Rômulo Polari

Professor e ex-reitor da UFPB.

Geral

João Pessoa: (I)Mobilidade Urbana


03/09/2016

Foto: autor desconhecido.

Nas duas últimas décadas, João Pessoa passou de pequena para cidade de expressivo médio porte, sem planejamento nem melhoria dos padrões de gestão. As dificuldades urbanas e socioeconômicas se agigantaram. As causas são várias: explosão demográfica, debilidade econômica, baixa capacidade da PMJP de investimentos, aprovação de projetos relevantes junto ao governo federal e de execução dos mesmos.

Uma vasta gama de problemas básicos infelicita a vida dos pessoenses: precárias condições de mobilidade humana; insuficiência de infraestrutura e condições urbanas essenciais; alto deficit habitacional; degradação urbana e socioeconômica dos bairros e comunidades pobres; educação e saúde municipal ineficiente e carente de meios.

Há um caos precoce da mobilidade urbana de João Pessoa, com seus 211 km² e 802 mil habitantes, julho/2016. Recife, com 218 km², só chegou a essa situação com população, dimensão econômica e frota motorizada que são mais que o dobro das da capital paraibana. Nesta, a expansão e modernização do sistema de transportes públicos, ruas, avenidas, alças, corredores, viadutos, etc. ficaram muito aquém das necessidades.

Cidade

Área

Km²

População

jul-2016

No Veículos

2016

PIB 2013

R$milhões

J. Pessoa 211 801.718 347.354 14.843
Recife 218 1.625.583 659.145 46.445


A mobilidade urbana arcaica de João Pessoa impõe pesados custos privados e sociais. O tempo médio de transporte por deslocamento entre pontos da cidade é excessivamente alto. O sistema de atendimento e acesso aos usuários é péssimo. A circulação de veículos em geral enfrenta frequentes e duradouros engarrafamentos. Isso só se resolve com inovação e racionalização das condições básicas e de funcionamento.

As soluções devem contemplar as seguintes ações sinérgicas de curto, médio e longo prazo: a) implantação do novo sistema de transportes públicos; b) reorganizações técnico-materiais específicas; c) criação de novas vias interligando as áreas leste, oeste, norte e sul da cidade e os bairros e d) desenvolvimento e autossuficiência dos bairros.

A curto prazo, duas ações primordiais: a) implantar o sistema de BRT/PAC da Mobilidade Urbana de João Pessoa, com terminais de integração, corredores e modernas estações de acesso e comodidades aos passageiros: Corredor Cruz das Armas, Corredor Pedro II, Corredor Epitácio Pessoa, Corredor 2 de Fevereiro e Corredor Tancredo Neves e b) criar alças, giradores, elevados e vias opcionais integrados às Avenidas Epitácio Pessoa, Rui Carneiro e Beira Rio, Bairro dos Bancários e adjacências.

A médio prazo, outras ações convergentes devem complementar o Sistema Municipal de Trânsito operado com BRT. Trata-se de novos caminhos adicionais de mobilidade: a) do centro para as zonas sul e oeste da cidade inclusive com grandes vias elevadas sobre o vale do rio Jaguaribe; b) do centro para as zonas leste e norte incluindo modernas vias e, avançando do final da Tancredo Neves à esquerda, com passagens sub ou sobre a BR 230 e c) de Tambaú-Cabo Branco-Altiplano com novas vias interligadas às áreas da UFPB, UNIPE e aos Bairros Bancários-Mangabeira-Valentina Figueiredo.

As ações de médio prazo devem incluir novos e modernos meios – vias, ruas, avenidas, calçadas, viadutos, pontes, elevados, etc.- interligando, por dentro, muitos bairros: a) da Zona Sul, Geisel-Zé Américo-Costa e Silva-Mangabeira-Valentina-Gramame-Planalto da Boa Esperança-Paratibe, etc. e b) da Zona Oeste, Jaguaribe-Alto do Mateus-Rangel-Cristo-Cruz das Armas, Oitizeiro, etc.

Essas ações de curto a médio prazo são portadoras de soluções para o futuro de João Pessoa com o seu um milhão de habitantes, que terá daqui a 12 anos. Mas, nesse longo prazo, o coroamento da adequação da mobilidade urbana da cidade dar-se-á com o desenvolvimento de conjuntos integrados de bairros, criando neles condições de produção, comércio, serviços, emprego, renda, e acesso à justiça, educação e saúde.

É fundamental sanar erros urbanísticos históricos que departamentalizaram a ocupação da cidade. Isso tornou cada vez mais distante entre si os locais de trabalho, de residência e de oferta de serviços de educação, justiça, saúde e médico-hospitalar, etc. É indispensável criar superintendências de desenvolvimento por grupo de bairros vizinhos, apoiadas em inovadores aparato legal e suporte fiscal-financeiro municipal e estadual às políticas de fomento econômico local e à implantação de serviços básicos.

Para os anos 2017-20, esta proposta para a mobilidade urbana de João Pessoa demanda a execução de investimentos da ordem R$ 350 milhões. Sem recursos do governo federal nada acontecerá. Mas é verdade que, para obtê-los, a gestão municipal precisa demonstrar que é capaz de conceber e apresentar os competentes projetos e executá-los. Há muito por fazer para se alcançar esse nível de competência e eficiência.
 


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