Internacional

Putin faz jogada de mestre contra Obama

Negóciação


13/09/2013

 A proposta russa de desmantelar o arsenal químico sírio é um golpe de mestre do presidente Vladimir Putin, que permite a ele se apresentar como o campeão do direito internacional. Mas a partida diplomática com os Estados Unidos está apenas começando e se anuncia mais difícil do que parece.

A jogada diplomática permitiu à Rússia, um dos principais aliados do presidente sírio Bashar al Assad, sair do isolamento diplomático dos últimos dois anos.

A proposta oferece uma saída honrada aos ocidentais, mas também permite ao Kremlin restaurar seu prestígio, adotando o papel de defensor do direito internacional.

Para aproveitar o efeito surpresa e a acolhida positiva de sua proposta, Putin publicou nesta quinta-feira (12) um artigo no jornal The New York Times com o objetivo de "se dirigir diretamente aos cidadãos e personalidades políticas americanas".

"Partimos do princípio de que, no mundo atual, complexo e cheio de turbulências, manter a ordem legal é um dos poucos meios para evitar que as reações internacionais se afundem no caos", afirmou Putin em seu texto com um tom mordaz.

— Não defendemos o governo sírio, mas o direito internacional.

O presidente russo adverte que utilizar a força fora da legítima defesa ou do âmbito de uma decisão da ONU "é inaceitável e constituiria um ato de agressão".

Putin também adverte sobre as consequências para a imagem dos Estados Unidos de uma nova intervenção militar.

— Na cabeça de milhares de pessoas do planeta, os Estados Unidos não são mais considerados um exemplo de democracia, mas um jogador que aposta exclusivamente na força brutal.

A reação ao artigo de Putin ocorreu ao longo de toda a quinta. O porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, disse em sua coletiva diária que “ao contrário de [o que ocorre na] Rússia, nos Estados Unidos defendemos os valores democráticos e os direitos humanos de nosso próprio país e ao redor do mundo".

Já o presidente da Câmara dos Representantes [Deputados], o republicano John Boehner, se declarou "ofendido" após a leitura do artigo do líder russo.

Observadores russos elogiam

Ainda que muitos americanos não tenham gostado das palavras de Putin, nesta crise a Rússia fez uma jogada genial, consideram os observadores russos.

"O plano permite que muitas pessoas salvem sua pele e saiam de um beco sem saída de forma elegante", afirma Fiodor Lukianov, chefe de redação da revista Rússia na Política Mundial.

— No entanto, a luta pela vitória política está apenas começando.

"No curto prazo, a iniciativa russa convém a todos, não pede nada impossível a ninguém", admite Andrei Baklitski, do Centro de Pesquisa Política da Rússia.

Mas a Rússia pode cair em sua própria armadilha, adverte Baklitski.

— Se a Síria começar a dissimular as armas químicas, a Rússia arriscará sua reputação. E, neste caso, não serão os Estados Unidos que terão que insistir para que a Síria cumpra com suas obrigações, mas a própria Rússia.

A primeira dificuldade será alcançar uma posição comum no Conselho de Segurança da ONU, afirma Lukianov.

— A batalha pela formulação será árdua. Os países ocidentais acreditam sinceramente que é preciso definir claramente uma nova “linha vermelha”, sem a qual, de seu ponto de vista, a Síria levará a comunidade internacional na conversa.

Para os analistas, a Rússia teme que a Síria cause qualquer tipo de embaraço, o que poderia ser interpretado como um pretexto para uma resposta militar.

“Justamente o que Moscou deseja evitar desde o início do conflito sírio”, afirma Lukianov.


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