Rômulo Polari

Professor e ex-reitor da UFPB.

Geral

Brasil: Desconstrução do futuro


04/08/2016

Foto: autor desconhecido.

O Brasil vive anos terríveis de sua história. O espectro do atraso voltou a nos rondar. As discussões sobre o país próspero dos nossos sonhos saíram de cena. Passamos a pensar cada vez menor. Não se fala mais em desenvolvimento. Já nos damos por felizes, se conseguirmos estancar a longa recessão que nos aflige.

Estamos empobrecendo a passos largos. Devemos fechar o triênio 2014-2016, com uma queda do PIB de 6,8% e um crescimento populacional de 2,7%, o que significa uma redução de 9,3% da renda per capita do país. É evidente que o mandamento nacional de primeira ordem é evitar que haja recessão em 2017. Isso seria um atestado de incompetência e irresponsabilidade política de consequências desastrosas.

Nos últimos anos, avançamos na desconstrução do país, ao invés de colocá-lo na fase de consolidação do desenvolvimento. A desindustrialização e a baixa produtividade sistêmica nacional sintetizam a extrema gravidade do problema. Temos um setor público ineficiente, que se apropria de um grande percentual do PIB, e um setor privado que não desenvolve, com devia, as forças produtivas da sociedade.

É triste ver que o Brasil, com a sua imensa dimensão, complexidade e viabilidade econômica, não tem dirigentes capazes de resolver os desequilíbrios e fiscais e monetários. Esses problemas têm se agravado, num contexto político de poderes executivo e legislativo em total dissintonia com os anseios presentes e futuros da Nação.

As elites políticas, econômicas, sociais e intelectuais do país insistem em pseudossoluções. São prisioneiras do curto prazo, com foco na crise fiscal e nas taxas de juro e inflação. Cuidam apenas da volta do crescimento econômico, que tende a ser insustentável, mesmo com as reformas tributária, trabalhista e da previdência.

É preciso muito mais, para viabilizar o desenvolvimento do país, no contexto da globalização. Isso requer estratégias de curto, médio e longo prazo, com vistas à incorporação contínua de avanços tecnológicos, ganhos de produtividade e geração de um crescente excedente econômico. Mas só haverá desenvolvimento com a democratização dos frutos do progresso para toda a sociedade.

Carecemos de um projeto nacional desenvolvimento compatível com a reinvenção do Brasil baseado nos seguintes objetivos: a) universalizar a educação de qualidade, por faixa etária adequada, em todos os níveis, b) avançar no domínio e produção de conhecimentos científico-tecnológicos modernos relevantes e c) superar o atraso socioeconômico secular do Nordeste.

Muito se fala dos danos da irresponsabilidade fiscal e nada sobre os danos do descompromisso com a reorganização socioeconômica duradora do país. Aliás, essas não virtudes são interligadas. A síntese do desajuste fiscal é a dívida pública federal de R$ 3 trilhões (50% do PIB), que se deve mais à capitalização de juros extorsivos do que à implantação de equipamentos, bens e serviços públicos essenciais.

Os problemas fiscais e monetários do Brasil são menores, comparados aos da desconstrução do seu futuro. Há uma enorme agenda de destroços relevantes: desindustrialização contemporânea, infraestrutura incompleta e insuficiente, baixa produtividade, crescente dependência científico-tecnológica externa e sistemas educacionais anacrônicos e ineficientes.
 


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