Rômulo Polari

Professor e ex-reitor da UFPB.

Geral

Brasil sem choro nem vela


24/12/2015

Foto: autor desconhecido.

O Brasil enfrentou, em 2015, uma de suas maiores crises econômicas. Os desequilíbrios internos tornaram-se imensos e as taxas de juro, inflação, deficit público, desemprego e queda do PIB muito altas. Foi o auge da inviabilização do modelo econômico apoiado na forte atuação do governo, sem as devidas correções.

O (des)ajuste fiscal vem sendo feito pelo lado dos cortes de despesas, já que o Congresso não aprovou o incremento das receitas. Isso fez crescer ainda mais o deficit fiscal e as taxas de juros e inflação. Os investimentos e consumo privados caíram, ampliando os efeitos econômicos recessivos da queda das despesas governamentais.

As limitações do governo são evidentes. Com juros básicos de 14,25% ao ano, a expansão dos seus gastos e investimentos explodiria as finanças públicas. Nos EUA, Europa e Japão as ações anticrise, desde 2008, têm custos modestos. O monumental aumento das despesas dos governos foi financiado pela elevação de suas dívidas a juros anuais de, respectivamente, 0,25%, 0,05% e 0,1%.

O Brasil vive a crise pós-modelo do governo Lula, quando as benesses do mercado mundial favoreceram muito as receitas de exportações, entrada de capital e formação de reservas em dólares. Essa bonança viabilizou um alto crescimento do PIB, do emprego e dos salários reais, com superavit fiscal e fortes políticas de benefícios, distribuição de renda e inclusão social.

Essas condições deixaram de existir, a partir de 2012, gerando um cenário de baixo crescimento do PIB. O governo tentou reverter essa situação com aumento das despesas públicas, subsídios às empresas e políticas sociais. Os resultados foram estagnação econômica, aumentos dos deficit fiscal e do balanço de pagamentos, da dívida pública e das taxas de juro e inflação.

O modelo da era Lula se exauriu, e não surgiu um novo. A economia brasileira não avançou na imprescindível transição do modelo baseado no consumo para outro com ênfase no investimento voltado à reindustrialização e infraestrutura. Esse novo modelo exige atuação inovadora do governo inspirada no desenvolvimento econômico e defesa dos interesses nacionais no contexto da globalização.

A crise política brasileira agravou muito a crise econômico-financeira, ao inviabilizar a atuação do governo quando o país precisa dele para superar os impasses econômicos. Se a proposta de ajuste fiscal do ministro Levy tivesse sido aprovada pelo Congresso, as taxas de inflação e juro seriam menores. A recuperação econômica teria começado em setembro e o PIB crescido próximo de 0%, em 2015.

Em 2016 a economia brasileira pode sair da recessão, mas depende do seguinte: a) aprovação imediata das condições ao superavit fiscal da União; b) elevação dos investimentos e consumo privados; c) expectativas de queda da inflação e d) facilitação das exportações aproveitando o câmbio favorável. É fundamental que os políticos, Congresso e governo não atrapalhem os setores público e privado do país.

A recuperação sustentável de médio e longo prazo requer que o governo viabilize junto à sociedade e ao Congresso, para início em 2017, as seguintes medidas e linhas de reorganização socioeconômica duradoura do país: a) eficiência e controle dos gastos, dívida e deficit públicos; b) reindustrialização; c) elevação da produtividade; d) modernização da infraestrutura; e) universalização da educação de qualidade em todos os níveis e f) avanço na produção científico-tecnológica relevante.
 


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