Ana Adelaide

Professora doutora pela UFPB.

Geral

Roberto Carlos – São tantas emoções!


16/05/2017

Foto: autor desconhecido.

Para Silvio Osias e Martinho Moreira Franco

Na semana passada fui ao show do Roberto Carlos. Confesso que tinha planejado ir. Desisti pelos preços. E no último minuto, incentivada por um fã ardoroso, comprei o ingresso , paguei caro, mas me dei ao desfrute de ir ver o Rei. Sozinha pego um Ubber e o que está a tocar – Mayara e Maraísa. Só para começar a noite.

Tive oportunidade de ver Roberto na minha meninice. Primeiro no Astreia , escalando muros e obrigando a minha mãe (jovem na época) a fazer o mesmo. Até hoje ela re-lembra : “o que não se faz por uma filha!” Mas sei que adorou a desculpa e ama Roberto Carlos até hoje. E quando escuta “Como é grande o meu amor por você” , diz que se lembra dos namorados das quatro filhas…

Todos esses anos, assisto ao programa Especial de Roberto Carlos na TV, final de ano. Quase um ritual para passar a limpo aquelas músicas que fizeram a trilha da minha adolescência e que até hoje me emocionam. Gosto muito da voz de Roberto e do seu repertório . Claro que sua fase religiosa não é a minha preferia, e muitas outras músicas também não gosto. Admiro muito o tempo que se mantém como Rei, com toda sua legião de fãs que não arredam o pé. Há muitos anos que não compro um cd seu, mas a grande maioria das suas músicas, vivi, fiquei na fossa, me encantei, namorei, me embalei nos sonhos de uma jovem menina-moça.

Logo no início do show, Roberto nos brinda com Que vá tudo pro inferno. Li nos jornais e no blog do fã e crítico Silvio Osias, que , devido à sua doença (TOC), ele não cantava essa música ; a palavra inferno lhe maltratava. Gracias a la vida, fez tratamento e já na TV cantou. Agora ouvir esse hit que adoro, com arranjos mais que incrementados, me passou o filme. Tinha meus 11 anos, veraneava em Areia Dourada (que chamávamos Praia do Osso), gostava de pensar na vida (sempre fui sonhadora e contemplativa ), quando ouvi essa música pela primeira vez . E desde então que fiquei tocada e tomada. A letra era transgressora. O ritmo também. E eu, uma pré-adolescente que queria mandar tudo pro inferno! E o meu compact-disc relamente furou de tanto que ouvia e dançava pela casa, ou pelo coqueiral lindo daquela casa à beira mar que meu pai comprara, e um dia tive o luxo de veranear.

O show, como já disse Silvio, é impecável. Uma qualidade que supera todo e qualquer desconforto da casa de shows. Um som! Uma qualidade! Uma orquestra de músicos inigualáveis. As cordas, os metais, e a voz bela de Roberto. Profissionalismo e respeito para com os fãs. Sem falar das dezenas de rosas jogadas às mulheres enlouquecidas â beira do caminho. Digo do palco! Claro que, se pudesse, meteria a mão naquele seu cabelo e assanhava todo. Mas acho que, com a sua doença da perfeição, imagina que aquele cabelo se parece com os cachos lindos ao vento da Estrada de Santos. Tudo se perdoa! Inda mais um cabelo!
Enquanto assistia à Lady Laura, chorei com saudades de uma mãe perdida no meu inconsciente; Porque que é eu rolo na cama – sem comentários; Detalhes? Nós dois!, Amada Amante (Ah! Quem um dia já não foi?!), e principalmente Sua Estupidez – uma nostalgia for the past! fiquei com saudades eternas dos meus namorados ou amores pela vida. Alô Alô pessoal! Lembrei de cada um de vocês, viu!. Dos beijinhos no portão escondido. Dos amassos proibidos. Dos olhares arregalados. Dos arrepios. Dos sonhos eróticos , mas não só. De beijo mais longo. Do mais estrelado. Dos toques. Da iniciação sexual. Dos jambeiros cúmplices/silenciosos da minha casa. Do escondido. Do velado. Do sagrado. E mais ainda do profano! E das pequenas transgressões da menina. E das grandes também. É por isso que gosto de Roberto! Sua música embalava um tempo da jovem guarda, que era um tempo meu. Assistia todos os programas de TV- ( Só depois viria a ser mutante, tropicalista, revolucionária e mulher de Atenas!) Comprei minha calça Saint-tropez, vesti mini-blusa, me rebolei nas matinês do Cabo Branco. E peguei na mão daquele que um dia viria a ser o meu marido. E outras também…às escondidas e às claras. Roberto fala de tudo isso. E com uma melodia, que nos transborda de alegrias, saudades, nostalgia e amor.

No show, fiquei feliz. Muito. E adorei ver os casais jovens dançando. E pensei: “que amor!” , dançar ao som de Roberto , ao vivo. Ao meu lado tinha um casal de meia idade (não sei bem o que isso significa?) e quando Roberto cantou seu mais novo sucesso (trilha da novela A força do Querer) Sereia, a jovem senhora de cabelos brancos agarrou selvagemente seu companheiro e tascou-lhe um beijo na boca. Beijo em pé, como dizemos! Ele carinhosamente abraçou-a e retribuiu, e daí engataram uma dança de rosto bem colado, ardentes e botando o amor em dia. Pensei: “Ai Ai meu Deus! O amor é mesmo lindo!”. Senti muitas saudades. E confesso que nem foi somente do meu querido Juca (amor eterno), mas dos outros amores também. De todos. Dos meus antigos namorados. Nem foram tantos! Mas um bocado para o gasto das lembranças queridas e para cantarolar Roberto Carlos e os botões da blusa…

Ainda estou a cantar pelo meio da casa: Chegaste, Sereias, Esse Cara sou eu, Outra Vez , Como vai você, Olha, Desabafo, Se você pensa, e Como é grande o meu amor por você que, antes era a minha mãe que chorava, hoje sou eu, com uma saudade grande dos amores da vida, que na verdade é uma saudade de mim mesma, e mais, saudade da vida. Saudade do tempo! Roberto nos resgata essa vida, e mais ainda, esse tempo.

Foi bárbaro!

Ana Adelaide Peixoto, 13 de maio, 2017.
 


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