Geral

Tendências – O Museu de Grandes Novidades


26/07/2015

Foto: autor desconhecido.

               Dia desses escrevi sobre futurismo e não durou uma semana para perceber que o meu texto estava obsoleto. Aliás, enquanto penso escrever, há já no mercado softs que traduzem falas em qualquer língua. Ex.: Se falo mandarim, e você escuta ou ler em inglês, português, nem se preocupe em estudar mandarim; os softs se encarregarão de traduzir on line pra você. De certa forma é como prever que no futuro, digo, já nem precisa mais aprender a ler ou escrever porque os softs fazem isso pra você. Bom para cegos, surdos, mudos, analfabetos, enfim…

Nanotecnologia, Biotecnologia, robótica, e o que mais você possa imaginar. Carros elétricos com teto solar, roupas hipersensíveis com implementos sensoriais, chips, etc. E as impressoras 3D que constroem tudo para você, dentro de casa, inclusive, a própria casa. Fico perplexo, chego a pensar: pra que um camarada se preocupar em arranjar uma namorada se ele dispõe já da possibilidade de te-la perfeita, com saúde, em série, clonadas e conforme as tendências de mercado. Tatuada, colorida, personalizada, customizada, com baixo custo e descartável. Namoradas que podem vir com dispositivos à sua escolha, como a velha Barbie, e que você pode monta-las a gosto, em casa, mesmo. Podem ser solicitadas através de softs, enquanto você toma um lanche.

– Oi, eu preciso de uma namorada tipo 1,85 m. de altura, morena, cabelos verdes, olhos cor de mel, seios fartos, voz erótica, romântica, que tome coca cola, lave, passe, cante, não reclame absolutamente nunca, de nada, e faça companhia para passeios, academia, teatro, restaurante, dormir, viajar, etc. E sexo, claro. E tanto faz se é LGBT U V W X Z Ypissilone…

Quanto à parte intelectual, ainda estamos pensando, até porque é impossível pensar criativamente uma namorada impressa virtualmente em 3D com inteligência maior que toda a enciclopédia Google, Wiki, etc., e que possa causar sem desconforto, sem discussão, só apenas tolerando sujeitos chatos como eu.

Sério, estou pensando como lidar com essas tendências. E ainda mais agora, que voltei a morar com minha mãe, 73, e ela guarda ainda aqueles velhos discos Long Plays, de vinil, uma radiola, entre outros objetos que foram sucesso do século passado quando eu nasci e ainda se usava grampo para prender as fraudas nada descartáveis. Sim, penso em rapidamente adquirir um robô que faça companhia a minha querida genitora, pois ela não pode ficar só em casa. Os riscos são muitos. Por exemplo, ela gosta de subir na mesa para cutucar com vara o telhado dizendo que há goteiras. Ou subir no muro molhado e cheio de lodo, simplesmente para dar um jeitinho nas plantas, espantar os gatos do vizinho. Mamãe toma medicamentos fora de validade, repete os comprimidos de droga para acalmar e dormir; mistura sabores na cozinha e joga no lixo os seminovos pratos e facas e xícaras de louça. Perde minhas roupas, esquece de pagar contas, ou paga em duplicata, e outras maluquices pertinentes, dizem, à idade.
Se não me engano, e a idade é justificativa para tolices, eu vou pelo mesmo caminho. Descobri que comprei três vezes o mesmo livro. Deixei uma cópia na casa de minha filha, outra no sitio, e trouxe uma no carro. Não cheguei a ler nenhum exemplar até agora.

Gente, a coisa é séria. O doutor Augusto Cury nos chama atenção para a SPA – Síndrome do Pensamento Acelerado, quando já não conseguimos mais parar de pensar e agir estressantemente. Ver TV, ouvir música, dirigir, falar no celular, conversar. No nosso mundo, os comerciais de TV falam muito rápido em caso de dengue, as imagens não duram mais que 2, 3 segundos de uma para outra cena. Ao ver uma mulher em tela, não dá tempo sequer de imaginar se ela é bonita ou um objeto, sexo, cor, nada. Tudo muda muito rápido. As músicas tocam em ritmo acelerado, carros andam em velocidade de foguetes, relacionamentos nem começam já desistimos, crianças nem nascem já tiram selfies e postamos no Face.

Dia desses, estive pensando reaprender a ler, namorar romanticamente, comer e pensar os alimentos ingeridos, tomar coca cola, vestir uma calça jeans, cantar a canção do Roberto, ouvir Raul Seixas, Legião, Titãs, Lous Armstrong, Ray Charles, Edit Piaf, Beatles, Elvis, Michael Jackson. Ah! Mas tudo isso parece tão obsoleto – descupem, deletem; enquanto eu me ponho diante de um museu de grandes novidades, só para citar Cazuza.

Gil Sabino é jornalista e gestor de marketing. g.sabino@uol.com.br


O Portal WSCOM não se responsabiliza pelo conteúdo opinativo publicado pelos seus colunistas e blogueiros.
Os comentários a seguir são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.
// //