Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Política

As minorias sociais


24/04/2021

Interessante perceber que as minorias políticas estão representadas por maiorias populacionais. São agrupamentos humanos excluídos do processo de socialização, por motivos definidos na conformidade dos padrões elitistas estabelecidos pela hegemonia das classes dominantes. Uma expressiva maioria que, paradoxalmente, se inclui entre os que politicamente são considerados minorias, no sentido da recepção dos benefícios sociais, afastada do protagonismo dos sistemas de poder e marginalizada pela dominação ideológica do capitalismo.

As massas de populações pobres vivem mal, sem que a elas sejam dadas as chances de superarem suas condições de vida. Historicamente têm negados seus direitos básicos. Num país como o nosso, onde a desigualdade social é expressiva, torna-se cada vez mais evidente a ausência da voz ativa deles para intervenção nas instâncias decisórias de poder. No campo político possuem pouca representatividade.

As minorias sociais, aí incluídos os agrupamentos compostos por negros, mulheres, indígenas, imigrantes, homossexuais, idosos, portadores de deficiência, moradores de rua, etc., sofrem processos de estigmatização e discriminação, em desacordo com o que se possa compreender como uma justa vivência democrática. Ficam, portanto, à mercê de uma grande vulnerabilidade social e são tradicionalmente tratadas como subalternas em nosso país, em afronta ao princípio constitucional da igualdade.

Há a necessidade imperiosa de ações afirmativas voltadas ao combate da discriminação social e racial no Brasil. Numa democracia legítima é inadmissível que não sejam respeitados os direitos das minorias. Lamentavelmente, vem se intensificando um discurso reacionário que classifica as políticas de inclusão social, reivindicadas pelas minorias, como ideário de esquerda, pautas de “comunistas”. A guerra ideológica que vivenciamos na atualidade concorre para que se produzam esses discursos equivocados, mas propositadamente pronunciados pelos poderosos de plantão.

O ativismo político das minorias é visto como ameaça aos privilégios das classes dominantes. Os grupos minoritários, quando organizados, lutam por reformulações na estrutura social, o que, consequentemente, gera reações dos que usufruem de privilégios concedidos pelo sistema político vigente. A vertente política que defende a manutenção do “status quo” se sente provocada e procura desestabilizar esses movimentos que trazem como bandeira de luta, principalmente, o combate às desigualdades sociais. Daí a dificuldade de se construir a democracia social. Isso jamais acontecerá enquanto não for transformada essa cultura de resignada subalternidade das minorias sociais desamparadas pelas políticas públicas.

Rui Leitão


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