Geral

CENSURA, DIVERSÃO E ARTE


18/09/2017

Foto: autor desconhecido.

{arquivo}

Os equívocos do que é, ou não é arte, não são de hoje. Lembro-me de um artigo do poeta Ferreira Gullar que questionava uma dessas chamadas obras que lá estava num canto da Bienal, no Ibirapuera. Era nada mais, nada menos que uma frigideira e um ovo sendo frito. Fui lá conferir e tive oportunidade de ver muito mais que simples propostas que mais pareceram aberrações, coisas sem mínima importância ou descartáveis, lixo mesmo.


Noutra oportunidade um artista (?) perverso encontra na rua um cachorro, resolve amarra-lo a uma corda e coloca-lo num canto de sala na exposição até que definhando chegue à morte. Claro, antes passando pela tortura de sede e fome, de urinar, obrar, urrar e contorcer-se e tudo o mais…


Até onde vai o nosso inconsciente ou até que limite dispõe é uma linha tênue. Onde era sim, hoje pode ser não, e vice-versa. O mundo muda, os conceitos vão se adequando, adaptados a cada época, cada cultura, cada situação… O uso do corpo, ou uma máquina de datilografar, uma caneca, um tubo de creme dental, um absorvente usado, projeções nas oito paredes de uma sala, gritos, arames, raízes de árvores expostas, etc., tudo pode ser entendido como arte, ou criticado.


Parece que o propósito fica mesmo contido dentro do ego, da necessidade que a maioria dos artistas tem em destacar, em apresentar como que um diferencial, mesmo que esse diferencial sirva apenas para debates em manchetes passageiras de mídias virtuais sem significar vanguarda.


Refiro-me aos casos recentes de exposição, de um grupo de mulheres que entra em cena num palco, urinam nas calças e saem de cena. E o top case do banco Santander, com a exposição de quadros que lançavam mão de propostas sensuais com sexo explícito, estupro, pedofilia, blasfêmia, etc., e que causou nas redes sociais esta semana, até o ponto de o banco decidir encerrar.


Uma amiga nos escreve apelando para a volta da censura. Outros comentam nas redes questionando a liberdade de expressão. Vai com isso um bom debate e um lixo indizíveis, de horas energias gastas, sem se chegar a um objetivo. Não sabemos por quanto tempo aquilo terá tenacidade em nossas mentes. Se será útil, se terá sido apenas um momento, um flash, um desejo de vanguarda, uma provocação inconsciente, um estorvo subconsciente do artista. Não sabemos os propósitos do curador, nem o compromisso religioso dos que criticam. Nem se Jesus teria relacionado com homoafetivos, se teria sentido culpa, nojo, prazer, se os teria perdoado achando caber dentro d fragilidade do pecado. Ou se isso é pecado, ou se aquilo merece tanto destaque. Enfim…


EM TEMPO: Postamos uma tela da exposição de Pedro Correia de Araujo (foto) – Eróticos, em cartaz no MASP, e o Face book retira e me manda mensagem informando que restringiu, pois a imagem trazia conteúdo sensual. Ops! Uma tela com trabalho de arte, uma negra nua, sentada, sem maiores insinuações…??? Ui! Censura Digital. Sinto-me no BIG BROTHER, sendo vigiado 24 horas. O que é isso? Voltamos à Ditadura de 64, ou aquilo nunca acabou? Não evoluímos, o mundo não progrediu em conceito social? Há o falso moralismo rondando…


Continuando – O respeito tem também nesse cenário, curva ascensional impondo corresponder. A ditadura individual de cada internauta faz blasfemar, atirar, denegrir. Ou elogiar, clamar pela livre liberdade de expressar, e outras defesas. Enfim, já dizia o poeta, que a gente não quer só comida, a gente quer também diversão e arte. E nesse momento temos um grande mix de Censura, diversão e arte. Divirtam-se!

Gil Sabino é jornalista e gestor de marketing.
g.sabino@uol.com.br
 


O Portal WSCOM não se responsabiliza pelo conteúdo opinativo publicado pelos seus colunistas e blogueiros.
Os comentários a seguir são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.
// //