Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Política

Morrer do próprio veneno


01/03/2020

O historiador, produtor cultural e advogado Rui Leitão

A sociedade brasileira está correndo o risco de morrer do seu próprio veneno. Há um ódio, estimulado pela mídia e por líderes políticos frustrados, produzindo a cizânia entre compatriotas. Já não se debate as questões da política. O ambiente beligerante instalado, induz à briga, às ofensas pessoais, às inimizades entre velhos companheiros e, até mesmo, nos grupos familiares. Estamos envenenados pela raiva ideológica.

O veneno da ira lesiona as consciências, deforma ideias e pensamentos, altera comportamentos. Encolerizados, perdemos o equilíbrio do racional, tornamo-nos reféns do fanatismo, cúmplices na promoção do caos. Quando o ódio se apossa da nossa forma de pensar, estamos abrindo mão da capacidade de racionar com lucidez e chegamos, inclusive, a ter dificuldade em perceber a realidade. Somos dominados pelos impulsos da paixão, sem medir consequências.

O Brasil contemporâneo está contaminado por esse veneno: o ódio. Há uma postura coletiva de bêbados insensatos. Não quero isentar qualquer dos lados políticos dessa contenda, quanto a intoxicação nociva desse veneno. Ambos agem como se a guerra fratricida fosse o caminho da solução dos nossos problemas sociais, econômicos e políticos.

Essa luta não pode ter vencedores e perdedores. O ideal é que ninguém saia perdendo, mas a julgar pelos acontecimentos todos nós sairemos derrotados. O abismo está a nossos pés e não queremos enxergar, pois recusamos a nos dar as mãos para evitar que caiamos nele. Nenhuma crise se resolve a partir da conflagração nacional. Antes pelo contrário, a observação da “luz no final do túnel” está na solidariedade, no desprendimento, na renúncia dos interesses pessoais em favor das demandas sociais.

Se não houver esse entendimento da necessidade de desarmar os espíritos, estaremos condenados a morrer do próprio veneno. O medo deve dar lugar à esperança. O desamor deve ser substituído pelo afeto e o respeito fraterno. A fúria deve ser contida no encontro da paz. Livremos nossas consciências da poluição da violência. Fujamos das atitudes insanas, antes que nos destruamos uns aos outros. Levantemos a bandeira da concórdia. Exercitemos o debate propositivo, não a discussão irracional e apaixonada. Busquemos o antídoto que nos libertará desse veneno (o ódio político) que está ameaçando de morte nossa democracia e nosso sentimento de nacionalidade.


O Portal WSCOM não se responsabiliza pelo conteúdo opinativo publicado pelos seus colunistas e blogueiros.
Os comentários a seguir são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.
// //