Ana Adelaide

Professora doutora pela UFPB.

Geral

EU ACREDITO EM MURIÇOCA!


16/02/2004

Foto: autor desconhecido.

Esta crônica foi publicada no Jornal O Norte, na Quarta feira de fogo de 14 de fevereiro de 1996. Re-publico hoje, em homenagem aos 18 anos do Bloco Muriçocas do Miramar.

A primeira vista, esse é um slogan no mínimo esquisito. Depois de tantas crenças…,acreditar em fada, duende, etc tudo bem, agora em Muriçoca…Pois é, mas em João Pessoa, acreditar em Muriçoca é acreditar na capacidade das pessoas para se auto-organizarem em prol da alegria. É confiar nos seus organizadores: Bob Záccara, Vitória, Fuba, e cia; é investir no carnaval; é resgatar uma festa popular que agora já conta com mais de 40 blocos: e viva o folia de rua (Buda Lira, e Cia). Acreditar nas Muriçocas é achar que o amor é lindo! É ter esperança, apesar de tudo.

Eu, particularmente, acredito nas Muriçocas, com todos os zumbidos! Saio no bloco também há dez anos (hoje 18) e quero aqui neste espaço aplaudir e reverenciar o bloco, seus criadores, sua poesia e principalmente a importância do bloco no resgate do carnaval de rua de João Pessoa.

Sair nas Muriçocas é muito mais que sair num bloco e brincar o carnaval; sair nas Muriçocas é ir para a concentração às 7 da noite (de fantasia de preferência), rodar para lá e para cá, da casa de Vitória para Padaria saudando a vizinhança; sair nas Muriçocas é chegar mais cedo na casa de Vitória e compartilhar do burburinho das maquiagens, um whisky aqui e um pouco do sopão para aguentar a folia; sair nas Muriçocas é pular Maestro Vilô, e cantar Fuba até ficar sem voz; sair nas Muriçocas é ficar a semana inteira bolando uma fantasia, que não custe nada, que já tenha os adereços no baú e que você saia linda ou horrorosa, mas original; sair nas Muriçocas é se emocionar com a saída do bloco, com os fogos e os estandartes, acreditando que o show vai começar; sair nas Muriçocas é sair a pé, no imprensado, suando, pulando, delirando, perdendo o sapato com o pé na multidão; sair na Muriçoca é gostar da rua, do anonimato, do sem plumas e nem paetês…sair nas Muriçocas é não precisar de cordão de isolamento, é confraternizar com o desconhecido, dividir a cerveja, comungar do mesmo frevo; sair nas Muriçocas tá parecendo até religião?! Não deixa de ser, um ritual, uma celebração, um culto – à alegria!

Sair nas Muriçocas é levar 4 horas do Miramar ao busto de Tamandaré, atrás do trio elétrico, subindo e descendo a ladeira da Epitácio, exorcizando os demônios, lavando a alma, tomando um porre e principalmente brincando o carnaval: leve, solta, livre e de graça! Merecemos essa festa! Sair nas Muriçocas é Ter mais emoção com a chegada na praia, mais fogos, papelzinho picado dos prédios, toda uma platéia esfuziante, aplaudindo aquele formigueiro de gente dançando; sair nas Muriçocas é tomar banho de mangueira dos Bombeiros, para refrescar o calor e baixar o fogo da cachaça, borrar a maquiagem, colar a roupa no corpo e sair pinotando pela avenida; sair nas Muriçocas é chegar morta-viva no Bahamas, exausta, perdida de todos, faminta, embriagada de tanta festa e de tanta folia. Sair nas Muriçocas é não lembrar onde deixou o carro, e…de repente lembrar que deixou sabe lá onde… andar, andar, andar, quem sabe de volta até o Mirarmar…
Sair nas Muriçocas é voltar para casa sem saber mais de que é a sua fantasia, cantando baixinho: `João Pessoa sonha…´ Sair nas Muriçocas é ter acreditado que na falência do carnaval de Clube, do cansaço de brincar em Olinda, havia espaço vazio a ser preenchido.

Eu mesma `Acredito nas Muriçocas´ e vou fazer tudo isso hoje à noite. E você, acredita em Muriçocas? Muriçocas do Miramar, parabéns!


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