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CÁTIA DE FRANÇA É A PRÓPRIA MÚSICA


02/12/2017

Foto: autor desconhecido.

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               A percepção que a artista Cátia de França tem de mundo talvez não seja a mesma que nós, a maioria de humanos, tem em relação a tudo o que há ao redor. Está claro isso nas letras, nos poemas, na musicalidade, na força empreendida pela cantora através de sua obra. O olhar ao redor do sol, o verde e o azul que misturam-se ao amanhecer na Ponta do Cabo Branco que em ouro se torna, talvez não tenha a mesma graça, a mesma razão, a mesma serenidade, a mesma sensibilidade dos olhares de quem de frente para o mar…


Na semana que se passou Cátia de França se apresentou no espaço Capitão Farinha, em Jaguaribe, de muito bom gosto, e próprio para abrigar a cena cultural com profundas raízes de um bairro que teve estima pelas artes e trouxe importantes nomes para destacar a partir da Paraíba. Confesso que a emoção me tomou ao vê-la interpretar Ponta do Seixas, revolvendo em mim através de lágrimas todo um tempo vivido/nascido neste ponto oriental e a vontade de um dia voltar..Sim, um dia vou voltar….


A Paraíbatem sem dúvida muitos artistas inteligentes. Nenhum porém se iguala a força poética de Cátia de França na solidão de versos que buscam arranjados em tons de riqueza maior, de sapiência, de veracidade, de sagacidade, de resistência, além de um lúdico indizível. São quatro jogadores, Kukukaya, sentados nessa mesa para jogar. Sim, são quatro cabras de peia, de riso dócil, de rima fácil…

A música de Cátia de França mostra um blue jazz num sei de onde como se fosse ela mesma a origem desses ritmos, embalando misturados ao coco, ao maracatu, ao repente, ao canto umbandístico para relembrar a negritude, e a afro descendência em nós. Cátia é grande, é simples, é profunda. Cátia é lenda, é viva, é a própria música…


Uma senhora contando 70 anos, em cena, em pleno vigor, gritando, revolucionando, tirando casquinha da maldade, impondo versos da mais alta nobreza literária para questionar a tirania, a perversidade, uma mulher desafiando o tempo e a tudo e a todos que jogam contrário. Uma cantora, compositora, uma pessoa ligada no seu tempo sem dar falsa folga a ninguém.


Cátia de França, a quem agradecemos o prestígio de poder ouvi-a rara e bela, tenaz, grande mulher, grande tesouro da música popular paraibana para o mundo. Valeu!


*Cátia de França se apresenta neste sábado 02.12 no Café da Usina Energisa, e domingo 03.12, as 19 H., n´A Budega Arte Café, no bairro dos bancários. Vale conferir.


Gil Sabino é jornalista e gestor de marketing – g.sabino@uol.com.br


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