Alek Maracajá

Analista de dados

Tecnologia

Marçal, a disputa em São Paulo e o “efeito bolha”


26/09/2024

A disputa pela prefeitura da cidade de São Paulo nas eleições de 2024 está se desenhando como uma das mais intensas do país, refletindo o cenário polarizado da política brasileira que ainda ecoa a polarização entre Lula e Bolsonaro. Um dos candidatos de destaque é Pablo Marçal, um influenciador digital e coach, que aposta em sua vasta base de seguidores nas redes sociais para alavancar sua campanha. Entretanto, o sucesso no ambiente digital não garante vitória nas urnas, especialmente devido ao fenômeno conhecido como “efeito bolha”.

O “efeito bolha” ocorre quando candidatos, como Marçal, constroem uma rede de apoiadores altamente engajados nas redes sociais, mas limitada a um nicho específico. Esse grupo de seguidores, embora pareça representativo do eleitorado geral, reflete apenas uma fração de potenciais eleitores, muitas vezes alinhados às mesmas ideias e ideologias do candidato. Assim, o alcance real da mensagem se restringe àqueles já convertidos, criando uma falsa sensação de ampla aceitação e popularidade.

Nas eleições de 2024, além de Marçal, outros candidatos com forte presença digital também enfrentam o desafio de sair dessa bolha para conquistar votos de eleitores fora de suas zonas de conforto. Esse é um problema que se agrava num contexto de polarização política, em que muitos eleitores se dividem entre os extremos representados por Lula e Bolsonaro. A herança dessa divisão, observada nas eleições anteriores, afeta diretamente o cenário municipal, fazendo com que o discurso moderado tenha menos espaço e a retórica polarizadora ganhe mais relevância.

O desafio para Marçal e seus concorrentes será não só diversificar suas bases de apoio, mas também encontrar formas de dialogar com eleitores mais heterogêneos, rompendo as barreiras criadas pelo “efeito bolha”. Isso exige uma segmentação de conteúdo mais refinada, capaz de atingir públicos diferentes, algo que já foi explorado com sucesso em campanhas internacionais, como a de Barack Obama em 2008 e Joe Biden em 2020, e até mesmo no Brasil por Jair Bolsonaro em 2018.

No caso de Marçal, sua estratégia digital precisa ir além do simples engajamento nas redes sociais ou da vontade de dialogar com os seus. Converter likes e seguidores em votos reais, é muito mais complexo do que polemizar ou surfar na onda da polêmica. Um exemplo disso foi o episódio da cadeirada. Embora, após a agressão, Marçal e Datena tenham sido os assuntos do dia, a polêmica gerou um engajamento negativo para Marçal, mesmo tendo sido ele a sofrer a agressão.

Entre os principais fatores que levaram a essa repercussão negativa para o cadidato de direita está, por exemplo, o desejo exacerbado em viralizar através de uma postura de mártir. Esse conjunto de acontecimentos (cadeirada + ambulância + internação + controvérsias quanto à existência ou não de uma fratura) ajudaram a colocar fogo na fogueira da polêmica. E, quanto mais o assunto repercutia, mais memes entravam para a corrente contra o coach. E o resultado foi este que apresentamos. A bolha com certeza foi furada, porém, a qual custo? Desta forma, o caso serviu muito mais de chacota da oposição do que de novo ânimo à campanha de Marçal.

E, para completar, o episódio ocorreu no melhor (ou pior) cenário possível: a disputa pela prefeitura de São Paulo, onde o eleitorado é diverso e as disputas locais nem sempre seguem a lógica nacional da polarização entre Lula e Bolsonaro. Assumo dizer ainda que o “efeito bolha” levou Marçal a acreditar num apoio muito além da realidade. Acredito que, se ele tivesse a real noção de sua força, teria agido com mais cautela e sabedoria para reverter o episódio ao seu favor. Afinal, ele foi a parte fisicamente agredida. Ou não?

Sendo assim, a disputa pela prefeitura paulistana em 2024 segue como um verdadeiro teste para candidatos que, como Pablo Marçal, apostam no poder das redes sociais. No entanto, o sucesso nas plataformas digitais não será suficiente se não houver uma estratégia sólida para ampliar o alcance para além da bolha e conquistar a confiança de eleitores menos engajados e mais críticos. Dessa forma, o desafio central será equilibrar a influência digital com um trabalho político que considere a diversidade do eleitorado e os diferentes contextos que compõem a cidade de São Paulo.


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