Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Geral

O desapego


21/11/2014

Foto: autor desconhecido.

 

O desapego é uma atitude de difícil prática. Na vida temos uma tendência natural a valorizarmos mais o Ter do que o Ser. Daí vem a complicação para assumirmos a decisão de nos desapegarmos de algo, seja no campo material, seja nos aspectos emocionais.

O problema é que nunca percebemos que o apego aprisiona, rouba nossa liberdade, cria uma sensação de dependência que não nos faz bem. O medo de perder aquilo a que nos apegamos provoca angústia, preocupações, tristezas, queixas, ciúmes, etc. São sentimentos que só concorrem para a infelicidade. Parece até que não conseguiremos sobreviver sem o objeto do nosso apego.

Mas é importante compreender que desapego não representa desistência, desinteresse, fuga. Desapego é apenas a percepção de que somos livres por natureza. Nada, nem ninguém poderá fazer com que nos sintamos presos a pertencimentos obsessivos. O amor, que nos proporciona o sentimento de apego, não desaparece quando exercitamos a capacidade de preparação para o desprendimento. Apenas se faz necessária a consciência de que a perda do que queremos tanto, não pode causar efeitos traumáticos na nossa vida. Da mesma forma que devamos agir com racionalidade quando identificamos que o apego está repercutindo maleficamente no nosso estado de espírito. Então, é chegada a hora de desprender-se, soltar-se, libertar-se.

O desapego é um dos mais importantes ensinamentos da doutrina budista. Nela há o entendimento de que “as coisas na vida e no mundo estão em constante mutação; por isso ninguém deve se tornar apegado a elas”. E nos escritos “A Terceira Nobre Verdade”, de Siddharta Gautama, o Buda, diz: “o sofrimento cessa, quando o apego pelo desejo cessa”. Isso representa dizer que sem o desapego não se encontra a paz de espírito, a tranquilidade da vida.

O apego nos oferece prazeres, muitas vezes ilusórios e efêmeros. Portanto, o processo do desapego, exige uma dose de coragem para dar o primeiro passo. Resistimos enxergar a verdade de que a felicidade momentânea vivida pode produzir marcas dolorosas no futuro.

Enfim, o ponto inicial para praticarmos o desapego é minimizar a importância do sentimento de posse, tanto no que se refere a objetos, quanto a pessoas. Ninguém é dono de ninguém, assim como nada é propriedade de alguém eternamente. Todas as situações são possíveis de alterações. Aquilo que nos pertence em algum momento, pode fugir do nosso controle de posse a qualquer instante. Então o exercício do desapego faz diminuir a probabilidade da ocorrência de eventos provocadores de sofrimento.

• Integra a série de crônicas “SENTIMENTOS, EMOÇÕES E ATITUDES”.


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