Ana Adelaide

Professora doutora pela UFPB.

Geral

São Paulo: De Literatura , Diversão & Arte


30/05/2017

Foto: autor desconhecido.

Para Murilo Jardelino, com afeto


Escute seu coração
Respeite sua intuição
Manifeste-se
Não há limitação

Tenha coragem
Tenha raiva
Estamos todas juntas

Siga seu coração
Use sua intuição
Manifeste-se
Não há confusão

Tenha coragem
Tenha raiva
Estamos emergindo
(Yoko Ono)


Na semana que passou (22/05) , participei de um evento – O papel das escritoras na Literatura: A Produção Literária ontem e hoje. em São Paulo, no Memorial da América Latina (Organizado pelo Professor Murilo Jardelino, Professor da Universidade Uninove-SP). Na mesa, a Profa. Dra. Lucimara Leite – “O Papel da escritora ontem. A experiência de Christine de Pizan”, que também apresentou seu livro: Christine de Pizan – Uma Resistência. Chiado Editora, e resultado da sua pesquisa de Doutorado; a Profa. Dra.Tereza Jardinia, “Voz de ontem e hoje”; e eu com a tarefa de falar do “Papel da escritora hoje e a inscrição da mulher na literatura contemporânea – uma experiência de cronista”. A Profa. Rita Couto, foi a mediadora e apresentadora das participantes. Boas discussões sobre mulheres, literatura, livros, experiência da escrita, publicação, o lugar da mulher hoje, etc. Mais surpreendente ainda é ouvir as vozes outras sobre nosso trabalho. Falei dos meus Brincos…, das minhas Tardes…, meus livros, meus assuntos, a crônica como transgressão, como expressão. Perguntas que deram panos pras mangas. Um auditório repleto de alunos desses professores citados e também da Universidade Uninove. Após os autógrafos, ainda ganhamos um presente luxuoso – um livro de ensaios de Antonio Cândido, da Biblioteca do Memorial. Feliz e plena terminei aquele dia.

Mas São Paulo é trabalho. Mas é também diversão e cultura. E não poderia passar em brancas nuvens aquela semana! Uma maratona de possibilidades à minha espera. Agenda na mão, sapatos confortáveis, um lindo scarf no pescoço e pernas pra que te quero!

São Paulo? Penso logo em comida. Na exuberância gastronômica das tantas misturas culturais que ali se instala. Comida árabe? Adoro! Homus, coalhada seca, iguarias. E todos os véus que me vem à imaginação. Comida Thai, arroz de jasmim, chá de gengibre com hortelã, drink de frutas vermelhas, tin tin. O Spot? Tem truta Sim Senhor! Uma cantina aqui, uma pizza acolá e eis que temos o Eataly! Um complexo gastronômico de pastas, condimentos, vinhos, azeites e um risoto caprese de lamber os beiços. Difícil não se deixar contaminar pela Itália, sua tradição da Mama, seus molhos pomodoros, manjericão e tantos outros aromas. De verbena inclusive. Um sabonete para me perfumar!

E nesse passeio de sabores e gostos, como resistir ao Mercado Municipal? E por entre um mergulho nas uvas doces dos espumantes e nas tâmaras gigantes do oriente, provei maracujá Açu. Dos meus tempos de criança, meu pai trazia do mercado e nós meninas mergulhávamos naquela gosma doce dos deuses. Mais tarde, minha prima Ana Flávia Veloso Borges nascia, e meu pai dizia que: “Flavinha tinha os olhos da cor desse maracujá”. O bolinho de bacalhau tem um formato fálico. Já o pastel de camarão? Só no crocante. Uma festa vadia e apimentada. Um mergulho sim, nos prazeres da carne. Um pacote de joelho de porco – encomendado pelo cunhado à minha irmã. Amor de joelhos! Eu diria! Literalmente!

Sábado? As pernas vão andando sozinhas para a Praça Benedito Calixto, e os meus brincos todos! Astral de cidade cosmopolita. Gente pela calçada. Gente bonita. Gente….

A Virada Cultural? Uma outra aventura. Uma moçada jovem a dançar Kpop. Deu a louca nas meninas! E nos meninos! Todas a dançarem iguaiszinhos no Centro Cultural São Paulo! Questão de Gênero: Menino ou menina? Me perguntava Bebé, minha irmã, a procura dos sinais mais explícitos, que agora se misturam nos codinomes beijaflor, que eu nem dou mais conta. Soube que são mais de 60! Quanta diversidade! E que lindo ver tudo isso junto e misturado! E lá se vai um homem vestido classicamente, mas com uma saia rodada indiana na cintura, em plena Avenida Paulista. Surreal! E ótimo! Quem há de negar que essa lhe é superior? Mariana Aydar com sua figura lânguida a requebrar; Jurçara Marçal com o seu som experimental a cantar Tom Zé, e tantos outros acordes agudos eletrônicos. O público delirava! E observar o entorno fazia parte do show. Jovens, maduros, crianças de colo. São Paulo tem disso. Uma selva, onde todos tem direito a um pedacinho dos perigos todos.

Avenida Paulista – tinha manifestação, chuva, poesia, e agora a Casa do Japão e todos os seus papéis de arroz e bambus. Uma bela história! Depois, a Livraria Cultura e aquela escultura linda no teto. Avistei de longe Augusto de Campos e seu boné/boina. Pensei: “estou no lugar certo!” E não é que comprei o cd de Roberto Carlos? Queria ouvir as músicas do show! O meu lado popular. Mas para o outro lado não se sentir menosprezado, trouxe também o CD de Mauro Senise, Edu Lobo e Cia.

Nas artes plásticas uma ida ao Instituto Tomie Ohtake, para ver Yoko Ono com sua bela e instigante exposição, que pinta com as palavras, “ O Céu ainda é azul, você sabe….” – Sempre admirei a oriental que seduziu e apaixonou-se por John Lennon. E agora, tive a oportunidade de conferir a sua arte. Uma artista preocupada com a sustentabilidade da terra e dos afetos. “Sinta! Peça Sol! Observe o sol até que ele se torne quadrado”, nos pede Yoko. Pedras, pregos e cacos para que colássemos e imaginássemos as releituras do mundo. Uma homenagem às mães, com milhares de bilhetinhos – “Mamãe é linda! Escreva suas memórias sobre sua mãe” . Eu deixei lá o meu: “Querida mamãe!” Outra sala com milhares de relatos de estupro. As mulheres? Seu foco. Mas um foco mais subjetivo – o da leveza, o da felicidade e da realização.

“Árvore dos Pedidos para o mundo. Faça um pedido. Peça à árvore que envie seus pedidos a todas as árvores do mundo.” Eu deixei lá o meu pedido na árvore também. Fiquei trêmula na sala da Sombra de Hiroshima, com o nome Esqueça! Onde a imagem da pessoa que está na sala permanece na parede depois que um flash de luz brilha como a explosão da bomba atômica de Hiroshima. Literalmente explodimos. Um truque da tecnologia para que possamos passar por essa experiência sensorial das mais perturbadoras. Aquela foto histórica do casal de irmãos a correr despelando com a gota gigante de fogo atrás não poderia passar desapercebida dos meus olhos e do meu corpo. Senti-o queimar. Mesmo que simbolicamente. Triste.

No Centro Cultural Banco do Brasil, fui buscar os sonhos nas aquarelas do artista pernambucano Cícero Dias. Não se chega naquele lugar impunemente. Primeiro se extasia com o espaço belo e suntuoso. Há alguns anos tinha assistido Happy Days, de Samuel Beckett. E fiquei com toda a performance de Vera Holtz na cabeça. Dessa vez foi diferente. De Recife para o mundo. Para o onírico. Eram os deuses sonhadores? Tinha assistido o documentário sobre o artista compadre de Picasso e tinha me encantado com o seu trabalho. Agora pude inclusive ouvir o poema de Paul Éluard, Liberdade, poema esse que, Dias jogava aos soldados da resistência francesa na época da guerra. Ouvir aqueles poemas em francês me levou a ultrapassar todas as fronteiras de espaço e tempo.

Nas campinas do horizonte
Nas asas dos passarinhos
E no moinho das sombras
Escrevo teu nome

Em cada sopro de aurora
Na água do mar nos navios
Na serrania demente
Escrevo teu nome

Até na espuma das nuvens
No suor das tempestades
Na chuva insípida e espessa
Escrevo teu nome
….Liberdade de Paul Éluard/Carlos Drummond e Manuel Bandeira

A Cracolândia (Região do Centro onde se concentra os mendigos e usuários do crack) tinha passado pelo horror da pretensa higienização do prefeito Dória. Partiu meu coração atravessar a Praça da Sé, a 25 de Março, e ruas adjacentes. No frio e na garoa, mendigos, loucos, moradores de rua, e miseráveis. A miséria urbana , como maltrata!

E no meio do caminho tinha uma loja de esportes! Do tamanho de um shopping. E fiquei vesga de tantas jaquetas, tendas, botas, mochilas, luvas, calças , montanha, vento, barco, trekking, trilhas, flisses e boinas. Para cada esporte um guarda roupa próprio. E eu? Que sou lerda e ando devagar, fiquei tonta. E me deu canseira antes mesmo da primeira trilha. Decididamente não sou uma desportista!

E pra terminar, só abraços e brindes com vinho, café, ou cerveja com os amigos queridos e afetos tantos que nos abraçam, que vem de longe, da vida, e do amor.

Abraços para Leda Rejane, Myres, Murilo Jardelino, Dena Cunha, Helena, Marília e Paula Dieb, Gabriel e Luisa Resende e tantas outras pessoas queridas que me brindam com mensagens, bilhetinhos e gosto bom da amizade .

Especiais abraços para Bebé Peixoto, minha irmã e companheira de viagem e de lojas esportivas! Obrigada querida!

Alguma coisa acontece no meu coração. Em São Paulo! Sempre!

Ana Adelaide Peixoto – João Pessoa, 26 de maio de 2017


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