Esporte

COVID-19 faz primeira árbitra de futebol do mundo morar de favor e recorrer a doações da Internet

A mineira Léa Campos mora em Nova Iorque, a cidade que mais sofreu com a pandemia, e viu seu marido perder o emprego; vaquinha virtual arrecada quase R$8.500 para pioneira do apito


24/05/2020

(Foto: infoesporte)

Globoesporte.com



A pandemia de COVID-19 tem feitos muitos estragos pelo mundo: até agora, são mais de 5 milhões de infectados e quase 350 mil mortes. Além disso, o novo coronavírus tem afetado a economia mundial e gerado desemprego em vários países. A primeira árbitra de futebol profissional do mundo é uma dessas pessoas que estão passando por dificuldades. A mineira Léa Campos, de 75 anos, mora em Nova Iorque, nos Estados Unidos, há 28 anos e viu sua vida mudar completamente desde o início de 2020.

– Não podemos sair, temos que estar desinfetando tudo, a toda hora, usando sabão e álcool. Realmente não está fácil, mas – como eu costumo dizer – vamos empurrando para não sermos empurrados. Esse bichinho não vai nos pegar – disse Léa, olhando o lado otimista.

Na questão de saúde, está tudo bem com ela e o marido, o colombiano Luiz Eduardo Medina. Mas a parte financeira está bem prejudicada. Nova Iorque é a cidade que mais sofreu no mundo com o COVID-19: foram quase 16 mil mortes. Por ser idoso e ter câncer de próstata, o marido de Léa perdeu o emprego. O casal teve que sair de casa e está morando de favor na residência de um amigo.

– A gente está vivendo no apartamento dele provisoriamente. Mas quando o filho dele regressar da faculdade, vamos ter que entregar o quarto e aí é que está o sufoco. Sempre fui uma mulher que trabalhou, batalhou. Meu marido também luta e trabalha. Eu estou pedindo porque estou precisando – explicou.

Diploma recebido por Léa Campos pela Federação Mineira na década de 1980 — Foto: Arquivo Pessoal

Diploma recebido por Léa Campos pela Federação Mineira na década de 1980 — Foto: Arquivo Pessoal

 

Por conta da situação deliciada, a arbitragem brasileira se uniu para ajudar Lea. Ana Paula Oliveira, Leonardo Gaciba e outros árbitros brasileiros criaram um movimento de apoio à pioneira da arbitragem feminina.

– A Léa, para nós, mulheres, significa um marco na luta contra a ditadura, que impedia a mulher de atuar no esporte na década de 70. Ela foi uma das que encabeçou essa luta pelo espaço da mulher, pelo direito de fazer o que gosta e o que quer. Ela é um marco para a arbitragem feminina no país – disse Ana Paula Oliveira, ex-assistente e hoje chefe da Comissão de Arbitragem da Federação Paulista de Futebol.

– Se eu tivesse que definir a Léa Campos em uma palavra, seria inspiração. Ela foi uma pessoa a frente do seu tempo. Eu me emociono quando eu escuto ela falar “meus colegas de arbitragem”, porque a arbitragem ainda corre nas veias dela – elogiou Leonardo Gaciba, ex-árbitro e agora chefe da Comissão de Arbitragem da CBF.

Uma vaquinha virtual foi iniciada para ajudar Léa e até agora juntou quase R$9 mil para a ex-árbitra sair dessa situação tão difícil. Para uma mulher que desafiou a ditadura militar e o machismo, esse valor é uma prova de amor pela vida.

– Jamais pensei que fosse tão querida em meu país. O Brasil inteiro está colaborando comigo. Os que estão me ajudando, estão fazendo de coração. E só tenho a agradecer. Não tenho outra maneira que não seja Deus que pague a todos vocês e multiplique a doação que estão me dando pelo infinito e volte para vocês – agradeceu Léa.



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