Saúde

Associada a atos violentos, esquizofrenia não tem cura mas pode ser controlada

Saúde


08/02/2014



 Há quase uma semana, o cineasta Eduardo Coutinho foi morto a facadas no Rio de Janeiro. O assassino confesso é seu filho, Daniel Coutinho, que segue preso. Vizinhos chegaram a afirmar que o rapaz seria esquizofrênico e usuário de droga. Porém, a informação foi negada pelo delegado responsável pelas investigações, mas a polícia informou que entrará com pedido de exame de sanidade mental.

O psiquiatra Ary Gadelha da Unifesp (Universidade de São Paulo) afirma que pessoas com esquizofrenia “não tendem a atentar contra a vida dos familiares”. Porém, é “comum a tentativa de suicídio”.

— Os sintomas mais conhecidos da esquizofrenia são os delírios e as alucinações. Eles sofrem de uma alteração de pensamento onde acreditam estar sendo perseguidos, ou acham que estão ouvindo vozes. Esquizofrênicos não acham que estão sendo perseguidos, eles têm certeza.

Existem três tipos de sintoma, os positivos caracterizados por delírios e alucinações, e os negativos “que provocam o esvaziamento do afeto”, de acordo com Gadelha. Segundo o médico, 0,7% da população do Brasil sofre desta condição mental.

— A esquizofrenia é uma doença heterogênea e, muitas vezes, os pacientes só tem os sintomas iguais. A maioria dos esquizofrênicos não consegue desenvolver vidas independentes e 80% dos pacientes terão sintomas graves e dependerão de remédios e cuidados pela vida toda. Os outros 20 % têm uma vida mais independente, já que os sintomas são mais brandos.

Segundo a médica chefe da psiquiatria da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro, Fátima Vasconcellos, o esquizofrênico acredita em outra realidade. No caso de Daniel Coutinho, ele “dizia que ia se matar e não queria deixar os pais desprotegidos, por isso que ele atentou contra a vida dos pais”.

— Um esquizofrênico mata para salvar, ele tem essa intenção. Ele não consegue desenvolver sentimentos concretos pela família, ele fica com os sentimentos embaralhados, com sentimentos ambivalentes de amor e ódio ao mesmo tempo. Basicamente, no caso do filho do Coutinho, provavelmente ele já havia pensado em se matar e tirar a vida dos pais para “salvá-los”. Na cabeça dele seria uma morte em que se buscava a rendenção.

Ainda na avaliação da psiquiatra, o crime teria acontecido “em razão da doença mental”.

— Naquele momento, ele estava privado de consciência, por isso não pode ser culpado pelo o que fez. O governo tem a obrigação de ficar com ele para tratamento.

O psiquiatra José Ari Carletti explica que o uso de drogas afeta a concentração de dopamina no cérebro, substância responsável pelo controle das crises.

— Por isso, um paciente com esquizofrenia é muito mais suscetível, pois a droga piora os sintomas da doença.

Tratamento

A esquizofrenia é uma doença crônica que uma vez diagnosticada é possível ser controlada, de acordo com Gadelha. Os doentes terão que tomar remédios por resto da vida ou por muitos anos.

— As pessoas que não se tratam têm maior número de crises e essas crises acarretam o empobrecimento intelectual e sintomas mais agudos. O remédio essencial é o anti-psicótico, pois eles controlam os sintomas e previnem as ocorrências das crises. O remédio sozinho não resolve tudo, a dificuldade em se reinserir na sociedade acarreta uma necessidade de acompanhamento psicológico, assim como o apoio da família.

Carleti explica que o paciente deve ser acompanhado por um psiquiatra, psicólogo, agente social, pois esses profissionais vão ajudar o paciente a se adaptar a sociedade.

Preconceito

Além do tratamento, um dos obstáculos que o esquizofrênico tem que lidar é o preconceito, explica Carletti.

— Existe muito preconceito sim contra os pacientes. Temos que saber que o paciente, se tratado adequadamente, pode ter uma vida normal. O ideal é ele desenvolver uma vida profissional e amorosa, sempre levando em conta que a esquizofrenia tem variações e, algumas delas, os sintomas impossibilitam essas relações.



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