Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Geral

Respeitemos a democracia


14/03/2015

Foto: autor desconhecido.

Não tenho medo da classificação que me derem os que discordarem do que expressarei aqui. Até porque ainda acredito que vivemos numa democracia e, por isso mesmo, acho que tenho o direito de falar o que penso. Pensar e tornar público o raciocínio ou opinião sobre qualquer coisa está na essência de um regime que se diga democrático.

Entendo que estamos vivendo um momento difícil da nossa história política. Urge a necessidade de mudança dos nossos costumes políticos que estão viciados e atentatórios aos princípios da ética e da moralidade. Compreendo e advogo que os agentes políticos que fazem uso da desonestidade e da irresponsabilidade no trato da coisa pública sejam punidos severamente, de forma exemplar. Mas que isso seja feito sem querer criminalizar só os políticos que incomodam uma determinada fatia da população, partidarizando julgamentos, condenando-os e jogando-os à execração pública antes de investigados e provadas suas culpas. Defendo também que os processos eleitorais deixem de ser financiados por empresas privadas, o que vem ensejando o comprometimento corrupto dos candidatos com seus patrocinadores.

Essas são motivações que justificam o povo ir às ruas, gritar pela decência na prática política, pelo combate intransigente e justo à corrupção, e, principalmente, pela defesa da democracia, renegando toda e qualquer influência que leve os incautos a não respeitarem o que definem os preceitos legais de observância dos nossos direitos individuais e coletivos. É o legítimo direito de manifestação a que nunca devemos abrir mão.

Todavia, não consigo enxergar boa intenção cívica na bandeira de luta pela derrubada de um governo democraticamente eleito pelo povo, para satisfazer a vontade dos que odeiam a democracia e estão a serviço de interesses escusos em detrimento dos anseios verdadeiramente populares. Isso não tem outro nome, é golpe, por mais que não aceitem os idealizadores de tal movimento. É ruptura democrática. Essa brincadeira irresponsável já nos levou a uma ditadura militar nos anos sessenta do século passado. Claro que as circunstâncias são outras. O governo, apesar do esforço da mídia golpista, tem uma base social de apoio que impediria esse retrocesso político.

Queira Deus que não cheguemos a uma luta fratricida de classes sociais, o que, na verdade, está sutilmente interessando aos golpistas. A população que não se deixa enganar pela farsa dos pseudo democratas, deve ficar atenta para não perdermos esse bem maior que, a muito custo, conquistamos: a liberdade. Não permitamos que incendeiem o país. Desarmemos os espíritos. Esse ódio aos que estão no governo, e diga-se de passagem como resultado da vontade popular, virou uma sociopatia.

As estratégias cuidadosamente articuladas pelo golpismo ferem a ordem democrática. Parecem refletir o cansaço das derrotas eleitorais. Se querem mudar o governo que o façam no voto e esperem a conclusão do mandato constitucional conferido pelo povo nas últimas eleições.

Sei que esse texto vai despertar a ira de muita gente, mas é um direito que me assiste: dizer o que penso, mesmo que contrariando alguns.

 


O Portal WSCOM não se responsabiliza pelo conteúdo opinativo publicado pelos seus colunistas e blogueiros.
Os comentários a seguir são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.