Rômulo Polari

Professor e ex-reitor da UFPB.

Geral

Crise econômica: missão cumprida


06/05/2016

Foto: autor desconhecido.

A evolução da economia brasileira, nos últimos dezesseis meses, sintetiza um quadro grave: queda do PIB em mais de 5%, aumento do desemprego, de 5% para 10%, do déficit público, de 6,2% para 10% do PIB, da inflação, de 6,4% para 10%, da taxa básica de juros, de 11,75% para 14,25%, e da dívida pública de 64% para 70% do PIB.

Em 2016, o Brasil pode completar dois anos seguidos de recessão, acumulando uma redução da ordem de 7% do PIB. Algo aproximado só ocorreu sob os efeitos da Grande Depressão de 1929, com o encolhimento econômico de 2,1%, em 1930, e 3,3%, em 1931, o que equivaleu a 5,3% no biênio.

É exagero atribuir o malogro econômico do país à atuação do segundo governo Dilma Rousseff. Até porque esse governo nunca teve 20% do poder que normalmente deveria ter no regime presidencialista brasileiro. A sua capacidade de aprovação e execução de política econômico-financeira, fiscal e monetária foi praticamente zero.

Essa falta de governo foi obra de um processo político lesivo aos interesses do país. Formou-se no Congresso Nacional uma esmagadora força de oposição ao Poder Executivo. As ações antigoverno alcançaram o seu objetivo, o impeachment da presidente Dilma, mas contribuíram muito para a atual crise econômica.

 A guerra política impediu a aprovação pelo Congresso do plano de ajuste fiscal e desinflacionário do ministro Joaquim Levy. Com esse ajuste, o crescimento econômico teria voltado no final de 2015. Mas o governo Dilma não podia ter chance de dar certo; esticaram a corda demais: derrubaram a presidente e a economia do país.

A economia brasileira não deixou de ser viável. Isso talvez se confirme até mesmo no governo Michel Temer, sabidamente emergencial e sem legitimidade eleitoral. Ironicamente, coube ao (des)governo Dilma, dito de esquerda, criar as condições básicas à recuperação na linha neoliberal: capacidade produtiva ociosa, desemprego, arrocho salarial e desvalorização cambial.

Esse cenário favorece a rentabilidade e motivação dos empreendedores privados. É, também, compatível com o êxito das políticas governamentais voltadas ao crescimento econômico e ajuste fiscal-monetário. Essa tarefa, pela sua grande dimensão e complexidade, envolve estratégias e ações de curto, médio e longo prazo.

O que deve ser feito é de amplo conhecimento. É preciso sair da situação de deficit para um superavit fiscal primário convergindo para 1,5% do PIB, em 2018. Ao mesmo tempo, o deficit público nominal deve cair de 10% para 4% do PIB, sob os efeitos da queda da conta de juros pagos pelo setor público de 9% para 5,5% do PIB.

De junho/16 a dezembro/18, a recuperação econômica será beneficiada pela sua atuação de causa e efeito em relação à queda da taxa de juro selic para 8% e da inflação para 5%. A prosperidade a longo prazo requer modernização da infraestrutura, adequadas reformas tributária, trabalhista e da previdência e avanço cientifico tecnológico e educacional.
 


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