Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Geral

Ainda existem esquerda e direita?


06/12/2011

Foto: autor desconhecido.

 

 

Já se passaram mais de duzentos anos dos fatos históricos que definiram a dicotomia esquerda/direita que até hoje estabelece as diferenças do espectro político no mundo. Originariamente eram apenas cadeiras distintas na Assembléia Legislativa Francesa, onde os “jacobinos”, os representantes da pequena e média burguesia e do proletariado sentavam-se à esquerda e os “girondinos”, os representantes das elites à direita. Os primeiros representavam a mudança, combatiam os privilégios aristocráticos ou eclesiásticos da época enquanto seus opositores surgiam como os defensores da ordem , da conservação.

Ao longo da história essas denominações passaram a definir os novos posicionamentos políticos e ideológicos antagônicos. Os socialistas se proclamavam de “esquerda” e os capitalistas de “direita”. A esquerda sempre postulando criar um novo mundo liberto das influências maléficas das elites. A direita assumindo posições intransigentes na defesa dos seus interesses em detrimento das massas. O mundo se dividiu : na esquerda, o “bloco soviético”, que se dizia comunista, na direita, o “ocidente capitalista”, que se dizia democrático.

A “direita” e a “esquerda” se transformaram em rótulos para convencionar discursos e posturas políticas, sem qualquer conteúdo preciso. Ambas sofreram inúmeras variações e combinações ao longo dos últimos séculos. Parâmetros morais e concepções intelectuais definiriam as posições assumidas pelos agentes políticos. A história nos mostra revoluções de esquerda feitas por temperamentos de direita e governos de direita comandados por temperamentos de esquerda.

A queda do muro de Berlim e o desaparecimento da União Soviética, deram fim a essas diferenças tão marcantemente perceptíveis. Os conceitos de esquerda e direita passaram a ser meras ficções. As velhas ideologias que representavam não oferecem respostas para o mundo de hoje.

No mundo contemporâneo, ser de “esquerda” representa dizer: progressista, humanista, pessoas que têm alta sensibilidade social. Enquanto ser de “direita”, é ser egoísta, retrógrado, conservador, autoritário, reacionário, insensível
aos problemas sociais. Estigmatizaram a direita.

Assim, ninguém quer ser, assumidamente, de direita. Apontar alguém como de “direita” é xingamento.

Todos os políticos ou partidos, pelo menos no Brasil, se auto proclamam de esquerda. Quando não podem, por sua história ou discursos, se afirmam de “centro esquerda”.

O pensador Jean Madiran diz: “A distinção entre a esquerda e a direita é sempre uma iniciativa da esquerda, feita pela esquerda e em proveito da esquerda. Há uma direita na proporção em que uma esquerda se forma e a ela se opõe.”

Fica, portanto, difícil definir hoje com absoluta clareza e convicção quem é esquerda ou direita. O falar e o agir políticos se mesclam e se confundem. A pregação ideológica da esquerda enquanto aspirante ao poder se perde no exercício dele quando conquistado. Os conservadores, ou os de “direita”, como prefiram chamar, não assumem seus discursos enquanto postulantes de cargos políticos.

Os intelectuais, que formam a grande massa dos que se dizem esquerdistas, nunca aceitarão esse questionamento de que a atualidade não permite mais essa dicotomia no espectro político.

A verdade é que há uma confusão ideológica, as concepções originárias de esquerda e direita não têm mais sentido.

Me apontem alguém que se defina como de direita. Esse, se for político, está fadado a perder qualquer eleição que disputar.

Daí a pergunta que merece uma reflexão desapaixonada. Ainda existem esquerda e direita?.

 


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