Ana Adelaide

Professora doutora pela UFPB.

Geral

NATAL ÀS AVESSAS


21/12/2003

Foto: autor desconhecido.

Sempre tive uma relação conflituosa com o Natal. Se por um lado sempre entrei no clima, ficava estressada, armava árvore, comprava presentes, embalagens criativas, cartões para longe, para perto, telefonemas de Feliz Natal, jingle bell e providenciava ceia (nos últimos anos), por outro me debatia para ficar alheia a tudo, fazer um ar blazé de quem não liga. Invejava minha amiga Rosa, que se isenta dos festejos consumistas. Sonhava em não comprar nada, vestir roupa normal de todo dia, enfim! Mas nunca consegui! No máximo a minha transgressão aparecia numa árvore de galho seco com laço de jornal, embalagem com papel crepom, cartões artesanais feitos até por mim, umas saladas mais extravagantes que terminavam sobrando, pois as pessoas não dispensam o tradicional peru à California.
    
Ainda na transgressão, há alguns anos, organizei um amigo secreto no trabalho, no qual as pessoas não teriam de dar presente tradicional, mas alguma coisa que soubesse fazer. Um amigo oculto de Vale tudo! Espalhei pelos 4 cantos do meu Departamento que podia cantar, fazer biscoito, recitar poema, fazer doce de jaca, enfim, soltar o/a artista que cada um tem dentro de si…Foi super legal, e teve de um tudo, desde toálias bordadas à quindim caseiro. Eu resolvi fazer o que mais gosto:dançar! Mas na hora agá, o meu amigo, que sem saber da minha coreografia improvisada, saiu antes da festa. Quando dei por falta da sua presença fiquei indignada, e em sinal de protesto dancei para os demais. Foi um presente coletivo e pelo menos demos muitas risadas.
    
Este ano, afinal, consegui a façanha de finalmente ficar fora do Natal. Não foi bem uma escolha, mas uma contingência. Como estive ocupada com outras prioridades, só essa semana a minha cabeça chegou em dezembro, sim porque até então estava eu ainda na primavera! Que liberdade ficar fora do Natal! Via a propaganda dos shoppings e ria sozinha: Ah! Ah! Nem é comigo! Fui a cidade ontem, que aflição ver aquele formigueiro de gente empacotada, crianças chorando, as mães- cala boca menino! provadores entupidos, cabides voando, feliz 2004 escrito por todos os lados das camisetas, o cd de Roberto Carlos em todas as sacolas, e o peru da sadia rindo à toa, ou chorando glu glu glu! Estava realizada. Até que enfim um Natal calmo, um presente para um filho, outro para o amor, um para mim – mereço! Um panetoni para tomar com café e uma caixinha de tâmaras que adoro! O frenesi das compras passava pela minha janela e eu alheia, aérea e feliz.

Mas ontem tive uma pequena recaída. Saí afoita pelos matos do Bessa, atrás de um garrancho para uma árvore de natal. Quem já se viu Natal sem papai noel! Passamos a tarde pendurando os penduricalhos natalinos e não é que a árvore ficou linda! E agora quando ouço noite feliz, fico com os olhos cheios d’água, e reconheço que livre do Natal tá difícil. Entreguei os pontos e pronto!

FELIZ NATAL PARA TODOS!


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