Ana Adelaide

Professora doutora pela UFPB.

Brasil

Bruno & Dom


09/07/2022

O indigenista Bruno Araújo Pereira, da Fundação Nacional do Índio (Funai), e o jornalista inglês Dom Phillips, colaborador do jornal The Guardian, desapareceram no Vale do Javari, na Amazônia Reprodução

“Quem constrói um legado não morre. É semente. Nós seremos floresta.” Adriana Carranca.

Uma semana de horror e barbárie. Assim como todo o Brasil também chorei em choque com essa tragédia anunciada. Choro. Insônia. Ânsia. O sangue na floresta! Uma dor. Uma dilaceração. Uma indignação e uma vergonha por termos um des-governo que desmantela, que aniquila e que desdenha da dor do Brasil e dos brasileiros. Num desrespeito criminoso em relação a esses dois heróis da Amazônia, brutalmente assassinados – Bruno Pereira e Dom Phillips.

Uma “pequena” amostra da violência e assassinatos – Pedro Teixeira, Margarida Alves, Chico Mendes, Eldorado dos Carajás, Dorothy Stang, Marielle, Anderson Gomes, Maxciel, Bruno Pereira, Dom Phillips e mais 22 pessoas assassinadas só em 2022.
”Se eu assumir {a presidência do Brasil} não terá mais um centímetro para terra indígena” Dourados (MS) – 08.02.2018. “Os índios não falam nossa língua, não têm dinheiro, não têm cultura. São povos nativos. Como eles conseguem ter 3% do território nacional?” Campo Grande News 22/04/2015.

“Malvisto esse Inglês, ambos, os dois”; sem nomes; aventura; excursão; “Amazonia é do Brasil e não de vocês!” silêncio abismal; escárnio; lugar de fala do garimpeiro; atraso nas investigações; mentiras deslavadas.

Com essas declarações de um presidente da república, nenhum mistério é tão misterioso assim. Um quebra-cabeças que sabemos montar. Sinto dificuldade de articular as ideias. Tudo me vem também como um tiro. Ou muitos. Vários. No meu coração. Morremos todos um pouco: Passar a boiada! Desaparecidos. Funai. Vale do Javari. The Guardian. Material orgânico. Bomba para asma. Mochila. Tenis. Polícia Federal. Indígenas. “Remanescentes humanos”. Perícia. Oseney. Amarildo. Pelado. Churrasco. Jefferson. Ameaças de mortes. Mortes anunciadas. Corpos esquartejados. Comunidades Ribeirinhas. São Rafael. Atalaia do Norte. Vestígios. Um barco desgovernado. Floresta. Rio. Ameaças. Univaja (Organizações Indígenas do Vale do Javari. Indígenas isolados. Garimpo. Grileiros. Pesca e caça ilegais. Madeira. Tráfico de Drogas. Rio Itaquaí. Irregularidades. Crimes. Estado de Exceção. Boris Johnson profundamente preocupado. Estado paralelo. Abandono. Crime. Cartel. Soberania Nacional. Demarcação das terras indígenas. Afrouxamento deliberados. Fronteira. Território. “Tá Avisado. Melhor se aprontarem!” Assassinos. Extermínio. Brasil, quarto país que mais mata defensores dos Direitos Humanos. Política que promove ataques à legislação ambiental. Narcotráfico. Quadrilhas. Tiros. Barbárie. Fragmentos corpos. Espingardas de caça. Acuados. Um barco submerso cheio de areia. Encontrado. Caixões. Corações dilacerados.

Bruno Pereira, servidor público exemplar indigenista respeitado. Bruno, a mãe arara da canção do ritual da Ayahuasca dos Kanamari. Um Santo branco, alto e barbudo. Uma música sagrada. Demitido da Funai por fazer o seu trabalho. Desbaratou o garimpo ilegal. Destruiu balsas. Bruno cantando com os indígenas no rio. Bruno brincando com os povos isolados. Bruno falando as suas línguas. Bruno lutando pela proteção desses povos. Bruno acuado. Assassinado. Esquartejado. Afundado. Escondido. Seus espíritos passeando pela floresta. Autoridades ausentes. Silêncio. Silêncio. Nenhuma palavra. Nenhuma atualização. Nenhum pedido desculpas. Nenhuma empatia. Nenhuma solidariedade. Indígenas não presentes na coletiva de imprensa. Indígenas esquecidos. Apagamento histórico. Desmonte. Jandiatuba, Curucá, Ituí. Operação Korubo.

Dom Phillips. Jornalista apaixonado. Segundo a sua amiga jornalista Sylvia Colombo, curioso, há 15 anos desbravando o Brasil – do rock, do funk, das comidas, do futebol, da música, da periferia do Rio, do samba e finalmente da Amazônia. Sim Inglês. Educado. Comprometido. Bem visto. Sempre. Querido. “Amazônia sua linda!”

Um canto na floresta. Um canto que lotou as páginas do Instagram e do Facebook. Uma dor dilacerante. Um país que sangra. Os brasileiros solidários sangram. Choram. Alessandra. Beatriz – Nossa solidariedade e Nossos Sentimentos.
“Agora podemos leva-los para casa e nos despedir com amor”

Obrigada Bruno e Dom. Pela continuação das investigações. Justiça!

Ana Adelaide Peixoto – João Pessoa, julho, 2022


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