Rômulo Polari

Professor e ex-reitor da UFPB.

Geral

O atraso não é obra do acaso


20/01/2012

Foto: autor desconhecido.

A política paraibana está em transe. O Prefeito de João Pessoa, Professor  Luciano Agra, que tem uma administração com mais de 60% de aprovação popular, desistiu da sua pré-candidatura à reeleição, lançada há cerca de um ano.

A sociedade paraibana, mais do que surpresa, está decepcionada e indignada. A razão é simples: Luciano Agra é um homem sério, competente, dedicado e comprometido com o interesse social. Afinal, que política é essa, a da Paraíba? Luciano praticamente foi expulso da disputa pelas suas virtudes públicas. É preocupante e lamentável, se isso o fazia "um estranho no ninho", nas suas supostas bases partidárias.

É triste constatar esse desprezo político pela seriedade e competência. A Paraíba necessita de políticos inovadores, talentosos e com ideias desenvolvimentistas. Só não vê quem não quer. A politicagem, a retórica vazia, a demagogia e a busca do poder a qualquer custo ultrapassaram os limites da razoabilidade.

Os paraibanos não concederam mandatos a quem quer seja para, em seu nome, promover o atraso. A Paraíba é um dos estados mais pobres do Nordeste. Nas últimas  décadas, a sua realidade socioeconômica vem sendo marcada por um severo processo de involução relativa.

Dos anos 1960 aos 1980, a economia da Paraíba foi a quarta maior, entre os nove estados do Nordeste. Nos anos 1990 caiu para a quinta posição e, no período 2000-2010, passou a ser a quarta menor. A renda per capita paraibana, na década de 1960, chegou a ser a terceira maior. Atualmente só não perde para as do Maranhão, Piauí e Alagoas. O PIB da Paraíba era muito superior aos do Maranhão e do R.G. do Norte. Deixou de ser. O PIB do primeiro desses estados supera o paraibano em 40%.

Não é de estranhar que a Paraíba detenha os piores indicadores de condições de vida, no precário contexto nordestino. As suas taxas de mortalidade infantil, analfabetismo e déficit habitacional estão entre as quatro mais altas. O nível de escolaridade e a expectativa de anos de vida não são dos melhores. Tudo isso malsina os paraibanos com um Índice de Desenvolvimento Humano que é o quarto menor do País.

A Paraíba passou a depender muito do setor público. As atividades das administrações públicas, atualmente, respondem por 33% do PIB estadual. Em 1970 esse percentual era de 14%. No Brasil e no Nordeste, a contribuição dessas atividades na formação do PIB se elevou de, respectivamente, 9% para 16% e de 13% para 23%.

Essa dependência excessiva do setor público demonstra a fragilidade da economia paraibana. Faltam-lhe os fundamentos de um setor produtivo privado dinâmico como base do crescimento sustentável e do desenvolvimento socioeconômico estadual.

 A Paraíba parece ter se acomodado, com os paliativos das políticas assistenciais do Governo Federal. Mais de 40% de suas famílias vivem do programa Bolsa Família. A economia paraibana é o elo fraco do capitalismo brasileiro. Sem essa transferência governamental direta de renda, além de outras, a situação de pobreza dos paraibanos seria comparável à dos anos 1950. Esses anos, como se sabe, foram de convulsão social e política, diante da miséria e falta de perspectivas econômicas, em todo o Nordeste.


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