Rômulo Polari

Professor e ex-reitor da UFPB.

Geral

A economia quer sair da crise


15/07/2016

Foto: autor desconhecido.

 A economia brasileira, diferentemente da política, não tem vocação suicida. Os seus fundamentos dão sinais de vida de um sistema produtivo cuja lógica e razão de ser é a dinâmica expansiva. Trata-se de emanações das chamadas forças dos mercados capitalistas. Até porque, nos últimos 18 meses, as ações do governo foram pró-recessão.

O capitalismo brasileiro, como os demais, é contraditório e tendente à crise. Isso é comprovado historicamente, assim como também é a sua capacidade de reinvenção dos meios de convivência com as contradições. Afinal, a quem interessa um sistema capitalista que não viabiliza a expansão contínua da produção e acumulação de capital?

Os indicadores da inflação, dos juros e do PIB são compatíveis com a recuperação econômica do país. A meta de inflação feita pelo governo e acatada pelos mercados é em torno de 5% em 2017 e de 4,5% em 2018. A previsão do governo para o crescimento da economia, no próximo ano, é de 1,2%; o mercado prevê até 2%.

A política de juros do Banco Central (BC) é ultraconservadora. A manutenção da taxa Selic em 14,25% ao ano, muito acima das expectativas racionais, dificulta a recuperação econômica. O BC impôs, assim, juros de curto prazo absurdos. Os mercados já operam com elevada queda das taxas de juro para prazos mais longos.

O governo Temer e sua equipe econômica nada fizeram para essa melhoria conjuntural do Brasil. A desinflação deve-se muito ao fim dos efeitos da correção dos preços administrados (energia, água, combustíveis etc.), que tinham elevado a inflação de 6% para 10%, e à forte recessão que comprimiu a demanda por bens e serviços.

A retomada do crescimento vem com a evolução do ciclo econômico. Após dois anos de forte queda do PIB, chegou-se ao início da fase ascendente, com a volta dos investimentos de reposição e a recomposição dos níveis de estoque. Favorecem, também, a recuperação o aproveitamento da capacidade ociosa, o excelente desempenho da balança comercial e a queda do salário real.

É claro que o governo, pela sua péssima situação financeira, pouco pode fazer para fomentar a economia. Mas ajudará muito se não atrapalhar a provável volta do crescimento. Daí porque, não há como justificar a taxa básica de juro acima de 14%, quando a inflação caiu de mais de 10% para 7%, e vai cair muito mais.

O atual governo do país, mesmo sem a legitimidade que só a eleição pelo voto confere, tem muito apoio no Congresso Nacional e nos partidos. Isso faz parte do acordão pró-impeachment da presidente Dilma Rousseff. O presidente Temer é obediente às forças políticas desse acordão. Mas quem disse que as demandas e necessidades dos novos donos do poder se confundem com as da sociedade?

Essa base política do governo acomodará poderosos interesses na condução das reformas tributária, trabalhista e da previdência. Por aí, não é de bom tom que, nas condições atuais, se viabilize um crescimento econômico de 2% em 2017e de 3% em 2018. Isso desmontaria o discurso ideológico de que aquelas reformas têm que ser fortes, na redução de direitos trabalhistas, e fraca da progressividade tributária.
 


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