Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Brasil

Sem pressa, mas sem perder o sentido de alerta


27/11/2024

Foto: Fábio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil

O ser humano é, por natureza, um ansioso. Impaciente quando não vê seus desejos serem atendidos na urgência almejada. Movido por emoções, se apressa em cobrar providências num tempo que não é, necessariamente, o seu. É o caso em que fica na dependência da justiça. O tempo dela, nem sempre é o mesmo da opinião pública. Estamos vivendo isso no momento atual da política brasileira.

Boa parte da população vive a expectativa de ver os responsáveis pelos ataques à democracia serem exemplarmente penalizados. Não se fala em outra coisa. Alguns já comemorando a finalização do julgamento e a consequente prisão dos responsáveis, outros compreendendo que o devido processo legal deve obedecer ao trâmite normal e isso pode demorar mais algum tempo. Mas é perceptível a cobrança da necessidade de urgência no encerramento desses processos que tratam dos atos antidemocráticos praticados nos anos recentes em nosso país. Os indícios apurados pela Polícia Federal são fortemente identificados, após um procedimemto cuidadoso e rigoroso nas investigações, consubstanciando material probatório bem estabelecido.

É normal que muitos reclamem da morosidade da justiça em nosso país. Mas, ainda que aconteça a pressão popular, é importante garantir os direitos consagrados na Constituição e nas leis processuais penais, a fim de que, no futuro, o julgamento não seja prejudicado pelo apontamento de falhas técnicas. Até porque os julgadores não devem formar juízo sobre uma causa com base no que se debate nas redes sociais, refletindo o pensamento da opinião pública. A Lava Jato é o melhor exemplo de como a justiça açodada termina por ser parcial e imperfeita.

A Procuradoria Geral da República e o Supremo Tribunal Federal têm demonstrado que pretendem analisar o indiciamento com cautela para bem fundamentar a denúncia e o processo na sua integralidade. É verdade que o cerco está se fechando. Diante da gravidade do conjunto probatório apresentado, a população fica perguntando se já não é a hora de punir rigorosamente os criminosos que tentaram matar a nossa democracia. No entanto, o Estado de Direito pressupõe regras, exigindo, então, que o processo seja bem conduzido, sem risco de que no futuro esse esforço seja invalidado. Tem uma conhecida expressão popular que diz: “a pressa é inimiga da perfeição”.

Ainda que haja “fome e sede de justiça”, é prudente, porém, que se tenha um pouco mais de paciência. Afinal de contas, é melhor uma justiça que tarde, do que uma justiça que falhe. Esse cuidado é importante, mas, também, é preciso atentar para o fato de que a demora pode produzir uma impunidade que motive a continuidade das ações golpistas. Reina uma inquietação com o natural receio de que os criminosos fiquem impunes. O Brasil precisa romper com a tradição de impunidade diante dos arquitetos dos repetidos golpes de Estado. Sem anistia. O chefe maior possivelmente será o ultimo a ser preso, porque os subalternos da quadrilha ainda têm muitas informações para fornecer. Mas a hora está chegando. Disso não há mais dúvidas.


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