Cultura
Puxa o fole, sanfoneiro
19/07/2024
Nessa terça, o sanfoneiro – ou acordeonista, como ele prefere ser chamado -,Valter Albuquerque chega aos oitenta e seis anos, numa forma invejável, esbanjando vitalidade e talento.
Na bagagem ou matulão, carrega dezenas de composições, muitas delas chorinhos e valsas, e um sem número de interpretações de alguns clássicos da música popular, muitas delas com arranjos de sua autoria.
Graças a ele e tantos outros virtuosos de sucessivas gerações, o seu instrumento vem conquistando um número cada vez maior de adeptos e revelando músicos que não deixam o público cochilar.
Por acaso, convivi por um rápido tempo com o genial Sivuca, e cheguei a gravar uma apresentação icônica desse paraibano de Itabaiana na longínqua e pouco conhecida Zabelê, terra da boa cantora Sandra Belê.
Ao lado do rei Luiz Gonzaga, ele e Dominguinhos formaram a tríade da sanfona que contribuiu decisivamente para incluir o instrumento nas melhores orquestras do país.
Nesse contexto, Valtinho é o último grande intérprete de um tempo ido que deixa técnicas e ensinamentos a serem seguidos, e um sentimento de dever cumprido e amor pelo que faz.
O mesmo amor que vi transparecer no rosto de uma criança que chegou dia desses na padaria, apresentada por um pai orgulhoso que acredita no talento da filha e na sua paixão pelo instrumento.
O nome dela é Antonella e o bom é que ela não está sozinha nesse barco. Tem também a Laís, da dupla com Luiza e a hoje adolescente Bella Raiane, que trocou o chão de terra batida por palcos emblemáticos da América e da Europa.
E tem também a Lucy Alves, que fez da sanfona uma arma para conquistar novos e maiores espaços como intérprete, compositora, bailarina e atriz.
Outro grande do forró atende pelo nome de Abdias, que apresentou o gênero ao Brasil na gravadora CBS com um time de notáveis como Marinês – e sua gente – e o Trio Nordestino de Lindú – o sanfoneiro – Coroné e Cobrinha.
Nos dias atuais destacam-se Flávio José e sua filha Lara Amélia e também o campinense Amazan, que além de tocar, fabrica e exporta o instrumento para um público cada vez maior, ajudando a propagar a sua sonoridade pelo mundo afora.
De minha parte, já estou escrevendo e pretendo estrear ainda esse ano, um musical com o nosso Valtinho do Acordeon com a participação de seus filhos músicos e de alguns convidados anônimos e famosos.
Com isso, vou tentar contar para a história a trajetória desse músico dentista, que sempre se dividiu entre teclas e dentes, com rara maestria em ambas as funções.
E também ficar frente a frente com o instrumento que sempre me fascinou, como se fora uma mulher de formas perfeitas e timbres harmoniosos, capaz de seduzir quem lhe toca e se deixar levar.
Além do que, sempre gostei da sanfona ou acordeon, desde quando ouvia a música francesa de Piaf e tantos outros na vitrola do meu quarto.
C’est la vie.
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