Rômulo Polari

Professor e ex-reitor da UFPB.

Geral

(Des)Ajustes econômicos


29/01/2016

Foto: autor desconhecido.

Os países desenvolvidos, desde 2008, enfrentam altos deficit públicos e desemprego, taxas reais de juro negativas e tendência à recessão e deflação. A economia brasileira, nos últimos três anos, entrou em rota de desequilíbrio, com o agravante de ter os juros mais altos do mundo e fortes pressões inflacionárias, mesmo com recessão.

No Brasil, nada de relevante foi feito para o ajuste econômico. O que se tem de concreto são os pesados custos pagos pelos pobres e pessoas que dependem de benefícios públicos. Essa fase dos efeitos perversos, mesmo que fosse inevitável, deveria ser de curtíssimo prazo e não de longa duração.

Os problemas econômico-financeiros brasileiros atuais são os que eclodiram em 2014, em escala ampliada: o deficit público passou de 6% para 10% do PIB, a inflação de 6,4% para 10,7% e o desemprego de 5% para 10%. O PIB não conseguiu manter a taxa de crescimento de 0,1% daquele ano e acumula uma queda de quase 4%.

Se os dirigentes e empresários do país continuarem na mesmice de até agora, a crise se tornará mais profunda e duradoura. É ilusão pensar que a solução depende apenas do governo. Os problemas exigem ações solucionadoras simultâneas, sincrônicas e sinérgicas do governo e da iniciativa privada.

As políticas governamentais não podem seguir teorias econômicas que não conseguem explicam os desequilíbrios e crises das economias nacionais, no contexto da globalização. Esses saberes tornaram-se ideologias travestidas de ciência para defender determinados interesses econômico, sociais e políticos.

O deficit público e a inflação são sínteses e causas básicas da crise brasileira. As políticas fiscais e monetárias recessivas aumentam essas forças danosas. À luz das velhas teorias, esses seriam os ônus de curto prazo em troca dos ganhos de longo prazo. Isso carece de sentido, nos casos em que o prazo dos danos corretivos não é curto e a pretensa solução faz o deficit público anual crescer de 3 a 4 pontos percentuais do PIB.

As atividades produtivas não podem se pautar pela lógica do sistema financeiro. Este, não raro, planta cenários futuros adversos para justificar juros que engordam os seus lucros, sem ponderar os problemas que gera. Não é razoável que as expectativas de taxas de juros e inflação tenham por base a bola de cristal de algumas dezenas de profissionais a serviços de instituições financeiras e crédito.

Os juros atuais usurpam absurdamente as finanças públicas e os ganhos do capital produtivo e do trabalho. Governo e empresários dos setores produtivos devem ter como objetivo maior a redução da taxa de juro Selic. Não se trata de forçar o Banco Central fazer isso na marra, mas sim de evitar a ditadura das expectativas de mercado feitas de acordo com a visão de alguns especialistas e os interesses que defendem.

As condições reais para a saída da crise foram criadas: alto desemprego, queda do salário, capacidade industrial ociosa e situação cambial favorável às exportações. Mas a recuperação econômica pode não acontecer, se as taxas de juros não caírem. Chegou a hora de exigir algum esforço dos rentistas, especuladores e dirigentes de bancos e instituições financeiras.


O Portal WSCOM não se responsabiliza pelo conteúdo opinativo publicado pelos seus colunistas e blogueiros.
Os comentários a seguir são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.
// //