Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Geral

Já esquecemos a Somália?


19/10/2017

Foto: autor desconhecido.

 

A seletividade da cobertura jornalística nos eventos que se configuram tragédias consideradas históricas no mundo, faz com que a comoção coletiva fique na dependência do que repercute a mídia tradicional. Nos abalamos emocionalmente na conformidade da repercussão da notícia. A solidariedade humana, portanto, se mostra de acordo com o impacto que nos causa a tragédia divulgada. Se o noticiário não coloca dimensão de catástrofe ao acontecimento, pouco nos sensibilizamos com suas conseqüências em desfavor das vítimas.

Vejo com tristeza que o atentado terrorista do último sábado na capital da Somália, onde mais de 500 pessoas foram mortas ou feridas em estado grave, sem precedentes na sua magnitude na história daquele país, já saiu das manchetes dos jornais do mundo inteiro. Diferentemente das ocorrências semelhantes na Europa e nos Estados Unidos, o terrorismo praticado na África não mereceu da imprensa o mesmo destaque.

Somos forçados a acreditar que se trata de uma manifestação racista, por tratarem-se de negros que vivem num país distante geograficamente do primeiro mundo, onde a fome, a seca, as guerras e o sofrimento, sejam algo natural na vida daqueles que vivem num estado permanente de horror e caos. O que é profundamente lastimável.

Porque não observamos um movimento “je suis Somália”? Como explicar o silêncio ensurdecedor da mídia a respeito? São eles seres humanos diferentes porque vivem num país africano, pobre e submetido a uma anarquia política? Vimos alguém colocar a bandeira da Somália no seu perfil do facebook?

São perguntas em que as respostas nos deixam conscientes de que as dores manifestadas em solidariedade às vítimas dos atos terroristas são muito mais atitudes de falsa comoção ou protagonismo de espetáculos que possam gerar mais conteúdo jornalístico.


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