Rômulo Polari

Professor e ex-reitor da UFPB.

Geral

João Pessoa: Reestruturação urbana


09/09/2016

Foto: autor desconhecido.

A população de João Pessoa, 802 mil habitantes, é mais que o dobro da que era há 30 anos. Houve uma grande expansão não planejada da ocupação espacial e econômica da cidade, sem os necessários investimentos públicos em condições básicas. Gerou-se, assim, um enorme passivo histórico de reestruturação e equipamentos de uso coletivo, além dos problemas da mobilidade humana.

As insuficientes dotações de infraestrutura de João Pessoa oneram pesadamente a grande maioria da população. Sem uma atuação firme, com vistas à solução dessa problemática, haverá uma degradação acelerada anunciada da vida urbana. Um tanto mais sabendo-se que, nos próximos doze anos, a cidade terá mais 200 mil habitantes, 60 mil destes até 2020.

Em geral, a cidade tem notórias carências de sistema de esgoto sanitário, ruas pavimentadas, drenagem, iluminação, limpeza e acessibilidade aos portadores de necessidades especiais. Houve alguns avanços, em relação a esses aspectos promotores de bem-estar, mas foram seletivamente concentrados. Desrespeitou-se o virtuoso princípio de democratização das melhorias.

As gestões municipais sempre deram mais atenção à urbanização das áreas da orla marítima e dos bairros das classes mais ricas da cidade. Houve negligência em relação aos bairros onde moram as pessoas pobres e de renda média baixa, que representam mais de 80% da população. É, também, muito preocupante a degradação da cidade antiga, após décadas sem os adequados investimentos de manutenção, recuperação e revitalização.

 

Cidade  

 

Total de ruas

 

Ruas não pavimentadas

 

Atendimento água tratada

 

Atendimento esgoto tratado

População bairros da Zona Sul  (Est.2016)

População bairros da Zona Oeste (Est.2016 

J.Pessoa 6.800 2.250 100% 66,9% 400.000 190.000

A maior prioridade na reestruturação urbana da cidade tem que ser para os bairros das Zonas Sul e Oeste. Aí estão cerca de 74% da população e 70% das ruas não pavimentadas. A taxa de atendimento com sistema de esgoto é muito abaixo da média municipal e parte da rede implantada não tem ligação. Esses bairros que, nos últimos 20 anos, receberam a grande expansão da cidade formada por habitantes de baixa renda continuam com ruas esburacadas, lama, poeira, iluminação precária e sem calçadas. 

A administração de João Pessoa deve adotar as seguintes ações nos bairros das Zonas Sul e Oeste: a) pavimentação asfáltica de ruas e avenidas de chegada e pelo menos duas paralelas a estas e as transversais interligadas, com calçadas acessíveis às pessoas com deficiências; b) calçamento de ruas internas que tenham esgoto ou sejam rotas de transporte público; c) pavimentação das vias de acesso aos PSF, UPA, hospitais, escolas , creches e órgãos de segurança; d) implantação de praças e equipamentos de esporte, cultura e lazer e e) criação de sistemas de drenagem e iluminação pública de alto padrão de eficiência e qualidade.

O futuro prefeito de João Pessoa deve viabilizar junto ao governo do Estado, para os bairros das Zonas Sul e Oeste, avanços na implantação de redes de esgoto e oferta de água, energia elétrica e equipamentos de segurança pública. Essas ações são fundamentais para o desenvolvimento urbano atual e expansão futura.

A cidade antiga está se acabando e, com ela, a memória da fundação de João Pessoa e da Paraíba. Quem caminha pelo Varadouro, da Ponte Sanhauá à Rua da República e ao Porto do Capim e adjacências da velha Alfândega, tem a impressão que aquela região sofreu bombardeios aéreos. Só restam escombros de antigas fábricas – Matarazzo, de bebidas, beneficiadoras de algodão/sisal, curtumes, etc.- e muitos prédios públicos históricos.

É preciso recuperar e revitalizar essa relíquia da capital paraibana. Isso deve ser feito com um competente projeto de desenvolvimento, a partir do seu patrimônio simbólico e histórico-cultural. O objetivo é criar um complexo socioeconômico com reserva ecologia e atividades turísticas, artísticas, culturais, esportivas e de lazer integradas aos Rio Sanhauá, Porto do Capim e comunidade local.

A gestão do Município 2017-2020 deve reduzir significativamente as atuais deficiências infraestruturais, concretizando as seguintes metas: a) pavimentar/calçar 750 ruas, com calçadas, iluminação, etc. e b) aumentar para 80% o atendimento com sistema de esgoto tratado. Para tanto, no que compete à PMJP, torna-se indispensável executar investimentos no quadriênio da ordem de R$ 400 milhões. Sem contar com recursos do governo federal será difícil realizar 50% dessas metas.

A prioridade atribuída à cidade antiga e aos bairros das Zonas Sul/Oeste se justifica pelos seus imensos problemas urbanos e pela importância que têm para a expansão socioeconômica municipal. Outras áreas que vão atender a essa expansão, as do Aeroclube, Bessa e Jardim Ocoeania, são menos carentes de infraestrutura. É claro que todos os bairros das Zonas Norte/Leste devem, necessariamente, ser abrangidos pelas propostas apresentadas.
 


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