Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Entretenimento

O “nada” precede ao “tudo”


02/02/2020

Alziro Zarur, autor do "Poema do Nada"

Eis um tema que desperta questionamentos e teses as mais complexas e diferenciadas: o nada. Porque a sua concepção depende de como esteja sendo analisada, se filosoficamente falando, se buscada na observância de princípios cosmológicos ou simplesmente questionando a ocupação de espaços físicos. O que não podemos deixar de concluir é que o “nada” precede ao “tudo”.

O “nada” é a ausência de algo, inexistência de coisa alguma, negação do “ser”. Logo, para que exista o “tudo”, é preciso que ele preencha o “nada”.O filósofo alemão Martin Haidegger disse: “a importância do nada para mim é a possibilidade de transcendê-lo e chegar ao tudo”. O que representa dizer que vivemos, a todo instante, procurando ocupar espaços vazios na construção do tudo que queremos.

Leibniz lança uma pergunta: porque há algo em vez do nada? Ele sustenta a tese de que a origem da realidade se fundamenta na existência de Deus. Essa arguição nos leva a indagar: então já existia algo antes, Deus? Ele responde afirmando que Deus não é algo, porque é eterno, sempre existiu. No agir humano, entretanto, todos os acontecimentos e objetos nascem de acontecimentos e objetos anteriores. Nada se cria, tudo se transforma, diria Lavoisier.

Assim o “nada” é o antes do tudo. O tudo é uma constante mudança, a ideia do “devir”, segundo Heráclito. O “nada” então se faz presente no nascimento, na existência e na morte. Esse poema de Zarur expressa bem essa compreensão: “Nada,/ eu te invejo porque não vives,/ eu te invejo porque não amas,/ eu te invejo porque não sofres,/ porque não lês,/ porque não vês,/ porque não ouves. Nada,/ quem me dera ser nada, como tu,/ para sentir,/ no Nirvana da tua inexistência,/ a impassibilidade do Não-ser! Nada,/ para mim és/ Tudo”.

No nosso viver não pode existir o “nada”, uma vez que vivemos em permanente mutação. Por isso costumamos dizer “nada será como antes”. O que no passado era “nada” passou a ser “tudo”. Se nos conformarmos com o “nada” não construiremos o “tudo” que desejamos.

Rui Leitão


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