Artes

Roupa Nova, sempre, e os bastidores da MPB


16/12/2020

Roupa Nova, quarenta anos de estrada com a formação inicial e grandes sucessos.

O grupo musical Roupa Nova reaparece novamente na mídia, desta vez, lamentavelmente consequente da morte do vocalista Paulinho, vítima de complicações a partir da infecção do Coronavírus. Eis aí, que este fato nos acende velhas lembranças, dos tempos em que trabalhávamos nas antigas gravadoras de discos.

No início dos anos 80 o mercado fonográfico vivia o auge. A competitividade exercia um poder de concorrência agressiva tomando os espaços possíveis nas programações de televisão e rádio, e páginas de jornais de todo o Brasil. As multinacionais se desdobravam em investimentos de resultado com contratações cada vez mais valorosas. Para promover seus artistas, investiam milhões de dólares na mídia, diga-se de passagem, em promoções muita vez fechadas na calada da noite. Era o tempo do jabá, termo cunhado para a propina paga aos programadores de rádio para tocar o máximo de vezes as chamadas ‘músicas de trabalho’ – aquelas escolhidas para se apostar e fazer no sucesso.

Feito isso, as músicas e seus artistas tornavam-se sucesso atraindo milhões de vendas de cópias de discos, e os shows superlotavam as casas de todo o país. Uma música na trilha sonora de uma telenovela tinha valor indizível diante do resultado impactado.

Justamente nessa época, eu fazia parte de um bom grupo de profissionais que representava a gravadora EMI Odeon, que tinha no elenco nada mais, nada menos, que nomes como The Fevers, Djavan, Milton Nascimento, Gonzaguinha, Clara Nunes, João Nogueira (pai de Diogo Nogueira), Simone, Ivan Lins, Angela Maria, Agnaldo Timóteo, Fernando Mendes, Reginaldo Rossi, José Augusto, e no elenco internacional The Beatles, Rolling Stones, e Queen, apenas para citar alguns de muito outros astros da música. Havia a concorrente Philips/Polygram, que detinha nomes como Tim Maia, Raul Seixas, Caetano Veloso, Maria Betânia, e a CBS/Sony, com Roberto Carlos, Fabio JR., Fagner, Baby Consuelo, Pepeu Gomes, a Turma do Balão mágico,  Zé Ramalho, Elba Ramalho, a SOM Livre com Xuxa e Rita Lee, e aWEA do grupo Warner, sendo estas as mais fortes do mercado, sem esquecer da Continental e da Copacabana, as indústrias brasileiras que incomodavam mordendo a fatia de mercado, ainda, a Atração Fonográfica que permanece muito ativa agora no páreo online, e que acabara de entrar ranking através das mãos do produtor Wilson Souto Júnior, aquele mesmo, responsável pela vanguarda do Teatro Lira Paulistana, por onde passaram Titãs, Arrigo Barnabé, Tetê Espíndola e outros, e assina o sucesso do ritmo Lambada para o mundo inteiro, além dos primeiros discos de Roberta Miranda, Daniel, Beto Barbosa, Chiclete com Banana, Muzenza, Olodum, entre outros da MPB ao rock, ao clássico, pagode, sertanejo, forró, e todos os ritmos.

Esse caminho todo pra lembrar do momento em que o grande produtor romeno Miguel Plopschi, diretor e saxofonista radicado no Brasil, fundador do grupo The Fevers, e responsável por grandes nomes e grandes lançamentos, convidado pelo espanhol Manolo Camero, assume a direção artística da antiga RCA Victor,  e leva com ele quase 100% da equipe da EMI Odeon, onde atuou por vários anos. Foi lá, que resgatamos nomes que andavam desaparecidos como Alcione, Joanna, Nelson Gonçalves gravando com amigos, Luiz Gonzaga e a participação de Elba Ramalho, Gal Costa, Dominguinhos, e a própria Gal Costa, lançando o hit ‘Um Dia de Domingo’, da dupla de autores Michael Sullivan (pernambucano) e Paulo Massadas. Também foram contratados Lulu Santos, Lobão, Engenheiros do Hawai, Erva Doce, Alceu Valença, Fevers, e a partir daí o Roupa Nova, que passou a ser destaque nas trilhas sonoras de novelas e programações de rádio de todo o Brasil, com um sucesso atrás do outro.

Roupa Nova, nome de uma das músicas de Milton Nascimento, é uma banda composta por Paulinho (falecido esta semana), Serginho Herval, Ricardo Feghali, Kiko, Cleberson Horsth e Nando, e apresentava letras doces, fáceis de memorizar e serem aceitas pelo coletivo popular, letras sem protesto, sem serem, nem deixarem de ser, rock n´roll, mas que ficaram eternas na história da música popular brasileira. A banda tomou fôlego e fez, até hoje, quarenta anos de estrada. É a banda com mais tempo de duração e formação original. É sem dúvida um fenômeno de mercado, um nome a ser respeitado, embora a crítica nunca o houvesse avaliado com destaque, o que é sem dúvida uma injustiça. Apesar disto, a marca Roupa Nova traduz forte simbologia de sucessos que ficarão para sempre na mente de gerações.

Sucessos como Volta Pra Mim, Linda Demais, Dona, Whisky a Go Go, Sapato Velho, Seguindo no Trem Azul, A Força do Amor, Amar É, Meu Universo é Você e tanto outros.

E pra finalizar parte dessa história de bastidores e sucessos, deixamos com o leitor o link de um dos mais belos clipe do Roupa Nova – Noites Traiçoeiras.

https://youtu.be/nR_Wd-is3cw


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