Rômulo Polari

Professor e ex-reitor da UFPB.

Geral

Por que juros tão altos?


29/07/2016

Foto: autor desconhecido.

O Banco Central (BC) publicou a Ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (COPOM) que manteve a taxa anual de juro Selic em 14,25%. A decisão teria sido inspirada na queda mais rápida da inflação, na busca da meta de 4,5% em 2017. Mas tende a trazer efeitos econômicos adversos e agravar o deficit público nominal.

O Comitê apresentou um cenário nacional atual de melhoria da atividade econômica e de crescimento do PIB em 2017. As suas expectativas inflacionárias de 6,75% em 2016 e 4,5% em 2017 estão próximas das da pesquisa Focus, 7,2% e 5,3%. O BC quer fazer esses níveis de inflação previstos pelo mercado convergirem para os seus. Mas quem disse isso só é possível com a Selic de 14,25%?

O COPOM exagerou no risco inflacionário de curto prazo devido à recente elevação nos preços de alimentos. Errou ao supor que isso pode se mostrar persistente, dado o processo de transmissão dos preços do atacado para o varejo. Contra essa inflação circunstancial por choque de oferta, quer seja devido a seca, peste, geada, etc. ou sazonalidade, a política de juro é inócua.

A nova equipe do BC não apresentou nada de novo. A meta inflacionária de 4,5%, que tanto brada, vem de longa data, assim como a adoção de supertaxa básica de juro contra a inflação. As previsões do mercado de queda da inflação resultam de ações políticas fiscais e monetárias anteriores. Afinal, os altos níveis de desemprego, capacidade ociosa e recessão daí decorrentes são as fontes básicas da desinflação.

A razão maior do COPOM, para juros tão altos, foi a pressão por ajustes na economia: reformas fiscal, trabalhista e previdenciária. A sua Ata prevê riscos inflacionários, que se apresentariam caso houvesse percepção de que os ajustes seriam abandonados, ou postergados significativamente. Nesse cenário, o processo desinflacionário tenderia a ser mais lento, aumentando os custos de levar a inflação para a meta.

Ora, senhores monetaristas exagerados, a Nação já pagou, além da conta, os custos da desinflação: queda do PIB de 5%, desemprego de 11%, queda do salário real e gigantesca transferência de recursos do Tesouro Nacional aos capitalistas financeiros. Não ameacem o país com falsos riscos que inibem os sinais de recuperação econômica.

Os dirigentes do BC clamam pelo equilíbrio fiscal do governo. Sem isso, se dizem obrigados a manter a taxa básica de juro muito alta. Esse discurso não faz sentido, no caso brasileiro atual. Com o peso que essa taxa de juro tem no deficit público, passou a ser possível e razoável um ajuste monetário menos danoso às finanças governamentais.

As causas do deficit público nominal do Brasil de 10% do PIB são o deficit primário do governo e os juros sobre sua dívida. Estes equivalem a 7,5% do PIB. Se a taxa Selic caísse em 4%, a conta anual de juros da divida do governo federal de R$3 trilhões cairia o equivalente a 2% do PIB, com expressiva contribuição às finanças públicas.

O desajuste das contas públicas do país é um grande problema. Mas urge reconhecer que, além da política fiscal, a política monetária pode ajudar na solução. Com a Selic de 14,25%, o BC está na contramão, ao dificultar o crescimento econômico e contribuir para o aumento da dívida e do deficit públicos em relação ao PIB.
 


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