Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Política

A recompensa pré-ajustada


02/12/2020

Brazil's Justice Minister Sergio Moro attends a session of the Public Security commission at the National Congress in Brasilia, Brazil May 8, 2019. REUTERS/Adriano Machado

Vamos analisar o que vem a ser uma recompensa. Ela funciona sempre como um prêmio por algo que foi feito em benefício de alguém ou de uma causa. A retribuição por serviços prestados. Uma compensação pelo esforço feito, embora nem sempre dentro dos padrões da normalidade. Algumas vezes ela acontece voluntariamente por reconhecimento de quem recebeu os favores ofertados. Outras vezes elas são resultado de negociatas. Um acerto prévio de que, em acontecendo os fatos conforme ajustados, a premiação estará garantida.

A realização de uma determinada tarefa previamente pactuada, pode ensejar uma retribuição vantajosa. São vários os tipos de recompensa: dinheiro, um melhor emprego ou um presente desejado. Quando se faz por merecer em razão de uma ação espontânea, sem pedir nada em troca, é procedimento digno de aplausos. No entanto, quando observamos nitidamente um jogo de interesses antecipadamente formalizado, é atitude própria de corrupção, indecência de ambas as partes, o que oferta a recompensa e o que a recebeu.

Mais grave ainda quando o beneficiário da contrapartida se apresenta como defensor da ética e da moralidade. A realidade se distanciando do discurso e da prática. O conceito de integridade é desprezado. Porém, numa sociedade corrompida fica difícil perceber as manobras que produziram o “toma lá, dá cá”. Muita gente fica cega para enxergar a trapaça articulada com antecedência e passa achar tudo muito natural. Até aclama a premiação por achar justa.

Ser enganado pelas aparências deixa o indivíduo sem qualquer capacidade de análise consciente do que está acontecendo às suas vistas. Duvide daqueles que se autoafirmam probos, íntegros, incorruptíveis. Não confie no falso moralista. Suspeite das retribuições mascaradas de galardão. Por trás pode estar o efetivo cumprimento de um esquema preconcebido.

A propósito muito estranha essa contratação do ex juiz Sérgio Moro como sócio diretor de uma consultoria norte-americana que advoga a recuperação judicial de empresas como a Odebrecht e outras quebradas pela ação da Lava Jato e sentenciadas por ele. E ainda há quem ache isso tudo muito normal e tenta justificar uma atitude como essa. Vai agora para o outro lado do balcão com um salário milionário, levando para seus patrões informações privilegiadas que só a força tarefa da Lava Jato tem. Um lobista de luxo.

Rui Leitão


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