Paraíba

Caetano, entre a ditadura e a esperança


09/09/2020

Acompanho o trabalho de Caetano Veloso desde criança. Era o tempo dos grandes festivais de música, ao vivo, transmitidos em preto e branco pela TV Record, de São Paulo. Grandes nomes da MPB saíram daqueles festivais como Chico Buarque, MPB4, Nara Leão, Elís Regina, Simonal, Jair Rodrigues, Geraldo Vandré, Caetano Veloso e Gilberto Gil, e outros.

Lembro bem de “Alegria, Alegria”, primeiro grande sucesso de Caetano, e “Domingo no Parque” de Gilberto Gil.

De 1964, ao longe, trago lembranças de alguns entraves entre estudantes e a Polícia, na Lagoa. Fuzis apontados, gritos, estudantes correndo, pancadaria, etc. Só anos depois viria entender que se tratava de movimentos e ações da ditadura militar.

Há quase três anos, fui convidado a participar de um evento da ADULF PB, na UFPB. Na época desenhavam-se no cenário nacional, cortes na educação, e apareciam nos muros das cidades, pixações sugerindo a volta dos militares e da ditadura. A direita botava as unhas de fora através de movimentos de apoio ao impeachment da presidenta Dilma Rousseff, tirar Lula de cena, e coloca-lo na prisão, para logo eleger presidente o Jair Bolsonaro. Deu no que deu…
Minha fala naquela tarde iniciara com um alerta: A ditadura mata. Some com estudantes presos, trabalhadores, militantes.

Mais adiante, pedia aos presentes orientar em casa aos mais jovens, explicando sobre a ditadura militar que durou 20 anos no Brasil, até restabelecer-se a democracia e seus direitos conquistados.

Dua de 7 de Setembro, assisti através da Globoplay, ao filme Narciso em Férias, dos diretores Ricardo Calil e Renato Terra, produzido por Paula Lavigne, que apresenta o artista Caetano Veloso em longa entrevista falando sobre como se deu sua prisão, e a do amigo e parceiro Gilberto Gil, em 1964.
O depoimento de Caetano Veloso, rico em detalhes e reflexões, é corajoso, belo, emocionante. Um documento necessário para as novas gerações, para novos políticos, que sequer imaginam o perigo da entrega de nossos valores culturais e violação dos nossos direitos, adquiridos após anos de luta e sangue, sofrimento e dor.

Narciso em Férias, é sem dúvida alguma, um dos mais importantes filmes já produzidos desde aquela época sobre registro, não apenas da histórica prisão de Caetano Veloso e Gilberto Gil, como também do abuso perverso e imbecil, horrendo, estúpido, praticado pela ditadura.
É importante avaliarmos o cenário do que aí se encontra, o estado de miséria, as favelas, a violência, as crises sanitárias à nossa porta, a ignorância, a falta de educação e a desesperança de muitos.

Ainda sobre Caetano, na semana passada, no programa Conversa com Bial, da rede Globo, ouvimos dele uma surpreendente mensagem de otimismo, de um homem aos seus 78 anos, pregando esperança a um país que possa vir salvar o mundo.

Foi esse gesto de Caetano, que me chamou atenção, e revelou o amadurecimento de um homem que, apesar de ter sofrido o desespero daquela prisão, soube, com o tempo, superar e nos entregar o melhor de sí, através de sua poesia, de suas letras e música, e da sua imensa alegria que nunca tira ferias. Viva Caetano!


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