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Por que a Lagoa continua podre?


12/02/2021

Portal WSCOM



Na manhã do dia 25 de janeiro, a Lagoa do Parque Solon de Lucena amanheceu com centenas de peixes mortos e um forte odor de podre. Instigada pelo professor Francisco Garcia, do Núcleo de Justiça Animal NEJA/UFPB, incitamos o Laboratório de Ecologia Aquática da Universidade para investigar as causas do desequilíbrio ambiental.

 

Apesar dos peixes mortos terem sido recolhidos rapidamente, a Lagoa ainda exalava mau cheiro, dias após o incidente, e os peixes sobreviventes tentavam respirar à superfície, comportamento que indica a baixa oxigenação da água. No local, foram identificadas apenas tilápias dentre os peixes, espécie exótica, possivelmente introduzida após a obra de “restauração” da Lagoa.

 

O Laudo da Universidade  sobre a qualidade da água da Lagoa  foi entregue ao Secretário do Meio Ambiente, Welison Silveira, poucos dias após a mortandade.  Os dados atestam que a Lagoa se encontra eutrofizada, com elevadas concentrações de amônia, baixas concentrações de oxigênio e baixa transparência.

 

Por atravessar um período de estiagem, a Lagoa já suportava uma condição de estresse ambiental. Com o aumento das chuvas na semana anterior ao dia 25 de janeiro, houve um maior aporte de matéria orgânica, o que ocasiona o aumento da decomposição e induz à diminuição das concentrações de oxigênio abaixo do limite de tolerância dos peixes, que é cerca de 3 mg.L-1 para a maioria das espécies. A tilápia é uma espécie resistente, quando se registra mortalidade desta espécie é porque a situação de falta de oxigênio é muito grave.

 

Como valores elevados de amônia indicam poluição recente, é possível que haja um ponto de contaminação perto do local de amostragem, onde foi observada a entrada de águas residuárias na Lagoa, na altura do Mercado Central. Os valores elevados de fósforo total e de ortofosfato nesse local confirmam essa afirmação.

 

O período mais crítico para a mortalidade de peixes ocorre durante a noite. Mesmo de dia, pico de produção de oxigênio pelas algas, a água apresentou baixa oxigenação, por isso é vital que a fonte no centro da Lagoa permaneça ligada o dia inteiro, auxiliando à oxigenação, o que não estava ocorrendo.

 

A SEMAM não possui um setor que realize estudos de qualidade nem monitoramento da água e, por isso, necessita da parceria com a SUDEMA para investigar esse tipo de ocorrência. É oportuno que a comunidade científica também realize estudos paralelos, que ratifiquem os resultados oficiais.

 

A questão persistente é: por que depois de tanto dinheiro investido, a Lagoa permanece com péssimas condições ambientais? É tão difícil recuperar o ecossistema?

 

Mesmo se não houvesse entrada nenhuma de esgoto, haveria uma tendência ao aumento da eutrofização em períodos de estiagem. No entanto, com a entrada de águas residuárias, esse problema se intensifica.  É importante investigar a origem das águas que chegam na Lagoa e realizar um trabalho de biorremediação ou biomanipulação, junto ao monitoramento continuado.

 

Apesar de ser um ecossistema, a Lagoa está sob a tutela da Secretaria de Desenvolvimento e Controle  Urbano (SEDURB) e não da Secretaria do Meio Ambiente. “A Lagoa não é propriamente um parque no sentido ecológico, regrado pelo SISNUC, mas um equipamento público semelhante a uma praça com viés estético natural”, explica o advogado especialista em Meio Ambiente, Pedro Nóbrega, condição que desfavorece ao tratamento do ambiente originalmente natural.

 

Seria ideal que a SEDURB se responsabilizasse pelo controle urbano do entorno da Lagoa e a SEMAM pelo ecossistema da Lagoa. É o que pretende o secretário do Meio Ambiente: ao trazer a gestão da Lagoa para SEMAM, Welison assume sua meta audaciosa de converter a qualidade das águas da Lagoa adequada à pesca.

 

Seria um sonho cientificamente possível de realizar, segundo a professora Cristina Crispim, chefe da equipe de pesquisa do LABEA/UFPB, que oferece parceria para desenvolver projetos de tecnologias sustentáveis e baixo custo já testadas.

 

Dos parques e pontos turísticos da cidade, a Lagoa é um dos mais negligenciados e mal aproveitados, apesar de ter passado por uma “restauração” milionária nas gestões anteriores, ainda tem tudo para ser um belo local para o esporte e lazer.

Imagens: peixes continuam morrendo e outros tentam respirar à superfície, dias após a mortandade do dia 25 de janeiro (Fonte: Telton Ramos)

 


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