenômeno tem implicações diretas para o varejo: a inteligência artificial prioriza sites bem estruturados e com informações completas, como preço, disponibilidade e especificações. Ter esses dados em formato legível para IA tornou-se um diferencial competitivo.
Enquanto isso, a televisão segue em queda: caiu 31,4% (de 32,1% para 22%) como canal de descoberta. Em contrapartida, WhatsApp (+16%), SMS (+27,8%) e redes sociais (+2,7%) continuam crescendo, consolidando-se como meios de comunicação mais diretos e eficazes entre marcas e consumidores.
O consumidor pergunta, a IA responde
Mais do que um simples comparador de preços, a inteligência artificial está se consolidando como uma verdadeira consultora de compras para o consumidor brasileiro. O estudo mostra que a tecnologia passou a ocupar um papel central na jornada de decisão, influenciando desde a descoberta de produtos até a escolha final de onde comprar.
De acordo com os dados, 54,6% dos consumidores usam IA para comparar preços, mas o uso vai muito além disso. Cerca de 45,4% recorrem às ferramentas para tirar dúvidas técnicas, como desempenho de processadores ou qualidade de câmeras, enquanto 30,1% as utilizam para descobrir novas opções de compra. Outros 27,3% pedem análises de prós e contras, 24,2% verificam a confiabilidade de marcas, 21,4% analisam avaliações de outros consumidores e 18,9% buscam recomendações personalizadas.
Esse comportamento marca uma mudança estrutural no consumo. A decisão de compra, que antes era moldada dentro das lojas — físicas ou virtuais —, agora está sendo formada antes mesmo de o consumidor chegar ao varejo. Ele chega mais informado, com preferências claras e menos suscetível à persuasão momentânea.
Consumidor mais seletivo e racional
Com mais informações em mãos, a compra por impulso ficou em segundo plano. Entre as explicações para a retração de 10,3% na intenção de consumo na data de ofertas, o ceticismo sobre os descontos ocupa o primeiro lugar. O consumidor aprendeu a reconhecer promoções artificiais, em que preços são elevados antes de novembro para depois retornarem a patamares “promocionais”. O conhecido “metade do dobro” tornou-se sinônimo da data e corroeu parte da sua credibilidade.
A fadiga do conceito Black Friday também pesa. O que antes era um evento único transformou-se em uma sequência de campanhas (Black Week, Black November, Black Hours) que diluíram a sensação de urgência e exclusividade. Com isso, o consumidor passou a encarar as promoções de novembro como apenas mais uma entre várias ao longo do ano.
O contexto econômico completa o quadro. Com a inflação acumulada e o orçamento doméstico mais apertado, cresce o número de pessoas que priorizam necessidades básicas em vez de aproveitar descontos em produtos não essenciais.
Outro fenômeno em ascensão é o do consumo estratégico. Em vez de comprar por impulso, muitos consumidores têm adiado suas aquisições para dezembro ou janeiro, quando varejistas liquidam estoques e oferecem reduções reais de preço.
Outros preferem dividir suas compras ao longo do ano, aproveitando promoções em datas alternativas, como o 11/11 e o 12/12, em plataformas como Shopee e Mercado Livre, ou programas contínuos de cashback. Essa fragmentação das datas promocionais está redistribuindo o consumo e enfraquecendo o monopólio simbólico da Black Friday.
Essa combinação explica por que o consumidor de 2025 pensa duas vezes antes de clicar em “comprar”. Ele não abandonou a Black Friday, apenas a incorporou de forma mais crítica e inteligente à sua rotina de consumo.