Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Política

O temor à habilidade do entrevistado


16/04/2021

Ao jornalista competente se faz necessário ter a capacidade de saber identificar verdades e mentiras do seu entrevistado, sem a ajuda de um polígrafo. O repórter despreparado não consegue elaborar uma entrevista sem a necessidade de construir suas perguntas de forma a prever como serão respondidas. É o chamado questionário pré-editado. Tem medo de ser surpreendido com informações que desconhece ou que desmontem suas opiniões.

Geralmente esse profissional da imprensa se recusa a debater com pessoas mais inteligentes do que ele. Principalmente quando se tratam de personagens do mundo político. Porque, além da insuficiência intelectual para enfrenta-los, levam em consideração, também, o antagonismo das ideias que defende apaixonadamente. Receia se ver em situações de embaraço, na desmoralização pública das suas convicções.

O mundo midiático constrói imagens falsas sobre figuras do mundo jornalístico, colocando-as como referências de bom exercício profissional. Tornam-se ídolos fabricados que não conseguem resistir a provas de lucidez no confronto. Crescem seus prestígios no solo fértil do baixo nível cultural de boa parte da população. O embate de ideias é um desafio que ameaça a reputação que tentam manter.

Afirmar que só entrevista alguém com um detector de mentiras ao lado, revela o temor do repórter em enfrentar uma conversa séria com alguém que reconhece ser mais habilidoso do que ele. Quando o jornalista estabelece condições e define exigências para conceder a oportunidade de entrevista, é demonstração clara de sua inaptidão para manter um nível responsável e sério na conversa, além de se evidenciar uma postura de desrespeito e grosseria com a personalidade pública que termina por declarar como desafeto e aos que costumam lhe dar audiência.

Passa a impressão de que fugir da pauta antecipadamente organizada, pode atrapalhar raciocínios e, por isso, dificultar a condução da entrevista como havia planejado. Abordagens imprevisíveis deixa-o em condições de explícito nervosismo. Daí a definição de condições para que a entrevista seja realizada. Tem que ser mediante obediência rigorosa às restrições impostas, tanto por ele, quanto pela empresa de comunicação da qual é contratado.

O repórter precisa ter a habilidade de instigar o entrevistado. Assim como o entrevistado tem que saber se desvencilhar das perguntas inconvenientes apresentando explicações convincentes. Quando o jornalista se confunde com o militante político, perde a credibilidade e o respeito por sua atividade profissional.

Rui Leitão


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