Ana Adelaide

Professora doutora pela UFPB.

Geral

De Festejos & de Melancolia


27/12/2017

Foto: autor desconhecido.

Final de ano. Tempos em que algumas pessoas se angustiam. E que outras dizem que são datas como outras quaisquer. Sou do primeiro time. Mas já dissipei a angústia. Hoje mais não. Entrego-me aos ventos festivos. Confraternizo. Mais ainda comigo mesma. Aproveito. Abraço. Leio mensagem. Agradeço. Vou ao mar, mergulho, e saúdo o horizonte. E brindo à vida. Seja ela qual for. Como posso, a que foi possível re-inventar, digo como um mantra.

2017 foi um ano difícil. Ano de tantas tristezas políticas. Perdas. O futuro na escuridão. Particularmente, vi um projeto escorregar pelo ralo. Retrocessos, e muitos na área da cultura e comportamento. Fiquei muito abismada com tudo que ouvi e vi. A intolerância a quebrar todos os códigos de civilidade. Tudo isso nos deixa cabisbaixos e aflitos. Inseguros e com medo. Medo do ano que se inicia. Ano de eleições e dos oportunistas que querem porque querem pegar a onda no vácuo.

Este ano me aposentei. Provo até agora do prazer de não trabalhar formalmente. Preparei-me pra isso. Subjetivamente . Não sou uma pessoa cautelosa. Tive perdas sim. A conta ficou mais magrinha. Os dias sem rotina acadêmica. Sem o convívio com os colegas e o organograma interno dos dias. Em compensação, acordo mais tarde, tudo sem tanta pressa, posso ir à praia na segunda, tomar cerveja na quarta, e ficar em casa no sábado. A liberdade é azul! Gosto disso. Não tenho problema com a reclusão. Nem que me esqueçam por não estar nos corredores. Gosto do anonimato do meu quintal. Escrevo. Leio. Ocupo as horas. Ou não. Des-ocupar é bom também. Por vezes me sinto uma monja, não necessito da vida do trabalho. Esse dito institucional. Meu trabalho é etéreo. Se dissipa no ar. Observo o mundo!

Minha mãe fez 90 anos. Está bem de saúde, mas claro, com as limitações do tempo. E vê-la com todas as suas dificuldades com a finitude, me faz pensar na minha. E na brevidade da vida. Tudo tão breve! Sonhamos que temos controle. Nenhum!

Falam que no facebook somos todos felizes. Não somos. Mas postamos a nossa felicidade comezinha dos dias. Dividimos nossos flashes – de viagens, de comida, de netos, de frases, de coqueiros, de filmes, para nos comunicarmos com a “vizinhança”. Se estamos tristes e sorumbáticos? Como falar disso para amigos que não temos? Amigos imaginários? E quem nessa vida quer ouvir nossas lamúrias de cada dia?

Ainda estou a comer peru do Natal. Ainda a tomar Espumante e Gin tônica, vindo das terras Galesas. Pensando na nova temporada de Outlander. E fervendo de calor do verão que se anuncia já quente. Fora do ar do noticiário pois são tempos de rua. Vai e vem. A Praia do Bessa cheia de sargaços, me deixo embriagar pelo cheiro de maresias da infância. Da Praia do Poço e de Formosa. Saudades dos meus queridos que se encantaram. E tantos outros igualmente queridos. O Farol do Bar das Meninas. O meu farol! Sem rumo.

Sim, fico melancólica com os festejos. Diria que, até triste. A gastura do vivido. Do irreversível. Das saudades infinitas. Mas, do topo de quem já viveu uns anos, me entrego também à abstração. Ao mistério. Ao imensurável. Ao inefável. E à todas as palavras que só André Ricardo Aguiar para brincar com a poesia dos sons. Eu só leio. E me abasteço nas coisas boas que me cercam. O amor dos meus filhos. O das minhas irmãs. Dos amigos queridos. Da Natureza. Da lua que começa a encher diante das ondas. E da noite do próximo ano que se anuncia. Da minha cama tão imensa e do meu sono apaziguado. E dos sonhos, claro. Sem eles ninguém sobrevive.

E só. Por hoje. E pelo ano que termina.

Que venha 2018! Pode vir quente que eu estarei fervendo. À beira mar!

Feliz Ano Novo!

Ana Adelaide Peixoto – João Pessoa, 26 de dezembro, 2017
 


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