Geral

A VIRADA CULTURAL


14/07/2015

Foto: autor desconhecido.

             Trabalhamos durante anos em multinacionais do disco (EMI, BMG, Sony, etc.), quando ainda as peças industriais eram fabricadas em vinil, e distribuídas em belas artes de LPs que traziam para o mercado a voz e sucessos de artistas embalados pela arte de Elifas Andreato, Noguchi e muito outros. Walter Santos, Carmélio Reinaldo, Francisco TICO Pinto, Carlos Aranha e Alberto Arcela, Anchieta Maia, Gerardo Rabelo e Jurema Filho, amigos desde então, lembram bem quando nos anos 70/80 entrávamos nas redações para divulgar lançamentos de Gismonti, Gonzaguinha, Ivan Lins, Djavan, Clara Nunes, Simone, Milton, Beatles, McCartney, Stones, Queen, e muito outros com suas sofisticadas capas que davam água na boca.

Foi justamente nessa época que despertamos interesse por artistas do mundo regional e após alguns anos, ao assumir a direção artística da Rádio Arapuan, quando ainda instalada na Av. Trincheiras, abrimos portas para tocar no rádio FM, nomes como Cida Lobo, Limusine 58, Dida Fialho, Tadeu Mathias, Bráulio Tavares, Glória Vasconcelos, Chico César, Cátia de França, Elba e Zé Ramalho, Vital Farias, e Herbert Viana (Paralamas), estes cinco últimos já com seus LPs gravados pela CBS, Polygram e EMI, enquanto os demais a ousadia me dera à experiência de lançar em modestas fitas cassete demos. Lembro, ainda, quando fui chamado pela diretoria geral da rádio na figura do finado Aloizio Moura, e perguntado se queria acabar com a audiência da rádio (preconceituosamente) dando lugar de destaque a artistas da terra.

Mais tarde um pouco, já próximo de partir para outras terras e correr mundo, tivemos a oportunidade, digo, o desafio, em parceria com o amigo, diretor e ator Fernando Teixeira, de juntar numa só noite os novos nomes da MPB da Paraíba para realizar o espetáculo SEXTA FEIRA 13, com cartaz de autoria de Pedro Osmar. Uma coletiva com brilhante apresentação de Ednaldo do Egypto, participação de Quinteto Itacoatiara, Cachimbinho e Geraldo Mousinho, Hugo Leão, Zé Wagner (o índio de Tambaba), Paulo Ró e Jaguaribe Carne, Chico César, Fuba, Bráulio Tavares, Tadeu Mathias, Jarbas Mariz, Livardo Alves, e muito outros, num evento que superlotou o Teatro Santa Roza e concorria com a audiência da TV Globo, exibindo a final do Festival MPB Shell.

Toda essa crônica me vale para dizer da vontade que sempre dispomos em colaborar com os nossos valores artísticos, sem discriminar, sem pré conceituar. Apenas buscando o novo, descobrindo e redescobrindo talentos. Sem se furtar da responsabilidade em abriga-los de igual tamanho as estrelas que vinham de fora. Naquela época a dificuldade era ainda maior pela falta de recursos técnicos, superada pelo tempo.

Foram-se os tempos, alguns nomes migraram para o sudeste, outros foram para a Europa, etc. Hoje temos ai diretorias de cultura com muito mais apoio e recurso do que naquela época, podendo contratar orquestras internacionais, promover festivais de verão com nomes do estrelato nacional e outras atividades. Continua a velha discussão quanto à forma de tratar e promover e proteger nossos valores. Entendemos que uma diretoria de cultura serviria muito mais para organizar e incentivar os artistas, cada qual em suas áreas de atuação, sem criar barreiras ou qualquer tipo de dificuldade. Afinal, é com o dinheiro público de impostos que pagamos produção e cachês.

Estamos retornando para novos diálogos. Ao receber a noticia da possível realização da Virada Cultural em João Pessoa, ficamos alegres e otimistas, fazendo voto de apoio para a participação e foco no artista local. Tem muita gente nova que precisa ser revelada para o mundo.

Gil Sabino é jornalista e gestor de marketing. g.sabino@uol.com.br


O Portal WSCOM não se responsabiliza pelo conteúdo opinativo publicado pelos seus colunistas e blogueiros.
Os comentários a seguir são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.
// //