Futebol

Copa: custo geral dos estádios está 30% mais alto que previsão de 2010

R$ 7,1 bilhões


12/04/2013



Em janeiro de 2010, o governo federal e representantes das 12 sedes da Copa do Mundo de 2014 deram o primeiro passo efetivo no planejamento para a realização do torneio com a assinatura da Matriz de Responsabilidades – um documento com a previsão de projetos prioritários, entre eles, a construção ou reforma dos estádios. Cada cidade apresentou seu plano, com estimativas de custos e prazos para conclusão das obras. Entre janeiro de 2011 e dezembro de 2012, o governo publicou ainda quatro balanços com atualizações. Pouco mais de três anos depois dos primeiros números.

Na Matriz de Responsabilidades da Copa em 2010, a previsão era de que os 12 estádios construídos ou reformados para 2014 custariam, ao todo, aproximadamente R$ 5,4 bilhões. Essa estimativa se mostrou incorreta: os custos estão 30% mais caros – chegando a R$ 7,1 bilhões, segundo estimativas de abril, passadas pelas próprias cidades-sedes. O secretário-executivo do Ministério dos Esportes (e representante do governo federal no Comitê Organizador da Copa – COL), Luis Fernandes, não considerou a diferença preocupante.

– Sinceramente, não acho que seja um aumento muito significativo. Quando a primeira versão da Matriz foi elaborada, nem todos os projetos estavam completos. Foi lançada uma estimativa dos custos antes da consolidação dos projetos. Um exemplo é o caso de São Paulo, onde estava prevista em 2010 a reforma do Morumbi e depois o projeto mudou para a construção de um novo estádio. Evidentemente, o custo subiu. A Copa do Mundo é uma oportunidade para grandes investimentos na infraestrutura do país, inclusive em equipamentos esportivos, como é o caso dos estádios, que ficarão como um importante legado – disse.

Outro fator que mudou bastante em relação às projeções de janeiro de 2010 foi o prazo de entrega das obras. Na assinatura da Matriz, todos os estádios deveriam ser entregues até dezembro de 2012. Cronograma que só foi cumprido nas reformas de dois equipamentos: o Castelão, em Fortaleza, e o Mineirão, em Belo Horizonte, inaugurados no final do ano passado. O terceiro estádio pronto é a Fonte Nova, em Salvador, utilizada no último domingo com o clássico entre Vitória e Bahia.

– Com relação aos prazos, entram fatores de outra natureza – acrescentou Luis Fernandes – É preciso entender a complexidade das obras. Houve problemas na gestão dessas complexidades que acabaram determinando os atrasos. Seria muito importante que todos tivessem sido entregues no prazo. Agora temos que pensar que é importante que os outros seis estádios da Copa sejam finalizados até dezembro.

A principal preocupação está com os três estádios da Copa das Confederações que só deverão ser finalizados até o final deste mês: Arena Pernambuco, no Recife, Mané Garrincha, em Brasília, e Maracanã, no Rio de Janeiro. Apesar dos atrasos, o secretário garantiu que não haverá problemas para a realização do evento, que começa no dia 15 de junho com Brasil x Japão na capital federal.

– Os atrasos tornam o desafio maior. Mas não preocupa tanto, porque todos terão os eventos-teste. O problema é que será preciso realizar várias ações concomitantes. Não é o ideal, mas também não prejudicará a Copa das Confederações.

Demora na definição dos projetos

Na opinião do engenheiro José Roberto Bernasconi, membro do Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia, alterações em custos e prazos de obras complexas como a construção de estádios é comum e só será possível avaliar se houve exageros após uma análise detalhada de cada projeto.

– Toda obra está sujeita a algumas intercorrências, como questões climáticas, greves, aumento nos custos de mão de obra, aumento nos preços unitários de alguns itens… São muitos fatores e, enquanto não forem divulgados os mínimos detalhes de cada projeto, é difícil dizer se os aumentos estão ou não dentro do limite do aceitável.
No entanto, para o especialista, pelo menos um problema é fácil de identificar nos preparativos do Brasil para o Mundial de 2014: a demora para a definição dos projetos.

– O Brasil foi anunciado como sede da Copa no dia 30 de outubro de 2007. Em 2008 só se fez discurso, assim como em 2009. Deixamos o tempo passar. Em 2010 alguns projetos estavam em andamento e uma ou outra obra começou. Só aceleramos mesmo em 2011 e 2012. E uma das principais causa de problemas e perda de controle de custos é trabalhar com prazos apertados – afirmou o especialista, que lembrou que o anúncio das cidades-sedes só foi feito pela Fifa em maio de 2009, mas que algumas sempre foram consideradas certas no Mundial, como Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Brasília.

Números diferentes

Chama a atenção o fato de que, em alguns casos, os valores estimados pelas cidades-sedes para as obras dos estádios não são os mesmos divulgados pelo Ministério do Esporte no último Balanço da Copa, em dezembro de 2012. Há variações para mais e para menos e diferentes explicações.

Um exemplo está nas estimativas da Arena da Baixada. De acordo com os dados do ministério, a reforma do estádio custará R$ 234 milhões. No entanto, o Atlético-PR informou que a estimativa é de que, com os descontos fiscais concedidos pelo Recopa (programa de isenção fiscal para as obras dos estádios do Mundial), sejam gastos somente R$ 184 milhões (mesma previsão de janeiro de 2010).

Já no caso da Fonte Nova, os números do Ministério do Esporte indicam um custo de R$ 591,7 milhões. No entanto, o governo baiano informou que mudanças exigidas pela Fifa após a assinatura do contrato acabaram gerando um custo adicional de R$ 97,7 milhões, oficializado em janeiro deste ano. Entre as modificações estão mudanças no padrão dos assentos e do gramado, além de inovações na área de Tecnologia de Informação e instalações elétricas. Sendo assim, o valor final da obra foi estimado em R$ 689,4 milhões.

Os mais caros: Mané Garrincha e Maracanã

Não por acaso, os dois maiores estádios da Copa também serão os mais caros: Maracanã (79 mil pessoas) e Mané Garrincha (72 mil pessoas). As duas obras também estão entre as que mais aumentaram os custos entre 2010 e 2013.

Estimada inicialmente em R$ 600 milhões, a reforma do Maracanã já teve um crescimento nos gastos de 43%, passando para R$ 859,9 milhões, segundo os responsáveis pela obra. É o terceiro estádio com maior aumento proporcional e o segundo em valores brutos – crescimento de R$ 259,9 milhões. Gastos que poderão ser ainda maiores. O último balanço divulgado pelo Ministério do Esporte, em dezembro de 2012, já estimava o custo em R$ 882,9 milhões, número ainda não oficializado pelo governo local.

ESTÁDIOS NOVOS PREVISÃO DE CUSTO (R$) CAPACIDADE* CUSTO/ CAPACIDADE (R$)
Mané Garrincha (DF) 1 bilhão 72 mil 13,8 mil
Arena Amazônia (AM) 583,4 milhões 44 mil 13,2 mil
Fonte Nova (BA) 689,4 milhões 55 mil 12,5 mil
Arena Corinthians (SP) 820 milhões 67 mil 12,2 mil
Arena Pantanal (MT) 518,9 milhões 44 mil 11,7 mil
Arena Pernambuco (PE) 532 milhões 46 mil 11,5 mil
Arena das Dunas (RN) 400 milhões 42 mil 9,5 mil
ESTÁDIOS REFORMADOS
Mineirão (MG) 695 milhões 62 mil 11,2 mil
Maracanã (RJ) 859,9 milhões 79 mil 10,8 mil
Castelão (CE) 518,6 milhões 64 mil 8,1 mil
Beira-Rio (RS) 330 milhões 50 mil 6,6 mil
Arena da Baixada (PR) 184,6 milhões 43 mil 4,2 mil
*foi usada como referência a capacidade dos estádios informada no último

Balanço da Copa divulgado pelo governo federal

O prazo para a conclusão do palco das finais da Copa das Confederações e do Mundial também foi alterado duas vezes no período entre 2010 e 2013. Inicialmente previsto para ficar pronto em dezembro de 2012, a data de entrega passou para fevereiro de 2013 no 3º Balanço da Copa, divulgado pelo governo federal em abril do ano passado. Em dezembro, no 4º balanço, a data de entrega foi adiada em mais dois meses, passando para abril de 2013 (o primeiro evento-teste está marcado para o próximo dia 27, com uma partida entre amigos de Ronaldo e Bebeto. No momento, a arena carioca está 95% pronta).

– No caso do Maracanã, o conceito inicial era de manter a cobertura original, fazendo apenas adaptações. Só depois foi feita a avaliação técnica de que isso poderia não dar a garantia de sustentação necessária, e foi preciso mudar o projeto, exigindo a demolição da marquise. Quando os custos foram estimados em 2010, esse gasto não estava previsto – justificou o secretário do Ministério do Esporte Luis Fernandes.

Sobre o Mané Garrincha, o crescimento nos custos entre 2010 e 2013 foi de 34%, passando de R$ 745,3 milhões para R$ 1 bilhão (aumento de R$ 254,7 milhões). Gasto que, segundo o Tribunal de Contas do Distrito Federal, deverá ser maior: o último balanço divulgado pelo órgão estima as obras do Mané Garrincha em R$ 1,2 bilhão.

– Quando foi apresentado, havia apenas o custo do projeto básico. Hoje, atingiu esse nível porque o projeto inicial não constava a cobertura, por exemplo, e toda a tecnologia que foi incluída depois. Além disso, no projeto original seria aproveitado um quarto de arquibancada, o que não foi possível. Não é reforma. Estamos fazendo um estádio completamente novo, que custará cerca de R$ 1 bilhão com a isenção fiscal do Recopa – explicou o secretário extraordinário da Copa no Distrito Federal, Cláudio Monteiro.

A entrega do Mané Garrincha também atrasou. Previsto inicialmente para dezembro de 2012, o prazo passou para julho de 2013 no 1º Balanço da Copa divulgado em 2011. No entanto, com a escolha do estádio para a abertura da Copa das Confederações, a previsão de entrega retornou para dezembro de 2012 e depois foi adiada para abril deste ano (a cerimônia de abertura será no próximo dia 21 e o primeiro evento-teste está marcado para 18 de maio, com a segunda partida da final do Campeonato Brasiliense).

– Podíamos estar fazendo esse estádio para entregar em dezembro, para a Copa do Mundo, com tranquilidade. Mas houve uma decisão de antecipar o cronograma em oito meses e inserir a cidade na Copa das Confederações. Mais ainda, a cidade receberá a abertura da competição, sendo assistida por milhões e milhões de telespectadores do mundo todo, um ano antes. Foi uma decisão acertada – defendeu Cláudio Monteiro.

Beira-Rio: aumento de 153%

Apesar de ser a segunda obra mais barata, a reforma do Beira-Rio é foi a que apresentou o maior aumento proporcional nos gastos. O crescimento entre o valor previsto em 2010 e o custo atual da obra foi de 153%, passando de R$ 130 milhões para R$ 330 milhões (aumento de R$ 200 milhões.

Segundo os responsáveis pela obra, o aumento foi provocado por uma troca no modelo de construção. Inicialmente, o Internacional ficaria responsável pela reforma. No entanto, em 2011, foi firmado uma parceria com um consórcio que alterou substancialmente o projeto e incluiu novos itens, como um edifício-garagem para três mil veículos.

– Chegamos a conclusão de que seria necessário firmar uma parceria para fazer a obra. Acertamos com uma um consórcio, que assumiu parte dos custos, e os valores se modificaram. Naturalmente, houve alterações no projeto – explicou o presidente da Comissão de obras do Internacional, Maximiliano Carlomagno.

O caso de São Paulo: Morumbi x Arena Corinthians

A cidade de São Paulo foi a única em que houve uma troca no estádio previsto para a Copa. Inicialmente, o palco do Mundial na capital paulista seria o Morumbi, com reforma estimada em R$ 210 milhões. No entanto, em 2011 foi definido que um novo estádio seria construído – a Arena Corinthians – para receber a abertura da Copa.
A primeira estimativa de custo do novo estádio divulgada pelo governo federal apareceu no 2º Balanço da Copa, em setembro de 2011. A previsão de R$ 820 milhões não mudou desde então.

Redução de custos: Castelão

Entre os 12 estádios da Copa, apenas um apresentou redução nos custos previstos entre 2010 e 2013 até o momento: o Castelão, em Fortaleza. A economia de R$ 104 milhões em comparação com a estimativa inicial foi confirmada pelo governo local ao fim da obra. Previsto para custar R$ 623 milhões em 2010, a reforma do estádio foi concluída a um custo de R$ 518,6 milhões – redução de 16,7%.

– O Governo do Estado optou pelo modelo de parceria público-privada (PPP) para a contratação do consórcio construtor que ficou responsável pela obra. Durante o processo de licitação, venceu a proposta que se adequava ao projeto e tinha o valor mais baixo. Daí conseguimos a redução dos custos – explicou o secretário especial da Copa 2014 no Ceará, Ferruccio Feitosa.

Outros estádios também utilizaram o modelo de PPP, mas não conseguiram redução nos valores, como é o caso da Arena Pernambuco. Estimada inicialmente para custar R$ 529,5 milhões, a obra já está orçada em R$ 532 milhões, segundo o governo local, e poderá aumentar ainda mais por conta de medidas que foram tomadas para acelerar a construção e permitir a entrega a tempo da Copa das Confederações. O valor final ainda não foi calculado.

No prazo: Castelão e Mineirão

Além de ser o único projeto com redução nos custos, o Castelão também foi, ao lado do Mineirão, um dos estádios entregues dentro do prazo previsto – dezembro de 2012.

– Uma decisão que foi essencial para a agilidade do processo foi levar toda a equipe da então Secretaria do Esporte (assim que o contrato foi assinado com o Consórcio Construtor e antes mesmo de ser criada a Secopa) para dentro do canteiro da obra, para que pudéssemos acompanhar mais de perto a execução – detalhou o secretário da Copa no Ceará, Ferruccio Feitosa.

Já a Secretaria Extraordinária da Copa em Minas Gerais (Secopa-MG) informou por meio da assessoria de imprensa que um dos fatores que possibilitou o cumprimento do prazo foi a adoção de um modelo de gestão compartilhada entre o governo local e um parceiro privado (Minas Arena), que ficou responsável pela administração do estádio após a conclusão.

Comparações

Na opinião do secretário executivo do Ministério do Esporte, Luis Fernandes, não é justo comparar os custos e os prazos de entrega dos 12 estádios da Copa. Para ele, são projetos bastante específicos, com características próprias que precisam ser consideradas em qualquer avaliação.
– São projetos diferentes. Cada um com uma complexidade diferente. Alguns tratam apenas de reformas, como é o caso do Castelão e do Mineirão. Não dá para comparar o grau de complexidade do Castelão com o Maracanã, por exemplo.

Segundo o secretário, as evoluções nos custos e alterações no prazos de entrega decorrem justamente dessas especificidades, que precisam ser consideradas individualmente.

– É complicado comparar diretamente o porque um conseguiu diminuir o valor e outro não. Os primeiros valores previstos na Matriz estavam baseados em projetos que foram bastante alterados, consolidados ao longo do tempo, e de acordo com as necessidades de cada sede.

O engenheiro José Roberto Bernasconi também avalia que é preciso considerar as especificidades de cada obra. No entanto, para o especialista, separando reformas de construções novas e utilizando o tamanho dos estádios como parâmetro é possível fazer algumas comparações.

– Cada caso é um caso. São situações de trabalho diferentes. Mas comparando o preço unitário por assento, é possível perceber algumas diferenças importantes e traçar alguns parâmetros para avaliação – defendeu o especialista.

Neste caso, entre os novos estádios construídos para Copa, o Mané Garrincha é o que apresenta o custo mais alto na divisão entre o valor estimado para a obra e a capacidade: R$ 13,8 mil por assento. Já entre os estádios reformados, o custo mais alto é do Mineirão, com R$ 11,2 mil por assento.



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