Ana Adelaide

Professora doutora pela UFPB.

Geral

TANTO RISO, OH QUANTA ALEGRIA…


22/02/2004

Foto: autor desconhecido.

Porque hoje é Sábado. E de carnaval! E o assunto não pode ser outro. Depois de Muriçocas e de Cafuçus, sobrevivi! Eu sou aquele pierrot, que te abraçou , que te beijou meu amor….Uma das melhores maneiras de brincar o carnaval é brincar sozinha. De palhaço ou pierrot, dependendo do astral. O carnaval, na minha opinião, é uma festa solitária, e é essa solidão voluntária o que mais aprecio. O cenário das Muriçocas é ideal para essa experiência lírica, lúdica e poética – o anonimato. Claro que tem a segurança da avenida que você conhece, do bloco e dos amigos/conhecidos que encontra-se ladeira abaixo. Zumbir sozinha, solta ao vento, observando e brincando, ao som de Fuba e cia, é um prazer. São tantos os tipos! Os alegres , os tristes, os bêbados, os engraçados, os irreverentes, os apaixonados. Uma cerveja aqui, um churraquinho de gato acolá, um trago, um frevo no pé, aquele vizinho que diz oi, o aluno que se surpreende com a professora transformada…os trios, os fogos, o fumacê, o ziriguindum…o transe, e essa coisa indecifrável, alegórica; essa massa humana fantasiada nem que seja dela mesma , no seu momento de glória, de alegria, de canto e de remelexo. Depois, perambulando pela calçada de Tambaú procurando o carro, essa mesma gente exausta se dispersa, de volta para casa e para a vida real.

Cafuçu é outra energia. Blocos dos amigos, do olha eu aqui de cafuçu! Os quinze minutos de fama frente à TV, Você é doida demais! E não tem quem se sinta normal. Montes de homens e mulheres num verdadeiro desfile de breguice – um show aparte! Hilário! Vale a pena toda a escuridão das ruas estreitas do Centro para dar gargalhadas do próprio ridículo, sem medo do exagero do batom carmim, da flor rosa choque, ou da peruca azul. É o Cafuçu! Ironia do destino, é que bem no miolo do bloco, em frente ao Palácio do Bispo, brinquei muito o corço de mela-mela, no final dos anos 60, onde dei o meu primeiro trago de uma bebida branquinha, acompanhada de uma rodela de caju…Saudades das matinais do clube AABB, que quando a corneta tocava, eu me infiltrava no salão dos maiores e também pela primeira vez fiquei emocionada com a música de Zé Keti. Ensaiando os meus passos de mulher, a parte mais linda era mesmo: Vou beijar-te agora, não me leve a mal…Hoje é carnaval!

E no Encontro da Nova consciência, li que Rose Marie Muraro, lançou hoje seu mais novo livro `Memórias de uma Mulher Impossível´, que aliás foi lançado em 1999, e tive o prazer de ler no ano seguinte. Guardei um trecho do livro em que Betty Mindlin ao ler as coisas que a autora havia feito ao invés das que tinha vivido exigiu: `Quero a sua subjetividade. Sua subjetividade ligada ao processo de sua obra.´ Rose assustada, perguntou ao poeta Manoel de Barros: `Manoel, o que faço com a minha subjetividade? E ele sem hesitar: – Põe ela de costas…´ (p. 32)

E lá vou eu mudando de assunto…Bom carnaval e ziriguidum!!!!


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