Rômulo Polari

Professor e ex-reitor da UFPB.

Geral

Só austeridade não basta


18/11/2016

Foto: autor desconhecido.

A economia brasileira está no oitavo trimestre de profunda recessão. No final do biênio 2015/16 o seu PIB terá caído 7% e a renda per capita 9%. Este é o grande problema do país. É preciso sair das verdades teórico-ideológicas sobre esse quadro e ter foco na solução. O fracasso econômico pode levar à implosão sociopolítica.

Qualquer proposta solucionadora que implique em mais um ano de recessão é temerária. O governo Temer parece que optou por essa linha e pode piorar a situação, com o desemprego indo para 14%, cerca de 14 milhões de desempregados. Nesse cenário adverso, e com a queda dos benefícios sociais públicos, haverá uma perigosa asfixia econômico-financeira da grande maioria da população.

O governo Temer não tem um plano de recuperação da economia do país e sim uma política equilíbrio fiscal a qualquer custo. A necessária redução dos altos níveis da dívida e do deficit públicos não gerará, automaticamente, o crescimento econômico. Isso requer novas condições propulsoras e o aproveitamento das que estão disponíveis.

O Brasil está condenado a fazer sua economia crescer, se não quiser correr riscos de enfrentar convulsões sociais de consequências políticas imprevisíveis. A recuperação pode e deve ser iniciada de imediato. Não faz mais sentido a politicagem da crise, até porque o poder já foi conquistado pelo impeachment. É preciso traçar estratégias exequíveis e compatíveis com uma nova fase de expansão econômica.

É possível contar com três condições básicas ao crescimento econômico: grande capacidade produtiva ociosa; altos superavit da balança comercial e reativação dos investimentos e consumo privados. O governo não tem como elevar os investimentos e gastos públicos autônomos, mas tem um importante papel na motivação e indução do protagonismo dos indivíduos e empresas.

As autoridades monetárias do governo têm que mudar a política de juros. As atuais taxas anuais básicas de 14,0%, nominal, e 7,3%, real, quebram as finanças de qualquer país e inviabiliza a economia. Em coerência com a austeridade fiscal e a tendência declinante da inflação para 4,5%, em 2017, é razoável uma correspondente queda gradativa dessa taxa nominal de juro para 8,5%.

O fim da extorsão financeira facilitará as metas fiscais do governo, o que reforçará a confiança nos efeitos da queda da taxa de juro na reativação dos investimentos e consumo. A maior demanda por bens e serviços será atendida com o uso da capacidade de produção ociosa, sem pressões inflacionárias de curto prazo. A nova política de juros viabilizará taxas de câmbio capazes de manter os saldos da balança comercial como força propulsora da economia.

O governo Temer não propôs essa solução. Para as forças políticas que lhe sustentam, a superação prévia do sufoco econômico pode matar as reformas trabalhista e da previdência. O país tende, portanto, a viver uma versão oficial do quanto pior melhor, em aposta de alto risco. Querer essas reformas em meio a tanta recessão e desarmonia social é inviabilizar o que elas têm de positivo e elevar a ira popular contra o governo e o sistema político.


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