Futebol

Damião arrasa São Luiz, e Inter fatura a Piratini

Gauchão


10/03/2013

 Tudo levava a crer que seria uma tarde de domingo incomum em Ijuí. Chuva, um campo absurdamente embarrado, torcedores com ingressos recorrendo a um perigoso muro para assistir à partida e ainda um time do Interior com a melhor campanha da Taça Piratini. Mas o trilar inicial do apito de Leandro Vuaden restaurou a ordem natural das coisas. O Inter naturalmente se apoderou das ações no terreno rival, venceu o São Luiz por 5 a 0 e conquistou o primeiro turno do Campeonato Gaúcho.

Até o que havia deixado de ser rotina voltou a acontecer naturalmente: Leandro Damião protagonizou uma atuação de gala. Sem marcar há duas partidas, anotou o primeiro, deu os passes para Gabriel e D’Alessandro e ainda fez um golaço no final, comemorando com a homenagem ao pai, o seu Bigode, e desenhando com traços irreparáveis o inapelável abismo a separar as duas equipes – Rafael Moura fechou o placar. Diferença que dá o primeiro troféu a Dunga como técnico do clube em que foi criado, justamente na terra em que nasceu, e o garante de forma antecipada na decisão do Estadual.

Com a taça aninhada no colo, o Inter tem a semana inteira para comemorar o triunfo. Volta a campo apenas no domingo, às 16h, no Complexo Esportivo da Ulbra, contra o Canoas, na abertura da Taça Farroupilha, o segundo turno. Mesmo dia em que o São Luiz buscará a recuperação e, quem sabe, mais uma campanha histórica, diante do São José, em casa, às 17h.

Torcida se apoia em muro para ver decisão

Insistente durante três dias, a chuva era a ameaça antes de a bola rolar no 19 de Outubro. A grande quantidade de água transformou o campo num lamaçal, mas o árbitro Leandro Vuaden garantiu a realização da partida. Quem não garantia nada era a Brigada Militar, que se eximiu de culpa a respeito do episódio que marcou a decisão. Antes do jogo, centenas de colorados não conseguiram se acomodar no estádio e subiram num muro de quatro metros.

Mesmo com risco de queda, permaneceram ali. O tenente-coronel Felisberto Cunha afirmou que a responsabilidade era do clube mandante.

O São Luiz tinha a vantagem de jogar em casa, em Ijuí, cidade a 400 quilômetros de Porto Alegre, por sua campanha invejável. Desde que Paulo Porto assumiu, foram sete vitórias e um empate. A sensação do campeonato, no entanto, tinha pela frente o Inter, de Dunga, D’Alessandro, Diego Forlán e Damião. O quarteto que, dentro e fora de campo, fez a diferença. Até porque tudo o que poderia atrapalhar o curso normal do favoritismo colorado se esvaiu. A partir das 16h, o sol apareceu, a chuva sumiu, a inquietação dos torcedores sem acomodações se acalmou… E, quando o assunto fica só na bola, a qualidade irrompe, absoluta.

Josimar se anima e vira até articulador

Mesmo que o São Luiz tenha iniciado mais antenado, com forte combate no meio-campo, partiu dos pés colorados as melhores chances. A primeira, dos improváveis movimentos de Josimar, volante de contenção, figura opaca numa constelação de selecionáveis do Mercosul. Isso na teoria. Em campo, Josimar cresceu, virou gigante como o próprio apelido do estádio Beira-Rio, hoje em reformas. Aos 11, em tabela com D’Alessandro, singrou a área do Rubro, carinhosa referência ao São Luiz, e, sozinho, chutou para fora. Aos 13, foi a vez de Leandro Damião, na pequena área, sem obstáculos diante da linha fatal, empurrar a bola pela linha de fundo após cruzamento de Forlán.

O camisa 9, há dois jogos sem balançar as redes, redimiu-se aos 31. Passe de quem? Forlán, Fred ou D’Alessandro? Que nada. Da estrela de última hora chamada Josimar. O lançamento caiu macio no pé do artilheiro. O chute, como manda a cartilha dos avantes, despregou-se seco do pé direito. Oliveira sujou o uniforme no barro. Em vão: Inter 1 a 0.

Gol e assistências: o Damião total

Com os experientes atacantes Juba e Eraldo, ambos artilheiros em edições anteriores do Gauchão, o São Luiz só conseguiu assustar quando o Inter deixava. Em falha de Fabrício, Juba, por pouco, não deixou Eraldo em frente a Muriel. Mesmo assim, um susto quase que imperceptível. Impossível de não notar são as reclamações de D’Alessandro. Além do bom futebol, o gringo protagonizou algumas pequenas discussões. A principal delas, aos 34, após levar drible por entre as pernas de seu marcador Chicão.

O Inter, por sua vez, não assusta nem fala de mais. Marca gols. Aos 44 minutos, Damião saiu de goleador a garçom. Cruzou na área para um corte mal sucedido de Thiago Costa. A bola se ofereceu mansa a Gabriel. O lateral fuzilou Oliveira para marcar o 2 a 0, seu primeiro gol com a camisa vermelha.

– A gente está criando as situações. O gol foi importante. Estava com saudade. A bola sobrou. Se eu erro, seria corneteado pelos companheiros – brincou Gabriel, na saída para o intervalo.

– Temos que manter o ritmo – alertou um energizado D’Alessandro.

Logo aos seis minutos do segundo tempo, D’Ale novamente reclamou. Mas com razão. Sofreu falta dura de Chicão, seu marcador incansável que, na etapa. Logo depois, Marcos Paraná chutou Fabrício sem bola na lateral do campo. Resultado: bolinho formado e cartão amarelo para o meia do São Luiz.

Aos 10, em vez de bater, o São Luiz jogou. E chegou com perigo. Após cruzamento, Juba só não marcou por que Juan deitou-se, aplicou o carrinho e salvou o Inter. Valeu a pena. Na resposta colorada, Leandro Damião mostrou ter tomado gosto da vida de garçom. Desta vez, serviu D’Alessandro. Na frente de Oliveira, o argentino escolheu o canto com a tranquilidade de quem já sabe que é campeão antes mesmo do fim do jogo: 3 a 0.

Muriel toca na bola após mais de 60 minutos

Aos 16, um momento quase que histórico. Muriel, enfim, sujou de barro o seu uniforme preto. O inconformado Eraldo chutou cruzado, e o goleiro precisou se esticar. A bola saiu quicando da área vermelha e caiu no destino natural da tarde. No pé de algum colorado.

Porque só o Inter jogou. Porque só o Inter poderia jogar. E só Damião poderia fechar essa goleada. E em grande estilo. Aos 35, arriscou de fora da área. Contou com um desvio que abrilhantou ainda mais a finalização. Que entrou seca no ângulo. Oliveira acompanhou aturdido e impotente. Assim como o São Luiz inteiro que, num dia, sofreu o mesmo número de gols de todo o campeonato. Ah, Rafael Moura, que entrara na vaga de um ovacionado Damião, ainda marcaria o quinto. Até nisso, Damião deu sorte, "consagrando" o seu substituto.

Desfecho perfeito para uma tarde que se descortinava complicada, mas que terminou completamente sem contestações. Ao Inter, não houve empecilho. Poderia chover, não choveu. O São Luiz poderia surpreender o clube grande, não surpreendeu. E Damião poderia jogar mal, não jogou. Nada de anormal aconteceu após o apito inicial de Vuaden. Talvez tenha faltado um gol de Forlán, artilheiro do Gauchão com seis gols. Apenas um detalhe, incapaz de desfazer o abismo. A Taça Piratini cai nas mãos de um legítimo campeão.



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