Política

Dilma baseará campanha em energia, juros e comida

2014


30/03/2013



 A campanha da presidente Dilma Rousseff à reeleição, no ano que vem, será ancorada por um tripé de apelo popular, "traduzido" pelo Palácio do Planalto como "energia/comida/juros". A um ano e meio da disputa, o marketing eleitoral dita a agenda da presidente e vai embalar o programa do PT, a ser exibido em rede nacional de TV no dia 9 de maio.

Cortes de impostos, queda dos juros e redução da conta de luz terão destaque no cardápio petista para o segundo mandato de Dilma, se tudo correr como o script previsto pelo Planalto.

A estratégia é mostrar que a desoneração dos produtos da cesta básica, a tesourada nos juros, hoje em 7,25% ao ano, e a diminuição do preço da energia elétrica fazem parte de um pacote para promover a distribuição de renda e transformar o Brasil em um país de classe média.

Dilma avalia que já tem marcas próprias de governo para exibir na propaganda eleitoral, além dos projetos herdados do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Ela tem conversado com o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, sobre a evolução do modelo que, a seu ver, criou um mercado de massas a partir de um "ciclo virtuoso", com aumento dos investimentos, do emprego e do crédito.

O deputado Paulo Teixeira (SP), secretário-geral do PT, disse que isso vai ajudar a consolidar a imagem da presidente.

— Esse tripé dará as condições para a consolidação da imagem de Dilma e a manutenção da vantagem dela na eleição de 2014.

A última pesquisa Ibope, feita em parceria com o Estado, confirmou o resultado de sondagens encomendadas pelo marqueteiro João Santana, consultor de Dilma, e reforçou a estratégia presidencial.

Realizado entre os dias 14 e 18 deste mês, o levantamento indicou que as aparições de Dilma na TV, anunciando cortes de impostos e tarifas, renderam a ela nove pontos a mais desde novembro.

Se as eleições fossem hoje, a presidente venceria no primeiro turno. Na pesquisa Ibope, ela tem 76% de potencial de voto, o que representa um eleitorado três vezes maior do que a soma de todos os seus adversários.

— O governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), não conseguiu dividir a base aliada e está piscando para a oposição.

O secretário-geral do PT ironizou, numa referência ao possível rival de Dilma, em 2014. Mas Campos afirmou: "eu não vou entrar nesse rame-rame eleitoral agora".

— Cada um tem o seu relógio.

Em conversas reservadas, o governador tem dito não confiar que o PT apoie uma candidatura sua em 2018, caso ele desista da empreitada presidencial do ano que vem.

Para Campos, apesar da alta popularidade de Dilma, o que pode atrapalhar a reeleição é justamente a economia.

Transportes

Com previsão de cenário mais otimista no segundo semestre, a equipe econômica prepara novo pacote de desonerações para conter a inflação, desta vez com foco no transporte público.

As medidas incluem o corte do PIS e da Cofins sobre o óleo diesel e, apesar de terem impacto municipal, estão na lista das "bondades" que o Planalto quer faturar na campanha.

A expectativa é que a diminuição desses tributos evite a alta das tarifas de ônibus em capitais como São Paulo e Rio.

O secretário dos Transportes de São Paulo, Jilmar Tatto disse que "técnicos da Fazenda já avaliam que o reajuste da passagem de ônibus incide mais sobre a inflação do que o aumento da gasolina".

— Logo, o que se discute é a ideia de aumentar a gasolina e mandar o dinheiro para o transporte público, como forma de subsídio cruzado.

O governo corre para que o anúncio da desoneração do PIS e da Cofins seja feito no Dia do Trabalho, quando Dilma usará o tradicional pronunciamento de 1º de Maio para comemorar a aprovação da proposta de emenda à Constituição que amplia direitos das empregadas domésticas.

No quesito transporte, o PT também aposta na modernização da infraestrutura, com obras em rodovias, ferrovias e aeroportos, para "vender" a imagem de Dilma como boa gestora, apesar das dificuldades para os projetos saírem do papel.

O programa nacional do PT, em 9 de maio, e as inserções comerciais na TV, alguns dias antes, vão representar, na prática, a largada da corrida pela reeleição no horário político.

Não foi à toa que Santana produziu o slogan "O fim da miséria é só um começo", usado pela presidente em fevereiro, quando ela anunciou que 22 milhões de brasileiros saíram da extrema pobreza.

A ideia é mostrar, na campanha, que as principais ações de Dilma agem como alavanca para o crescimento e para o ingresso do Brasil no seleto mundo dos países desenvolvidos.

O senador Delcídio Amaral (MS), pré-candidato do PT ao governo do Mato Grosso do Sul, resumiu dizendo que "com a economia andando bem, tchau para o gaiteiro.

Traição

A preocupação política do Planalto, agora, reside na montagem dos palanques para Dilma. Por enquanto, a meta do PMDB é lançar candidatos próprios em pelo menos 20 dos 26 Estados, além do Distrito Federal.

Em muitos deles, como o Rio, o PT e o PMDB estão em pé de guerra e há outras praças onde as desavenças prosperam — caso do Rio Grande do Sul, Paraná e Mato Grosso do Sul.

O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) reagiu.

— Seria muita traição, depois de tudo o que Lula e Dilma fizeram por Sérgio Cabral e Eduardo Paes [governador e prefeito do Rio, respectivamente], o PMDB do Rio condicionar o apoio à presidente à retirada da minha candidatura.

Pré-candidato do PT ao governo fluminense, Lindbergh foi acusado, em reportagem da revista Época, de envolvimento em corrupção quando era prefeito de Nova Iguaçu. O material foi obtido com o PMDB.

Cabral tenta emplacar a candidatura do vice-governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) e quer a desistência de Lindbergh, que nega com veemência a veracidade das denúncias.

— O PMDB me jogou na oposição. Por que Geddel [Vieira Lima] pode ser candidato do PMDB na Bahia e eu não posso concorrer pelo PT no Rio?

Para o senador Valdir Raupp (RO), presidente do PMDB, a pergunta deve ser feita no sentido inverso.

— Por que o PMDB tem de apoiar o governo em todos os Estados e o PT não pode abrir mão de nada?

No Planalto, o comentário é que, resolvidas essas pendências do PT com os aliados, "o resto vem por gravidade".



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